Remissão de câncer em um mês é a ciência que cura e emociona

Tão tocante quanto testemunhar um paciente praticamente desacreditado encontrando o improvável caminho da cura é perceber a emoção de um dos médicos envolvidos

Publicado em 02/06/2023 às 01h00
Câncer
Exames mostram antes e depois de câncer de paciente; à direita, imagem mostra remissão. Crédito: Arquivo Pessoal

Paulo Peregrino, de 61 anos, é a personificação mais recente de uma das maiores vitórias contra o câncer no Brasil. Após o tratamento com uma técnica revolucionária, o CAR-T Cell, o paciente que estava prestes a receber cuidados paliativos conseguiu, em apenas um mês, ter a remissão completa do linfoma diagnosticado em 2018. 

Paulo Peregrino, contudo, já travava a batalha contra o câncer havia mais tempo:  13 anos atrás, foi diagnosticado com um tumor na próstata.

Tão tocante quanto testemunhar um paciente praticamente desacreditado encontrando o improvável caminho da cura é perceber a emoção de um dos médicos envolvidos, o professor de hematologia, hemoterapia e terapia celular da Faculdade de Medicina da USP Vanderson Rocha.

Em entrevista à TV Globo, com a voz embargada, o médico falou da sensação de comparar os exames do Paulo, antes e depois do tratamento: "É aquela sensação de vitória, vitória por ele, que já não tinha mais outras opções, e para a gente, porque é todo o envolvimento de vários cientistas, de vários anos, e quando eu recebi a imagem foi alegria e emoção".

Essa vitória expressiva de cientistas da Universidade de São Paulo e do Instituto Butatan é um passo importante em tornar mais acessível esse tratamento, que só existe na rede privada, tem alto custo e ainda é restrito a poucos países. No segundo semestre deste ano, 75 pacientes devem ser tratados com o CAR-T Cell com verba pública após autorização da Anvisa para o estudo clínico. A expectativa é de que o tratamento consiga ser introduzido no Sistema Único de Saúde (SUS).

O próximo desafio científico é fazer com que essa terapia celular que combate a doença usando as próprias células de defesa do paciente sejam utilizada em outros tipos de tumores além dos que são passíveis de tratamento atualmente: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo, que atinge a medula óssea, sendo que o último ainda não está disponível no Brasil. 

A cura do câncer é, certamente, a fronteira científica mais desejada de ser ultrapassada. A cada novo passo nessa direção, a humanidade se volta para o que é essencial,  que é viver bem, com saúde. Imaginar que em pouco tempo mais pessoas possam ter acesso a um tratamento que, no Brasil, provocou a remissão de 60% dos tumores nos 14 pacientes que participaram do protocolo experimental traz alento para muita gente.

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