Reduzir os danos das chuvas é um trabalho incessante para os prefeitos

Faz-se necessária uma mudança de mentalidade no gerenciamento das chuvas: a compreensão de que o inesperado deve ser a regra, não a exceção. Ou as cidades continuarão submergindo

Publicado em 09/03/2021 às 02h00
Chuva
Estragos causados pela chuva que atingiu Vila Velha no domingo (07). Crédito: Fernando Madeira

Tempestades como a da noite do último domingo (07) não podem mais ser tratadas como eventos climáticos extraordinários, dada a sua frequência cada vez maior. O volume anormal da chuva —  com 115,93 milímetros em 24 horas, concentrados sobretudo no período noturno — é fator preponderante para que se instale o caos na Região Metropolitana de Vitória, mas não é justificativa para a inação do poder público, perfeitamente capaz de um planejamento de ações e obras para reduzir os danos.

As autoridades municipais, na linha de frente das contingências para evitar os transtornos e prejuízos causados pelas chuvas, devem estar cada vez mais atuantes nesse sentido. 

Nos quatro maiores municípios da Grande Vitória, todos os prefeitos estão no início de seus primeiros mandatos e já encaram seus testes de fogo iniciais neste período chuvoso. Assim como os gestores de municípios do interior do Estado, que têm sofrido com as chuvas com uma recorrência que impõe ações preventivas.

Os líderes dos executivos municipais têm em mãos a responsabilidade de mapear as próprias cidades, identificando áreas de risco crônicas, bem como locais que, em chuvas mais recentes, passaram a ser focos de alagamento e deslizamentos, algo que tem sido registrado nos últimos anos em chuvas mais intensas.

Em matéria publicada neste jornal, Hugo Ramos, meteorologista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), explicou que o temporal da noite de domingo, com intensidade de raios e pluviometria acima da média, é resultado de um fenômeno chamado Zona de Convergência do Atlântico Sul, comum de outubro a março, o período mais chuvoso do ano.

Há estudos meteorológicos sérios e confiáveis, como se vê, para embasar decisões governamentais no sentido da prevenção, mesmo em episódios de chuva aparentemente fora da normalidade. Faz-se necessária, portanto, uma mudança de mentalidade no gerenciamento das chuvas: a compreensão de que o inesperado deve ser a regra, não a exceção. Ou as cidades continuarão submergindo.

Cada região de cada município exige ações específicas, baseadas em características geográficas peculiares a cada uma delas. Vila Velha acaba sendo emblemática, por ser um município que inevitavelmente apresenta reincidência de problemas, sobretudo os alagamentos.

A eficiência da micro e da macrodrenagem deve ser sempre o foco nesses casos, mas as próprias diretrizes de reorganização urbana devem se modernizar, sobretudo no que diz respeito à captação e escoamento da água das chuvas. A própria pavimentação das vias públicas deve cada vez mais levar em consideração a permeabilidade dos componentes a serem usados.

E, não necessariamente no âmbito das obras públicas, os episódios de infiltração em shoppings, hospitais, delegacias e terminais de ônibus também colocam em questão a qualidade dessas construções. Vale a mesma ressalva: por mais que as chuvas deste domingo tenham sido muito intensas em um curto espaço de tempo, as imagens expondo as cachoeiras formadas nesses espaços mostraram vulnerabilidades estruturais que podem colocar em risco a vida de trabalhadores e frequentadores desses locais. As soluções de engenharia precisam garantir a segurança de todos.

As municipalidades, a cada chuva, ainda acumulam despreparo, em meio a pontuais avanços. Há condições de mitigar os efeitos dos alagamentos na Grande Vitória, com estudos e investimentos em obras. É um trabalho incessante, como o próprio ciclo das chuvas. O que os novos prefeitos devem ter em mente, daqui para frente, é que os planos de contingenciamento das chuvas nunca se esgotam. É um comprometimento com decisões que precisarão ser sempre renovadas, para que os problemas se mantenham minimizados.

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