Santa Teresa, na região serrana do Espírito Santo, é uma cidade charmosa, repleta de atrativos turísticos, sobretudo na temporada de inverno: gastronomia em ascensão, festival de música que atrai um público cativo, rodeada por história, cultura e arquitetura dos imigrantes italianos. Tudo muito importante para se consolidar economicamente, fortalecendo empreendimentos e criando empregos.
Mas essa efervescência de Santa Teresa também atrai oportunistas. Há um contraponto maléfico que vem sendo registrado nos últimos anos, relativo à especulação imobiliária nas zonas rurais do município, onde o desmatamento ilegal vem sendo praticado para a construção de casas e condomínios em esquemas que realizam o parcelamento irregular do solo como forma de levantar mais imóveis em locais onde isso não é permitido. A escalada da degradação se dá a olhos vistos por quem passa pela região, mas um sobrevoo de drone realizado por este jornal em 2020 deu a dimensão do estrago.
No embate entre preservação e desenvolvimento, é sempre possível escolher o caminho do meio, o da sustentabilidade. A região de Santa Teresa tem reservas preservadas e em recuperação de Mata Atlântica que, com o desmatamento feito no varejo nessas pequenas propriedades, aos poucos vão desaparecendo.
Na última quinta-feira (19), a Operação Curupira II flagrou uma área desmatada de 15 mil metros quadrados, cuja vegetação protegia uma nascente. A devastação é uma ameaça não só aos recursos hídricos do município, mas também de 11 cidades vizinhas. Um prejuízo ambiental que não está distante das populações urbanas, quando deixar de chegar água às torneiras. As ações humanas provocam essas reações da natureza.
Esta segunda fase da operação, realizada pela Polícia Ambiental em parceria com o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), vai averiguar ainda 11 pontos suspeitos no município. A Operação Curupira I já havia realizado fiscalização semelhante em Domingos Martins na semana anterior.
Chegou-se a um ponto crítico das ocupações ilegais que fiscalizações precisam ser cada vez mais recorrentes. Em Santa Teresa, não é preciso ir muito longe para flagrar esses crimes, mas hoje é possível para o poder público fazer uso de tecnologia, como as imagens de drones, para ganhar agilidade e começar a inibir esses crimes ambientais. Indo além das multas e processando judicialmente os responsáveis. É preciso estar um passo à frente.
Não há progresso quando se busca extinguir um bioma que, nos tempos em que havia menos conhecimento sobre a sua importância para o equilíbrio ambiental, praticamente desapareceu do mapa brasileiro. Hoje, sabe-se que sua preservação não é uma opção, é uma necessidade. Até mesmo para o turismo em Santa Teresa: se o município perder essa exuberância que hoje atrai os olhares para a sua zona rural, em pouco tempo não haverá mais interesse em visitá-la. Basta ser minimamente racional para perceber essa lógica.
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