Rejuvenescimento da pandemia mostra que mortes só são evitadas com prevenção

Ser jovem não é garantia de estar protegido das formas mais graves de Covid-19. Além do risco de morte,  a recuperação é lenta e pode deixar sequelas

Publicado em 26/04/2021 às 02h00
Aglomeração
Um bar foi fechado no Centro de Vitória após denúncias de aglomeração, no início de março: jovens estão morrendo mais na pandemia. Crédito: Leitor/A Gazeta

O rejuvenescimento da pandemia já deixou de ser somente um alerta: no público que compreende os pacientes de 18 a 29 anos que precisam de internação, no Espírito Santo, o percentual de mortes, desde fevereiro, foi de 43,24%, de acordo com dados apresentados pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). De outubro até 28 de fevereiro, os óbitos representavam 25,45% nessa mesma faixa etária. A população mais jovem está enfrentando quadros mais graves de Covid-19, após persistir a ideia de que a doença seria implacável somente entre os idosos e os portadores de comorbidades.

balanço divulgado pela Fiocruz na última sexta-feira (23), com números nacionais, mostra que houve um crescimento de mortes na faixa entre 20 a 29 anos de 1.081,82%, quando se comparam duas semanas epidemiológicas: as compreendidas entre 3 a 9 de janeiro e 4 a 10 de abril.

A questão é que, com a disseminação das novas variantes, desde o fim de 2020, é possível afirmar que a idade deixou de ser um atenuante. E esse tem sido um dos desafios para a ciência, que busca explicações para o agravamento dos casos entre a população mais jovem. Uma pesquisa, liderada pela geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco da USP, busca respostas ao investigar casos de jovens que morreram sem ter qualquer comorbidade e casos de pessoas centenárias que mostraram resistência ao novo coronavírus. O objetivo é revelar mecanismos ainda desconhecidos da Covid-19 e assim encontrar novas possibilidades de combatê-la.

Mas enquanto não há respostas, a única forma de evitar que a doença se apresente em sua forma mais grave, independentemente da idade e de fatores de saúde, é evitando contraí-la. A obviedade dessa afirmação, contudo, ainda não encontra eco no comportamento dos mais jovens. A prática do distanciamento social deve ser regra de convivência até mesmo entre familiares que não compartilham a mesma residência. E o uso regular de máscara em ambientes públicos, com preferência aos modelos hospitalares em caso de média e longa permanência em locais fechados, já deveria fazer parte da rotina de todos, após mais de um ano de pandemia. São cuidados simples, que podem evitar muito sofrimento.

O risco de perder a vida deveria ser suficiente para as pessoas se protegerem, mas até mesmo quem sobrevive necessita de um longo processo de recuperação. Justamente por serem mais jovens, o tempo de internação dos pacientes costuma ser mais longo, chegando a 30 dias, o que também contribui para a pressão sobre o sistema de saúde. 

"Então, ele (o paciente) faz a síndrome do doente crítico, não tem força nenhuma, e precisa de reabilitação mais intensa para conseguir ficar em pé de novo", explicou a médica geriatra Aline Thomaz, CEO da rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo, em entrevista recente ao jornal Folha de S. Paulo. "Os jovens estão com muito medo, apavorados, de não se recuperar das sequelas. Para o jovem, esperar é um grande sacrifício", alertou.

A normalização da vida cotidiana registrada a partir de setembro no ano passado, quando houve um arrefecimento momentâneo da pandemia, certamente contribuiu para o aumento de casos entre os mais jovens, um relaxamento que acabou provocando o aumento da exposição que tem culminado nas mortes mais frequentes em 2021. O que também favoreceu o surgimento e a circulação das novas variantes, mais contagiosas.

É correto afirmar que a pandemia em 2021 não segue a mesma cartilha de 2020, todos precisam se cuidar, inclusive os idosos que já foram vacinados. O que não mudou é a forma de se proteger: distanciamento, uso de máscara e higiene. Sempre.

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