A Terceira Ponte é um retrato do Brasil: um impávido colosso que coleciona adversidades desde a sua concepção, nos anos 70. Uma obra iniciada em 1978 como uma promessa de desenvolvimento que, embora consiga transmitir essa imagem pela grandiosidade de sua estrutura e pelo inegável avanço proporcionado na mobilidade na Grande Vitória, foi gerada cercada de problemas e ainda encara contratempos. Uma história marcada por excesso de gasto público, atrasos na conclusão e insegurança jurídica. Puro suco de Brasil.
Foram 11 anos para a finalização da obra, inaugurada em 23 de agosto de 1989. Quem viveu a era pré-Terceira Ponte se lembra do périplo necessário para se locomover entre Vitória e Vila Velha. Dez anos antes a Segunda Ponte havia sido inaugurada (obra também marcada por adiamentos e atrasos), proporcionando mais uma comunicação da Capital com o continente, mas ainda restrita à porção interna da Baía de Vitória, o que tornava uma verdadeira viagem uma ida da Praia do Canto à Praia da Costa, por exemplo.
Os erros que cercaram a construção da Terceira Ponte são também reflexo de tempos de mais desorganização gerencial e fiscal na administração pública, quando privatizações e concessões públicas para obras de infraestrutura ainda eram ideias embrionárias no país. Mas, tantos anos depois, vemos que o Brasil ainda encontra dificuldades em estabelecer uma relação mais próspera com o setor privado, com modelagens de licitação e contratos mais modernas, que garantam não somente segurança jurídica, como entregas dentro dos prazos. O imbróglio da BR 101 está mostrando a importância disso.
Três décadas depois, a Terceira Ponte acabou se mostrando defasada, com o aumento do tráfego. A população da Grande Vitória não é a mesma de 1989, e o impacto disso é sentido diariamente nos congestionamentos nos horários de pico. As obras de ampliação das faixas estão em curso, com a inclusão de uma ciclovia, a ser inaugurada no ano que vem. A Terceira Ponte, vista de fora, já ganha novos contornos.
Mas um capítulo ainda mais importante para esse importante eixo se dará em dezembro de 2023, com o fim do contrato de concessão da Terceira Ponte e da Rodovia do Sol com a Rodosol, assinado em 1998. As novas modelagens de administração da via estão em estudo, e a decisão pode ou não manter o pedágio, alvo de tantos protestos ao longo dos anos. A solução, se tomada com a racionalidade que exige, pode definir um futuro descolado dessa história com tantos altos e baixos que é a cara do Brasil.
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