O pedreiro Aloísio da Silva Bandeira foi morto a caminho do trabalho, com o dia ainda amanhecendo, a poucos metros de casa, em Novo Horizonte, na Serra. Mais um assalto, mais uma vítima da violência. Não há estatística que aponte a redução sistemática do índice de homicídios, no município ou no Estado, que seja capaz de amenizar a dor de uma família ao se despedir de um ente de forma tão abrupta. Enquanto houver uma perda humana nesses termos, qualquer comemoração deverá ser feita com o devido comedimento, em respeito à memória dessas pessoas e à dor de seus familiares.
Os avanços são inegáveis para um Estado que, por anos, se acostumou a ocupar a dianteira dos rankings nacionais de assassinatos. Há de se aplaudir a continuidade de políticas de Estado que conseguiram reduzir de forma tão considerável esses números. Foi o compromisso dos governantes com um legado de paz que abriu caminho para abater as taxas de homicídio no Espírito Santo desde o final da última década.
Dados mais recentes da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) deixam evidente a tendência de queda: enquanto em 2017 ocorreram 1.408 homicídios no Espírito Santo, no ano seguinte, 2018, foram 1.109. Mesmo que os números de 2017 tenham crescido como consequência da explosão de violência durante a greve da PM, em fevereiro daquele ano, a redução é ainda significativa. Foram os dias sangrentos daquele fevereiro que também colocaram Serra, Vila Velha, Cariacica e Vitória como destaques negativos no Atlas da Violência de 2019, divulgado na última segunda-feira.
Mas o sangue ainda escorre com uma frequência inaceitável. Na segunda-feira, um tiroteio no morro Boa Vista, em Vila Velha, deixou um homem ferido. Sons de tiros e bombas foram ouvidos por moradores. Demonstrações do poder paralelo, cada vez mais aparelhado, que se tornaram comuns em bairros da Grande Vitória, cenários da guerra de facções pelo controle do tráfico.
O Atlas da Violência também apontou a atuação de quatro organizações criminosas no Estado, com epicentro na região do Bairro da Penha, em Vitória.
Não é mera coincidência que, dos 40 bandidos mais procurados do Estado, 21 estejam ligados a essas facções. A reação do poder público tem tido destaque, com a criação do Grupo Integrado de Operações de Segurança Pública (Giosp), uma força de inteligência com foco nos chefões do crime organizado. Um grupo de elite que, espera-se, consiga se antecipar às ações desses criminosos. Desmobilizar essas facções é questão de primeira ordem.
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Mesmo com progressos, a sensação de insegurança não arrefece, afetando a qualidade de vida da população capixaba. Ainda não é possível que o cidadão caminhe nas ruas sem medo, que use transporte público sem estar sob constante apreensão, isso para citar só duas atividades cotidianas. A redução da criminalidade, em todos os seus graus, exige transformações estruturais, que abram portas para a justiça social.
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