A ciência tem seu tempo. Pesquisas são criteriosas na avaliação de avanços e riscos, sempre fiéis à repetição dos experimentos. Quando o fim da investigação científica é a saúde das pessoas, todo cuidado é pouco. É por premissas assim que a prescrição de medicamentos à base de cloroquina precisa de tanta cautela, dependendo de protocolos científicos. E não adianta espernear, pois seus resultados não se dão da noite para o dia.
Ninguém, em sã consciência, decidiu sabotar um medicamento que pode ser promissor para atacar o novo coronavírus, o que se evita é a precipitação. Drogas receitadas sem que existam estudos comprovados de eficácia e orientação médica podem ter consequências tão maléficas quanto a própria doença. Deixam de ser antídoto, passam a ser veneno.
A decisão sobre o seu uso, portanto, não é um campo de batalha ideológico, como tantos querem fazer crer. É uma questão de comprovação científica. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chegou a afirmar ter sido pressionado por dois médicos para editar um protocolo do uso da hidroxicloroquina, o que negou de antemão pela falta de embasamento científico.
Contudo, também afirmou que a pasta não se opõe que médicos administrem a substância para pacientes moderados a graves, caso assumam a responsabilidade, sob a tutela do Conselho Federal de Medicina. E reafirmou que a pasta está acompanhando com atenção os estudos clínicos sobre a eficácia de vários medicamentos, entre eles as próprias cloroquina e hidroxicloroquina. Cientistas e pesquisadores estão correndo contra o tempo, mas a metodologia dos trabalhos sempre se impõe. Resultados acurados dependem desse rigor.
Constata-se que a pandemia tem exposto os riscos da anticiência, que ganhou forma e corpo nos últimos anos com movimentos antivacina e o próprio terraplanismo. O desconhecimento, muitas vezes orgulhoso, dos procedimentos necessários para a aplicação de um medicamento com segurança só reforça uma carência educacional, mesmo em setores mais privilegiados da sociedade. E esse terreno da ignorância se torna fértil para a disseminação de tantas notícias falsas, sem qualquer comprovação, que só existem para enraizar teorias conspiratórias de toda sorte.
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Nesta terça-feira (07), a Folha de S. Paulo publicou que uma postagem no YouTube sobre a constatação da eficácia da substância é falsa. Com verificação do projeto Comprova, expôs-se que o tratamento contra a Covid-19 realizado pelo médico de Nova York Vladimir Zelenko, com drogas como hidroxicloroquina, zinco e azitromicina, não tem comprovação científica nem foi publicado em nenhum periódico médico. Em um vídeo editado, a própria existência do estudo se baseia apenas na fala do médico. Não quer dizer que substância não funcione, apenas que, nesse caso, isso não pode ser afirmado.
O perigo da desinformação é evidente. Basta lembrar que assim que as primeiras notícias sobre a cloroquina, usada no tratamento da malária e de doenças autoimunes, começaram a ter destaque, o Brasil viu uma corrida às farmácias para a compra de um medicamento sem qualquer comprovação de eficácia. Mas as fake news também estavam lá, vendendo milagres. Enquanto isso, houve desabastecimento para quem realmente precisava do remédio.
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O infectologista Marcus Lacerda, da Fiocruz, que participa de um estudo com a cloroquina ainda com resultados inconclusivos definiu bem como a paciência é um elemento indissociável da prática científica. Com essa pesquisa preliminar, realizada em parceria com a Fundação de Medicina Tropical, indicando que a taxa de mortes de pacientes que fizeram uso de cloroquina se equivale à daqueles que não fizeram o tratamento, ele afirmou que, até haver uma conclusão, "tudo pode, mas não podemos achar nada". Não há nem mesmo espaço para ideologia ou politização: a hora é de fazer o que a ciência manda.
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