Sala de aula não é lugar de improviso

É inconcebível a permanência, sem prazo para acabar, das soluções improvisadas (o que em linguagem popular dá-se o nome de "gambiarra"), como em dois casos recentes que mostraram precariedades no ensino que já perduram três anos

Publicado em 13/04/2023 às 01h01
Escola
Alunos estudam em salão de igreja em Iúna desde 2020. Crédito: Divulgação

O título deste editorial se refere à infraestrutura, à qualidade do espaço onde os estudantes se dedicam ao estudo. É óbvio que na dinâmica aluno-professor os improvisos são até bem-vindos no processo de aprendizagem. Inconcebível é a permanência, sem prazo para acabar, das soluções improvisadas (o que em linguagem popular dá-se o nome de "gambiarra"), como em dois casos recentes noticiados neste jornal que mostraram precariedades no ensino que já perduram três anos.

Em Iúnauma escola municipal sofreu danos em um desmoronamento de terras durante as chuvas de janeiro de 2020 e, até hoje, os alunos estão alojados em um espaço cedido pela igreja. O local passa por obras e está com a rede elétrica exposta. Só há um banheiro, não há ventiladores. O que era para ser uma solução emergencial se cristalizou, causando profundos danos na aprendizagem.

É imprescindível lembrar que houve uma pandemia no meio do caminho, acentuando as mazelas educacionais. A nova escola, prometida para este mês de abril, ganhou agora um prazo de 120 dias para ser entregue, segundo a prefeitura.

Caso semelhante em Alfredo Chaves, com crianças estudando em uma escola improvisada. O imóvel onde funcionava precisou ser demolido após uma inundação, em 2020. Desde então, uma situação que era para ser temporária ficou permanente, mesmo que o terreno para a construção de um novo prédio já tenha sido adquirido pela prefeitura, que não respondeu os questionamentos da reportagem sobre prazos e outras informações.

Ao tratar a educação com improvisos, o poder público a desvaloriza perante os próprios alunos e a comunidade. Não se cansa de dizer aos quatro ventos que todos os problemas brasileiros passam pela educação para serem superados, mas o que fazer quando é a própria educação o problema? Como atiçar no aluno o desejo pelo conhecimento, e as portas que se abrem com ele, quando as escolas não oferecem a mínima estrutura?

A pandemia descortinou as desigualdades educacionais no país, colocando-as em destaque. Passado o período mais crítico, firmou-se um consenso de que a prioridade seria a recuperação das perdas educacionais da crise sanitária, mesmo que a duras penas. Diante dessas notícias, o sentimento é agridoce, de um país que insiste em não aprender com os próprios erros. Um país que sempre acaba reprovado.

Nesta semana, o governo estadual anunciou, com a presença do ministro da Educação, R$ 150 milhões em recursos para o setor, inclusive com a liberação de editais para os municípios, com foco na infraestrutura escolar. Ou seja, investimentos em obras. É um dinheiro bem-vindo, mas que precisa ser bem aproveitado. Que os prefeitos olhem com mais carinho para as suas escolas e façam bom uso desses recursos, para acabar com os improvisos eternizados na educação.

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