Em um intervalo de 12 dias, sete mortes ocorreram na BR 101, sendo cinco delas no trecho da via que passa por Linhares, no Norte do Estado. São tragédias que se acumulam, em escala acelerada, enquanto a solução sobre o futuro da rodovia ainda está em ritmo lento em função dos trâmites burocráticos.
Encontrar uma saída para o problema gerado após o pedido de devolução da concessão da BR pela EcoRodovias ao governo federal, anunciado em julho, tornou-se um desafio para o Estado. Missão que vai exigir muita negociação — e também pressão — nos bastidores do poder em Brasília, tanto por parte do governador Renato Casagrande quanto pela bancada federal.
O processo precisa andar. Quanto mais demorar, piores serão as tragédias. Como a ocorrida com o casal Sonia Juliatti, de 67 anos, e Vilson Gilbert, de 68, de São Gabriel da Palha. Eles morreram em um acidente no quilômetro 259 da BR 101, no último dia 20. O carro em que estavam se envolveu numa colisão com dois caminhões, em um trecho da rodovia que não é separado por muretas, na altura de Planalto Serrano, na Serra.
Nesse mesmo dia, outra tragédia foi registrada na BR 101. Um motorista morreu após sair da pista e cair com o carro em uma vala, em Linhares.
Houve mais quatro óbitos no trecho da BR que corta Linhares, em 12 dias. No último dia 25, uma ciclista morreu após a bicicleta onde estava colidir em uma moto, no km 143. Dez dias antes, no feriado da Proclamação da República, um motociclista faleceu e uma mulher ficou ferida quando a moto deles se chocou com dois caminhões no km 159,7 na região do distrito de Bebedouro.
A lista de tragédias ainda inclui outro acidente. Duas pessoas morreram após o carro em que estavam se chocar com uma carreta, no km 165,7, no último dia 13.
Nesse mesmo período, entre os dias 13 e 25 deste mês, também foram registrados outros acidentes na rodovia. Foram colisões, tombamentos e capotamentos que, se não causaram mortes, deixaram vítimas feridas, além de provocarem interdições na pista.
É claro que, em algumas dessas ocorrências, a imprudência e o desrespeito às regras de trânsito por parte de motoristas podem ter contribuído como causa do acidente. Porém, quando a via é bem estruturada, com trechos duplicados e separações entre as pistas de sentido contrário, os riscos são mitigados, mesmo quando há falha na condução por parte de quem está ao volante.
Estrutura que falta na maior parte dos 461 quilômetros da BR 101 que corta o Espírito Santo. Desde o início da concessão da via à EcoRodovias, em 2013, foram duplicados apenas 53 quilômetros, o que equivale a 13% do que era previsto em contrato até o 10º ano da concessão. Para explicar a não realização das obras exigidas, a concessionária alegou dificuldades para obter licenças ambientais e desapropriar/desocupar a faixa de domínio, além de queda na arrecadação provocada pela redução do volume de tráfego.
Sem a duplicação, trafegar na rodovia vira uma espécie de “roleta russa”. Com poucos trechos onde há terceira pista ou mesmo barreira de separação das vias, carros e caminhões passam em alta velocidade, em direções opostas, a poucos centímetros de distância. Nessas condições, o perigo está bem ao lado. Qualquer desatenção ou tentativa de ultrapassagem, pode se tornar fatal.
Não é de se estranhar, portanto, que o trecho da BR 101 no Espírito Santo seja a sexta rodovia com maior número de acidentes do país, de acordo com o Anuário 2021 da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Foram 1.746 ocorrências, que resultaram em 2.070 feridos, com 91 mortes no ano passado.
A indefinição sobre o futuro da rodovia cria uma atmosfera de preocupação quanto ao aumento desses números. É preciso lembrar que, em 2021, o país ainda sentia os efeitos mais severos da pandemia da Covid-19. Ou seja, havia a necessidade de isolamento e a circulação estava mais restrita. Quais as perspectivas para os próximos meses, quando a economia deve reaquecer? A combinação de tráfego intenso de caminhões e carretas com movimentação de turistas nas férias será suportada pela rodovia?
Durante o Pedra Azul Summit, evento promovido neste mês pela Rede Gazeta, o governador Renato Casagrande falou sobre o problema. Como informou o colunista Abdo Filho, Casagrande disse ter entrado em contato com o ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, para pedir mais rapidez na contratação dos estudos necessários para a relicitação da BR 101 no Estado. Ao mesmo tempo, é analisada a viabilidade de o próprio governo capixaba assumir o controle da rodovia, ainda que de forma provisória.
De fato, é preciso ser insistente. Cobrar, exigir, não ter vergonha de “ser chato”. Só assim as coisas andam, como é de conhecimento popular. Até agora, nem o pedido da EcoRodovias para devolver a concessão foi analisado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O que dá a dimensão de quão lento poderá se tornar esse processo sem a pressão necessária por parte do Estado. Já foram 10 anos sem os resultados esperados por parte da concessão da rodovia. Agora, não há mais tempo a perder.
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