A criação de um corredor exclusivo na Avenida Dante Michelini, em Vitória, para ônibus, vans, táxis e veículos com pelo menos dois passageiros foi cercada de controvérsia em 2018 e não conseguiu sobreviver à mudança de gestão na Prefeitura de Vitória. A medida, imposta sem um diálogo transparente com a sociedade, acabou provocando uma antipatia no debate público municipal que ofuscou a necessidade indiscutível de mudanças no trânsito da Capital.
Com a chegada de Lorenzo Pazolini à prefeitura, foi anunciado o sinal vermelho para a Linha Verde, decisão que foi sacramentada nesta quarta-feira (27). A administração municipal já deu início à retirada das estruturas que sinalizam a rota exclusiva, mas a discussão sobre os prós e os contras da Linha Verde permanece de pé.
De um lado, usuários de ônibus e especialistas em mobilidade urbana apontando que a existência de corredores estimulam a médio prazo o uso do transporte público e a carona solidária, enquanto que do outro, motoristas e críticos do sistema de transporte retrucam que, com a baixa qualidade dos serviços oferecidos atualmente, não há estímulo algum ao uso de ônibus, e os resultados visíveis da faixa exclusiva, diariamente, são os constantes engarrafamentos.
Desde o início da implementação, a administração de Luciano Rezende enfatizou o caráter educativo da adoção da Linha Verde, o que também foi bastante contestado pela população. Ações na Justiça, movidas por moradores, chegaram a suspender o funcionamento da faixa exclusiva.
Até novembro de 2019, a Prefeitura de Vitória havia gastado R$ 904 mil com o pagamento de aluguel de 16 câmeras de fiscalização, com o objetivo de multar os motoristas irregulares na faixa exclusiva. Durante quase dois anos, contudo, os equipamentos nunca foram utilizados para essa função. Houve muita polêmica se as imagens conseguiriam de fato captar, em veículos particulares, a existência de passageiros no carona.
O trânsito da Capital se encontra, como se vê, em uma encruzilhada. E ainda sem sinalização de que caminho seguir. O sepultamento da Linha Verde não é um fim em si mesmo: deve ser o início de uma transformação na mobilidade de Vitória, com estudos e propostas concretas feitas e implementadas pela atual gestão.
Pazolini garantiu que suas equipes já possuem estudos para implantação da faixa exclusiva em outros pontos da cidade, para gerar fluidez no trânsito. De fato, a implantação da Linha Verde na orla de Camburi também foi criticada por se tratar de uma via com menor circulação de ônibus, se comparada a outros eixos viários. É imprescindível que uma medida com potencial de afetar a rotina de tanta gente seja acompanhada de uma boa gestão das linhas oferecidas.
Vitória é uma ilha que não tem para onde se expandir, nem mesmo em sua porção continental. Incrustrada no centro da Grande Vitória, a Capital é afetada pelo fluxo dos três grandes municípios que a cercam. Interrupções nas Terceira e Segunda Pontes, bem como na BR 101, na região Norte da cidade, afetam toda a dinâmica do trânsito na Capital, formando verdadeiros "nós".
Em todo o mundo, reduzir o número de carros nas ruas é o grande desafio de mobilidade urbana, que precisa estar acompanhado de opções de modais que garantam conforto e segurança a quem decidiu deixar o próprio automóvel em casa. É preciso implementar a "onda verde" semafórica, que realmente faça o trânsito fluir. Não é criando um corredor exclusivo, de forma isolada, que se resolve esse problema como mágica. A gestão municipal precisa de uma visão macro de mobilidade, inclusive com alterações viárias ainda mais consistentes do que a Linha Verde.
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