A saga para agendar um teste contra a Covid-19 no Espírito Santo é efeito da virulência da Ômicron neste início de ano. Na segunda-feira (17), mais um recorde: 11.522 registros em 24 horas. Mesmo que o governo estadual disponibilize mais de 50 pontos de testagem em todo o território capixaba, com a praticidade do agendamento on-line, o crescimento da demanda por diagnóstico, tanto de pessoas com sintomas quanto de assintomáticos que tiveram contato com quem já recebeu um resultado positivo para Covid-19, tem dificultado o acesso ao teste.
As prefeituras também têm tentado enfrentar essa dificuldade diante do aumento explosivo na procura, mudando os protocolos para a realização do exame, como é o caso de Vitória, que anunciou nesta terça-feira (18) que realizará marcação de testes rápidos pela internet, sem necessidade de consulta médica.
Enquanto isso, o valor dos exames na rede privada é inacessível para grande parte da população, e nos convênios a burocracia para a marcação acaba sendo um empecilho para quem quer uma resposta rápida. A urgência garante, por exemplo, que assintomáticos iniciem o quanto antes o isolamento, cortando assim a cadeia de transmissão.
Esse contexto é importante para mostrar o quanto o país está atrasado por ainda não permitir a realização de autotestes, com a disponibilização pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e também para a comercialização. Há meses esse tipo de teste, cuja confiabilidade é inferior ao RT-PCR e depende de que o usuário siga corretamente as instruções, foi incluído na rotina de moradores de países como Estados Unidos e Reino Unido, onde é distribuído dentro de uma estratégia de diagnóstico emergencial. Medida importante até mesmo para evitar o contágio nos locais de testagem.
Há, contudo, um risco de subnotificação, que pode ser mitigado com a implantação de canais nos quais os resultados sejam disponibilizados pelos cidadãos. Entre os britânicos, os diagnósticos são enviados por meio de um código de barras. Basta empenho gerencial para encontrar soluções, mas em um país que passa com tanta displicência por um apagão de dados relacionados à pandemia isso acaba sendo algo difícil de se encontrar.
Em meio à pressão pela liberação dos autotestes, a Anvisa explicou que, de acordo com uma resolução de 2015, o Ministério da Saúde precisa propor uma política pública para que o órgão libere o exame a ser realizado em casa por usuário leigo. Somente no último dia 13, a pasta se mobilizou nesse sentido, após as filas em locais de testes virarem notícia em todo o país. Nesta quarta-feira (19), a diretoria colegiada da Anvisa deve aprovar o uso. Pelo menos é o que se espera.
Mas a aprovação não será necessariamente uma estratégia a mais de enfrentamento da pandemia, já que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já sinalizou que o governo federal não deve realizar a compra do produto para distribuição. Dependendo do valor que chegar ao mercado, pode se tornar um artigo para poucos. Liberar os autotestes é um passo importante, mas não pode ficar só no papel.
É chover no molhado a crítica à inércia do governo federal diante da crise sanitária, e o episódio dos autotestes mostra a incapacidade do Ministério da Saúde de agir com proatividade. A resolução da Anvisa pode ser considerada anacrônica, por burocratizar uma medida que poderia ter caráter imediato, sobretudo em uma pandemia tão avassaladora. Mas a passividade dos gestores da saúde é mais uma vez assustadora. Há tempos especialistas reforçam que a Covid-19 será uma doença com a qual teremos que lidar por algum tempo. Uma estratégia complementar de testagem já deveria estar no radar, como medida sanitária preventiva.
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