Em uma crônica publicada no final de julho neste jornal, Marcos Alencar fez um registro nostálgico da Boate Buteko, que ocupava nos anos 60 o imóvel do Saldanha da Gama, a edificação histórica e imponente que atrai os olhares de quem chega ao Centro de Vitória. Semanas depois, por uma triste coincidência, falecia o jornalista Ronaldo Nascimento, importante agitador cultural e social da Capital, responsável pelo funcionamento da casa noturna com vista para o Penedo.
O registro do cronista é importante por fazer as novas gerações saberem que o prédio do Saldanha da Gama, por décadas sede do clube homônimo, teve momentos mais gloriosos do que os dos últimos tempos, marcados pelo abandono. Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso é capaz de perceber o potencial para o lazer e o turismo daquele casario: desde as raízes históricas de mais de três séculos, quando o Forte São João foi erguido para proteger a Capital, passando pela arquitetura e pela própria paisagem do local. Sem ufanismo, com um visual de tirar o fôlego de qualquer um. Um desperdício não ser aproveitado.
Por isso, vale celebrar o presente que Vitória recebeu de aniversário no último dia 8, com a inauguração de dois empreendimentos gastronômicos, a primeira etapa entregue do novo Saldanha. Já a inauguração do tradicional salão, que receberá eventos artísticos e sociais, como casamentos e formaturas, deve acontecer até o final do ano. Assim como a instalação no local da Secretaria Estadual de Turismo. Em 2023, o espaço vai receber o Memorial do Forte São João, o que será mais um atrativo para o local.
Foram muitas idas e vindas e indefinições sobre a destinação desse marco arquitetônico, que estava sem uso desde 2013. Houve algumas tentativas de reavivar o Saldanha nos anos 2000, quando foram realizados shows e eventos como a Casa Cor no local. Mas nada vingou, sobretudo pela falta de infraestrutura.
Trazer as pessoas de outras áreas da Grande Vitória para o Centro já se mostrou pontualmente uma missão possível, mas parece ser sempre algo movido pela novidade: assim que passa, volta o abandono. O Saldanha pode ser um trunfo para o Centro de Vitória se, bem administrado, conseguir se manter como uma atração não só para quem vive aqui, como para quem escolhe a cidade como destino turístico. A reforma do Mercado da Capixaba também vai contribuir para esse eixo importante de cultura e entretenimento.
Do outro lado do Centro de Vitória, casarões da Cidade Alta (a Academia Espírito-Santense de Letras foi alvo de furtos no início de agosto) e do Parque Moscoso são recorrentemente invadidos por criminosos. Situações que mostram que o Centro precisa de socorro, sobretudo de uma reorganização e estímulos para a reocupação de imóveis abandonados. Não é tarefa fácil, tanto que está na agenda da Capital nos últimos 30 anos, sem que se resolva em definitivo. Contudo, a ressurreição de espaços como o Saldanha é sempre um importante passo para frente.
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