Saga por especialistas no SUS adoece ainda mais quem já está doente

A busca por tratamento médico não pode continuar sendo um motivo a mais de adoecimento para tantas pessoas que dependem da saúde pública

Publicado em 17/03/2023 às 01h00
Especialista
Braz Ferreira da Silva aguardava um exame desde 2018 e também consulta com neurologista e ortopedista. Crédito: Fernando Madeira

Problemas de saúde são como um freio na vida das pessoas. Mesmo as doenças mais leves têm impacto no trabalho e nas atividades cotidianas, até mesmo para quem tem condições financeiras ou planos de saúde para arcar com tratamentos. Imagine, então, quem depende dos serviços públicos?

"Tenho muita dificuldade de andar de ônibus em pé por falta de força para segurar", lamenta Braz Ferreira da Silva, morador da Serra, que não consegue tratamento para a síndrome do túnel do carpo e para uma dor no pescoço que reduz a força nos braços e nas mãos. Aguarda desde 2018 por consultas e exames com especialistas em ortopedia e neurologia, mas vive desde então à base de medicamentos paliativos, cerca de 20 por dia.

O caso dele e os de outros pacientes que aguardam exames e consultas retratados em reportagem deste jornal mostram que as razões para tanta espera, que pode chegar a cinco anos, é estrutural, como a falta de substituição de especialistas, mas também parece haver falhas na organização dos agendamentos.

Tanto que uma moradora de Jardim Camburi, em Vitória, que aguardava uma consulta com um hepatologista há quatro anos, conseguiu uma data após a reportagem de A Gazeta entrar em contato com a Prefeitura de Vitória. Situação que se repetiu com Braz Ferreira da Silva quando a repórter questionou a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). As vagas existiam, portanto.

Para conseguir encaminhamento a especialistas no Sistem Único de Saúde (SUS), primeiro o paciente é atendido por um clínico geral em uma unidade de saúde do município, que o encaminha ao médico especializado, normalmente na rede estadual. É preciso descobrir em que fase desse processo as solicitações se represam, seja por demanda elevada, seja por algum tipo de ineficiência.

Afinal, o acesso à saúde é um direito do cidadão brasileiro, mas da forma como foi retratado nessas reportagens, constatou-se que quem precisa de tratamento encontra muitos obstáculos. É como no caso do Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), onde mães foram flagradas dormindo na fila para conseguirem atendimento. Após muita pressão, a marcação agora pode ser feita por telefone.

A busca por tratamento médico não pode continuar sendo um motivo a mais de adoecimento para tantas pessoas que dependem da saúde pública.

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