Em tempos de déficit das contas públicas e de medidas austeras adotadas por governos para tirar os caixas do vermelho, os supersalários e as regalias do funcionalismo, que nunca saíram dos holofotes, voltaram a receber duras críticas. Uma revisão dos benefícios como a que pretende a reforma administrativa é bem-vinda, para eliminar casos incondizentes com a realidade brasileira. Pouco se fala, no entanto, do reverso da medalha. A baixa remuneração concedida a algumas categorias do serviço público, especialmente nos municípios, também traz prejuízos à população.
Levantamento feito por A Gazeta, com base nos portais da transparência dos municípios do Espírito Santo, apontou que o salário médio dos gestores é de R$ 5,3 mil. O número pode parecer razoável, mas isso porque médias podem ser enganosas. Em mais de 50 dos 78 municípios capixabas, secretários recebem abaixo desse valor, sendo Água Doce do Norte, no Noroeste do Estado, a cidade com vencimentos mais exíguos, de R$ 2,5 mil.
A média capixaba é puxada para cima pelos municípios da Grande Vitória, todas com vencimentos acima de R$ 8 mil, compatíveis com o mercado. Em grandes empresas, no entanto, salários para cargos com mesmo nível de qualificação e atribuições pode saltar para R$ 12 mil.
Os possíveis reveses são óbvios. Oferecer rendimentos que não chegam à metade dos praticados na iniciativa privada pode impedir que as cidades formem um quadro de profissionais experientes. No caso de secretários, funções que exigem conhecimento das áreas em que atuam e enorme responsabilidade com orçamentos e legislações, a baixa atratividade do setor público abre brechas para indicações mais políticas do que técnicas.
Esse cenário não granjeia profissionais no auge de suas carreiras, com expertise para implementar políticas públicas eficientes. Longe de qualquer generalização estulta e injusta, não é nenhum absurdo afirmar que a disparidade entre o rendimento e a responsabilidade que o cargo exige dá margem à corrupção – para aqueles profissionais com essa inclinação.
Entre aqueles que apontam a necessidade de reforma da máquina pública, a palavra de ordem é racionalidade. Essa ponderação deve valer, no caso das remunerações, tanto para cortar as extravagâncias quanto eliminar as sovinices. Aumentar salários é tabu, mas que precisa ser enfrentado em nome da excelência na administração da coisa pública.
É inegável que a qualidade dos serviços prestados à população passa pela qualidade dos gestores. Ao criar empecilhos para a composição de uma boa equipe, baixos salários, ao final e ao cabo, representariam mais um desperdício do que uma economia de recursos.
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