O Espírito Santo caminha para terminar o ano com uma reviravolta inédita nas estatísticas relacionadas à segurança pública e ao trânsito. Como registrou Vilmara Fernandes, o Estado pode encerrar 2024 com menos de 900 homicídios, o que representaria o menor volume de mortes violentas intencionais já registrado em quase três décadas. Resultado de uma política consistente no combate à violência. O índice, porém, ainda não tranquiliza o governador Renato Casagrande. “É um avanço importante, mas não há comemoração nenhuma enquanto uma pessoa estiver perdendo a vida”, disse, durante a 19ª edição do Pedra Azul Summit, realizada pela Rede Gazeta.
A cautela do governador é compreensível. Afinal, a criminalidade ainda aflige a população no Estado, principalmente com os confrontos relacionados à guerra do tráfico. E ainda há um motivo a mais de preocupação. Enquanto o índice de homicídios cai, crescem as mortes no trânsito, como destacou Leonel Ximenes no último sábado (30).
Dados do Observatório da Segurança Cidadã, da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), mostram que, até outubro, foram registrados 710 assassinatos, uma queda de 12% em relação ao mesmo período de 2023. Já as mortes no trânsito chegaram a 820, número que já supera todo o ano passado, quando houve 818 mortes do tipo.
Trata-se de uma tragédia diária que só poderá ter fim com leis e fiscalizações mais rigorosas, além da educação para o trânsito. São formas de combater tudo o que é feito de errado ao volante ou sobre duas rodas. Comportamentos que vão desde o uso do celular enquanto se conduz um veículo até a direção sob efeito de álcool, o que reduz a capacidade de reação do condutor.
Tal qual faz no combate ao crime organizado e à violência urbana, em união de forças dos órgãos de segurança pública com as guardas municipais e até agentes federais, é importante que o governo do Estado também assuma o compromisso de liderar uma frente que possa atuar na redução da violência no trânsito.
Não é possível que continue imperando nas ruas e rodovias a lei do “cada um por si”. As imprudências e negligências nas vias são testemunhadas em cada esquina: alta velocidade, desrespeito à sinalização, ultrapassagens indevidas. O uso das tecnologias disponíveis, como radares, para multar quem não respeita as regras precisa ser reforçado. O próprio cerco eletrônico também pode ser utilizado para inibir possíveis infrações dos condutores. A punição dá o exemplo e é capaz de mudar comportamentos.
Também não dá para abrir mão da presença de agentes de trânsito, que deve ser percebida nas ruas pela população. Assim como a maior frequência das blitze, para flagrar quem bebe e dirige ou usa o veículo sem habilitação. Ao pressentir que, ao cometer uma ação imprudente ou descumprir as regras, poderão ser alvos do policiamento, os motoristas adotarão nova postura ao volante.
Investir na melhoria das vias também é imprescindível para que acidentes não ocorram por desgaste e falta de manutenção. E é importante garantir maior segurança para os pedestres fazerem as travessias, sobretudo nos locais de maior tráfego.
São soluções viáveis, mas que demandam planejamento em conjunto. E podem dar ao Espírito Santo, inclusive, um protagonismo nacional. O governo e a bancada capixaba no Congresso têm a oportunidade de liderar uma iniciativa para rever normas de trânsito, tão permissivas ao infrator em alguns pontos. É preciso não só aumentar o rigor, mas também fazer serem cumpridas as leis. O mau motorista tem de ser penalizado e não ficar em liberdade depois de cometer um crime ao volante que leve à morte de um inocente, como vem se tornando rotina no Estado. São tragédias que precisam de um freio de arrumação, para que o número de pessoas chorando a morte de um familiar no trânsito pare de aumentar.
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