Quando os números que apontam o empobrecimento da população capixaba ganham rosto, não há espaço para a indiferença. As estatísticas, por si só, impressionam, ao mostrar que, no Espírito Santo, 1,1 milhão de pessoas estão na linha da pobreza e outras 394 mil vivem em situação extrema, número superior ao da população de Vitória.
É gente demais, e cada uma dessas pessoas com uma história particular. Mas é quando se dá voz a quem, diuturnamente, não tem um prato de comida garantido que a dimensão humana dessa tragédia ganha força. E foi isso que a repórter Aline Nunes e o fotógrafo Fernando Madeira conseguiram com a série de reportagens publicadas nesta semana por este jornal.
Há Fernando, que comemora ter recebido a doação de uma cabeça de peixe para matar a fome. Há Vera Lúcia que, sem renda fixa, costuma deixar de comer para garantir a alimentação dos quatro filhos que vivem com ela. Há Gleiciane, que sobrevive na informalidade e de auxílios do governo, somando cerca de R$ 450 mensais. Há Lucimara, que revira latões na Ceasa para consumir o que é descartado. Há, invariavelmente, o medo da fome.
Pobreza no ES
São essas as pessoas que sofrem na pele com as sucessivas crises econômicas no país, desde 2015. Mas o processo se acelerou com a pandemia: no Espírito Santo, o nível da pobreza passou de 22,4% em 2019 para 27,6 em 2020. A inflação decorrente inicialmente da crise sanitária e, agora, do conflito na Ucrânia - dois fenômenos globais, portanto, mas que encontraram um país já muito fragilizado - atinge os mais pobres com mais força, sobretudo pelo impacto na alimentação. Quem já tinha muito pouco passa a não ter nada.
A pobreza acaba se revelando em aspectos distintos, que vão além da fome e da insegurança alimentar. Há um ponto elementar, que se relaciona com a moradia. O déficit habitacional brasileiro não diz respeito somente às pessoas que não tem um teto para se abrigar, mas também à qualidade da moradia. A precariedade da moradia de Gracinha, ouvida pela reportagem, impede uma vida com mais dignidade, saúde e segurança. Ao mesmo tempo, quem não tem opção e acaba nas ruas sofre com a falta de abrigo e com a discriminação.
A vulnerabilidade da pobreza está em cada aspecto da vida dessas pessoas. A fome é o extremo, e para que ela não chegue acabam dependendo de doações e de benefícios. O desemprego que assola o país desde a metade da década passada empurra as pessoas para a informalidade, que no Espírito Santo representou, em 2021, 39,4% da população economicamente ativa. Informalidade que faz dos semáforos da cidade uma forma de se ganhar dinheiro.
Os retratos de cada uma dessas pessoas, quando agrupados, formam um mosaico que reúne os anseios de um país melhor, em que a qualidade de vida seja um denominador comum, não um privilégio. Os tempos são difíceis e desafiadores: ninguém queria uma pandemia e uma guerra no meio do caminho. Mas o desafio de combater a pobreza, com empenho de governantes e legisladores, deve ser a prioridade máxima.
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