Retratos da pobreza no ES formam um mosaico dos anseios por um país melhor

A vulnerabilidade da pobreza está em cada aspecto da vida dessas pessoas, que no ES atualmente chegam a 1,1 milhão. A fome é o extremo

Publicado em 18/03/2022 às 02h02
Rua
Fernando, que vive na rua, comemora ter recebido a doação de uma cabeça de peixe para matar a fome. Crédito: Fernando Madeira

Quando os números que apontam o empobrecimento da população capixaba ganham rosto, não há espaço para a indiferença. As estatísticas, por si só, impressionam, ao mostrar que, no Espírito Santo, 1,1 milhão de pessoas estão na linha da pobreza e outras 394 mil vivem em situação extrema, número superior ao da população de Vitória.

É gente demais, e cada uma dessas pessoas com uma história particular. Mas é quando se dá voz a quem, diuturnamente, não tem um prato de comida garantido que a dimensão humana dessa tragédia ganha força. E foi isso que a repórter Aline Nunes e o fotógrafo Fernando Madeira conseguiram com a série de reportagens publicadas nesta semana por este jornal.

Há Fernando, que comemora ter recebido a doação de uma cabeça de peixe para matar a fome. Há Vera Lúcia que, sem renda fixa, costuma deixar de comer para garantir a alimentação dos quatro filhos que vivem com ela. Há Gleiciane, que sobrevive na informalidade e de auxílios do governo, somando cerca de R$ 450 mensais. Há Lucimara, que revira latões na Ceasa para consumir o que é descartado. Há, invariavelmente, o medo da fome.

Pobreza no ES

Gleiciane Brito e o filho Benjamin na casa inacabada
Gleiciane Brito e o filho Benjamin na casa inacabada. Fernando Madeira
Alimentos doados na Ceasa
Alimentos doados na Ceasa. Fernando Madeira
Leiliane Brito e o filho Ytallo: família perdeu renda
Leiliane Brito e o filho Ytallo: família perdeu renda. Fernando Madeira
Natasha Estefany Lopes Moreira e a filha Maria Clara dependem de doações
Natasha Estefany Lopes Moreira e a filha Maria Clara dependem de doações. Fernando Madeira
Vale da Conquista é uma ocupação na região de Terra Vermelha, em Vila Velha 
Vale da Conquista é uma ocupação na região de Terra Vermelha, em Vila Velha . Fernando Madeira
Rayani Monteiro e a filha Rayssa também contam com doações
Rayani Monteiro e a filha Rayssa também contam com doações. Fernando Madeira
Vera Lúcia e os filhos Maria Vitória, Renato e Vitor: "mistura" da refeição doada é verdura
Vera Lúcia e os filhos Maria Vitória, Renato e Vitor: "mistura" da refeição doada é verdura. Fernando Madeira
Maria de Lourdes Efigênia dos Santos mora em barraco emprestado
Maria de Lourdes Efigênia dos Santos mora em barraco emprestado. Fernando Madeira
Doação de roupas em Vale da Conquista, Terra Vermelha, Vila Velha
Doação de roupas em Vale da Conquista, Terra Vermelha, Vila Velha. Fernando Madeira
Vale da Conquista é uma ocupação na região de Terra Vermelha, em Vila Velha 
Vale da Conquista é uma ocupação na região de Terra Vermelha, em Vila Velha . Fernando Madeira
Casa em Vale da Conquista, Terra Vermelha, Vila Velha: sem banheiro e erguida sobre chão batido
Casa em Vale da Conquista, Terra Vermelha, Vila Velha: sem banheiro e erguida sobre chão batido. Fernando Madeira
Ivani Lopes dos Santos com a filha Bianca dos Santos Silva e os netos Carla Eloá, Lorenzo e Laura Sofia: todos dormem no mesmo quarto
Ivani Lopes dos Santos com a filha Bianca dos Santos Silva e os netos Carla Eloá, Lorenzo e Laura Sofia: todos dormem no mesmo quarto. Fernando Madeira
Sérgia dos Santos usa fogão a lenha devido ao alto custo do botijão de gás
Sérgia dos Santos usa fogão a lenha devido ao alto custo do botijão de gás. Fernando Madeira
Aos 68 anos, Irani da Costa Evangelista cata latinhas para sobreviver
Aos 68 anos, Irani da Costa Evangelista cata latinhas para sobreviver. Fernando Madeira
Casa com rachaduras abriga seis pessoas - 4 são crianças - em Vila Velha
Casa com rachaduras abriga seis pessoas - 4 são crianças - em Vila Velha. Fernando Madeira
Maria das Graças Machado sonha com reforma de casa
Maria das Graças Machado sonha com reforma de casa. Fernando Madeira
Na geladeira, garrafas com água e comida doada
Na geladeira, garrafas com água e comida doada. Fernando Madeira
Moisés Araújo Rodrigues pede dinheiro no sinal
Moisés Araújo Rodrigues pede dinheiro no sinal. Fernando Madeira
Suellen Casado de Andrade vende balas no sinal para cuidar da filha
Suellen Casado de Andrade vende balas no sinal para cuidar da filha. Fernando Madeira
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer. Fernando Madeira
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer
Em situação de rua, Fernando Martins mostra cabeça de peixe que vai comer

São essas as pessoas que sofrem na pele com as sucessivas crises econômicas no país, desde 2015. Mas o processo se acelerou com a pandemia: no Espírito Santo, o nível da pobreza passou de 22,4% em 2019 para 27,6 em 2020. A inflação decorrente inicialmente da crise sanitária e, agora, do conflito na Ucrânia - dois fenômenos globais, portanto, mas que encontraram um país já muito fragilizado - atinge os mais pobres com mais força, sobretudo pelo impacto na alimentação. Quem já tinha muito pouco passa a não ter nada.

A pobreza acaba se revelando em aspectos distintos, que vão além da fome e da insegurança alimentar. Há um ponto elementar, que se relaciona com a moradia. O déficit habitacional brasileiro não diz respeito somente às pessoas que não tem um teto para se abrigar, mas também à qualidade da moradia. A precariedade da moradia de Gracinha, ouvida pela reportagem, impede uma vida com mais dignidade, saúde e segurança. Ao mesmo tempo, quem não tem opção e acaba nas ruas sofre com a falta de abrigo e com a discriminação.

A vulnerabilidade da pobreza está em cada aspecto da vida dessas pessoas. A fome é o extremo, e para que ela não chegue acabam dependendo de doações e de benefícios. O desemprego que assola o país desde a metade da década passada empurra as pessoas para a informalidade, que no Espírito Santo representou, em 2021, 39,4% da população economicamente ativa. Informalidade que faz dos semáforos da cidade uma forma de se ganhar dinheiro.

Os retratos de cada uma dessas pessoas, quando agrupados, formam um mosaico que reúne os anseios de um país melhor, em que a qualidade de vida seja um denominador comum, não um privilégio. Os tempos são difíceis e desafiadores: ninguém queria uma pandemia e uma guerra no meio do caminho. Mas o desafio de combater a pobreza, com empenho de governantes e legisladores, deve ser a prioridade máxima.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.