A colunista Letícia Gonçalves disse tudo e mais um pouco sobre a sorrateira aprovação de uma emenda que concede o pagamento de auxílio-alimentação no valor de R$ 1.829,79 por mês aos deputados estaduais. Sobraram "faltas" na hora de aprovar o benefício: faltou transparência, faltou informação, faltou discussão, faltou tempo, faltou atenção, faltou respeito com o cidadão/contribuinte/eleitor.
E continuam faltando palavras para julgar o comportamento de deputados que fizeram do silêncio o escudo para encobrir seus interesses particulares, um exemplo estridente do patrimonialismo que não abandona o setor público brasileiro.
Uma votação que em 8 minutos foi decidida sem que se mencionasse qualquer palavra que pudesse fazer referência ao benefício. Sem que nenhum parlamentar fizesse qualquer questionamento na ocasião. Restou só o silêncio, que insinua a conivência ou, na melhor das hipóteses, o descuido. Em qualquer um dos casos, os deputados falharam como representantes do povo.
Deputados estaduais deveriam ser os guardiões do dinheiro público, responsáveis que são pela aprovação do Orçamento estadual. Está no espírito do cargo a busca pela distribuição desses recursos com eficiência, para atender acima de tudo os interesses públicos, para melhorar a vida da sociedade.
É inaceitável que sejam eles próprios os responsáveis por comprometer esses recursos com despesas com pessoal. Pior ainda, em benefício próprio. O impacto anual do vale-alimentação será de R$ 658,4 mil caso os 30 deputados da Assembleia façam o requerimento dessa benesse. Deputados que recebem salário de R$ 31.238,19, uma cifra inimaginável para a maior parte da população.
O jabuti, a artimanha política de inserir em uma proposta legislativa outra sem ligação com ela, é como os seus pares do reino animal: ele nunca sobe na árvore sozinho. Não foi sem querer que a emenda do vale-alimentação foi aprovada na Assembleia. Na política, nada é por acaso.
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