Roubo nas ruas: queda nas estatísticas não reduz sensação de insegurança

Caminhar pelas ruas com tranquilidade deveria ser a regra, não uma condição especial. A queda dos casos registrados na pandemia, quando comparada com os anos antes de 2020, precisa se consolidar como "novo normal"

Publicado em 30/08/2021 às 02h00
Assalto
Assalto na praia de Itapuã, Vila Velha, registrado em junho deste ano. Crédito: Internauta

Não é surpresa que a pandemia, em seus momentos de maior restrição de circulação, tivesse reflexos na segurança pública. Com menos pessoas nas ruas, os roubos em via pública no Espírito Santo caíram consideravelmente em 2020, quando comparados aos números do ano anterior.  Os dados  da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) referentes aos 12 meses do ano comprovam a queda acentuada: em 2019 foram 30.471 registros, enquanto em 2020 foram 18.852 casos, uma redução de 38%.  O ano de 2018 foi ainda pior que 2019, com 32.115 assaltos.

Neste ano de 2021, o ponto alto das restrições de circulação se deu em março e abril, quando o governo estadual decretou uma quarentena para enfrentar aquele que foi considerado o pior momento da crise sanitária no Espírito Santo. De lá para cá, o comportamento da pandemia permitiu o relaxamento paulatino das medidas até chegar ao atual estágio: o mapa de risco divulgado nesta sexta-feira (27) coloca apenas duas cidades capixabas fora do risco baixo. Na maioria dos municípios, portanto, o comércio, bem como bares e restaurantes, funcionam normalmente já há algum tempo, apenas com a exigência de protocolos de proteção: máscaras, distanciamento social e higienização acessível.

Em julho de 2019, foram registrados 2.629 assaltos, enquanto no ano seguinte, o mesmo mês, que ainda impunha o isolamento social como forma de conter a disseminação da Covid-19, registrou 1.348 ocorrências. Não é exagero afirmar que, em julho de 2021, o movimento nas ruas esteve próximo ao da antiga normalidade. E, como esperado, os roubos a pessoas no espaço público tiveram um acréscimo em relação a 2020, o ano excepcional, com 1.363 ocorrências. Maio e junho de 2021 também foram mais violentos que os respectivos meses do ano passado.

Por mais que a pandemia não tenha acabado, é fato que 2021 não repetiu o cenário de esvaziamento das ruas registrado com mais frequência em 2020. E mesmo assim, de janeiro até julho, as abordagens violentas às pessoas que transitam pelas ruas tiveram uma queda de 13%:  11.780 (2020) e 10.259 (2021). É preciso destacar que até a metade de março de 2020 não havia restrições de circulação no Estado.

Os números de 2021, comparados com 2019 e 2018, mostram que há uma tendência de queda que precisa ser bem analisada por especialistas e gestores da segurança pública. Os dados dos dois anos anteriores à pandemia eram bem mais assustadores: só para se ter uma ideia, não há registro de nenhum mês com menos de 2 mil ocorrências, enquanto em 2021 todos os meses estão bem abaixo dessa marca. Infelizmente, o comparativo divulgado pela Sesp em seu portal não traz os números de 2017, quando a explosão de violência com a greve da PM provavelmente afetou negativamente as estatísticas.

É uma questão de análise de cenário, para tentar entender se há algo além da pandemia impactando na redução vertiginosa desses tipos de crime, até mesmo a subnotificação. Em 2021, houve também uma queda de 13% no número de roubos no transporte público, de janeiro a julho, na comparação com o mesmo período de 2020. Enquanto isso, a Grande Vitória tem registrado com recorrência tiroteios em bairros dominados pelo tráfico. Em Vitória, agosto nem chegou ao fim e já é o mês com mais homicídios no ano, com 11 registros até o último dia 25.

Esse tom mais ameno das estatísticas dos assaltos nas ruas contrasta (e muito) com a enxurrada de casos em alguns bairros da Grande Vitória. Em Itapuã, Vila Velha, os registros em vídeo da violência têm sido constantes nos últimos meses. Em junho, a imagem feita por um internauta de um roubo no calçadão expôs o perigo na região. A abordagem dos assaltantes no bairro geralmente é feita de bicicleta, como no caso da mulher que reagiu e lutou com o bandido no último dia 20. Não há sensação de segurança, mesmo que os números sejam menores que nos anos anteriores à pandemia.

Caminhar pelas ruas com o mínimo de tranquilidade deveria ser a regra, não uma condição especial. Não só pelas possíveis perdas materiais, mas pelo medo de sofrer algum tipo de violência física por bandidos que muitas vezes não têm nada a perder. Consolidar essa tendência de redução de crimes, após o fim da pandemia, será o desafio, para dar adeus a um "velho normal" que ninguém quer que volte.

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