Testar, testar e testar. O mantra da Organização Mundial de Saúde (OMS) desde o início da pandemia nunca chegou a se concretizar no país, por motivos já tão repetidos quanto a própria frase. Mas o Espírito Santo conseguiu se sair melhor, colocando-se acima da média nacional na realização de testes para Covid-19. Uma vanguarda que ainda assim encontra percalços: os relatos da demora em se obter o diagnóstico acabam mostrando a urgência de outra cantilena: resultado, resultado e resultado.
Sem o diagnóstico, necessário para identificação e controle de casos da Covid-19, as estratégias de enfrentamento à pandemia acabam se esvaziando, não oferecendo respostas. Quando se preconiza a capacidade de testar o maior número possível de casos suspeitos, os resultados precisam ser rápidos para desencadear o processo de tratar os doentes, rastrear seus contatos e colocá-los em quarentena. É uma decisão que salva vidas, portanto. E não se pode minimizar também a importância de acabar com a angústia de quem aguarda o resultado.
No início de maio, o governo do Estado recebeu 52,8 mil exames PCR comprados da China, elevando então o estoque do Laboratório Central de Saúde Pública do Espírito Santo (Lacen) para 90 mil unidades. O PCR é considerado “padrão ouro” no diagnóstico de Covid-19, por comprovar a presença do vírus, diferentemente dos testes rápidos, feitos para detectar a presença de anticorpos.
O problema é que, já no fim daquele mês, as amostras colhidas entre os pacientes começaram a se acumular no Lacen: em 25 de maio, 2,6 mil testes estavam represados no laboratório, provocando atrasos no diagnóstico. O governo do Estado, então, firmou uma parceria com o Instituto de Biologia Molecular do Paraná, anunciando que os resultados sairiam em 48 horas. Pacientes, contudo, continuam relatando uma espera que pode chegar a três semanas. Em casos mais graves, há mortes sem respostas.
Os testes em massa como os realizados em países como Alemanha e Coreia do Sul ainda são inviáveis, mas o governo estadual tem usado a estatística dos inquéritos sorológicos, também baseados em testes, para determinar cenários de circulação do novo coronavírus no Espírito Santo.
Contudo, o diagnóstico de casos suspeitos ainda tem encontrado esses entraves, ligados à crescente demanda. E o vírus, assim, se mantém invisível aos olhos de médicos, pacientes e gestores públicos, um risco para saúde coletiva e um problema para a própria administração do sistema de saúde.
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Nesta semana, o Ministério da Saúde e representantes de conselhos de secretários de Estados e municípios sinalizaram que podem vir a adotar exames de imagem ou clínico-epidemiológicos para ampliar o diagnóstico de Covid-19 sem a necessidade de testes, sempre com aval médico. Uma situação que atesta o déficit na infraestrutura científica e laboratorial no país, mas que ao menos pode reduzir a subnotificação.
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