A tirolesa é um esporte de aventura popular em todo o mundo, no qual a pessoa vai de um ponto ao outro fazendo uma travessia em um cabo de aço. É comum em pontos turísticos de paisagens naturais, uma forma "radical" de apreciar a paisagem. Uma família que paga por esse serviço, portanto, espera que a estrutura e os equipamentos estejam dentro de padrões de segurança, com fiscalização rígida e recorrente. Ninguém quer se colocar em risco.
Há um ano, o engenheiro civil João Paulo dos Reis, 47 anos, levou a filha adolescente e uma amiga dela para uma aventura dessas no Morro do Moreno, em Vila Velha, mas não retornou dela com vida. Um vídeo feito por ele momentos antes da descida mostra que houve certa apreensão em relação ao mecanismo da tirolesa. Uma preocupação que acabou sendo premonitória.
Por incrível que pareça, até hoje não há resultado para a perícia realizada nos equipamentos que eram usados pela vítima no momento do acidente. Na época, no boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar constava que um dos responsáveis pela atração, identificado como um cabo do Corpo de Bombeiros, um dos sócios cotistas do empreendimento, teria se recusado a apresentá-los aos policiais.
Foi um outro sócio que, dias depois, afirmou que o equipamento havia sido entregue para a Polícia Civil. O resultado dessa perícia permanece uma incógnita. E o Corpo de Bombeiros apenas informa que há um procedimento administrativo disciplinar em andamento na corregedoria, sem detalhes que possam ser divulgados.
A tirolesa no Morro do Moreno foi inaugurada em dezembro de 2019 após algumas controvérsias, relacionadas sobretudo ao impacto ambiental da atração. Ao mesmo tempo, surgiu como uma oportunidade de incrementar o turismo e o lazer em uma área que é cada vez mais utilizada para esses fins na Grande Vitória, mas que ainda carece de infraestrutura. O evento que vitimou o engenheiro ocorreu menos de um ano e meio após a inauguração. Mas antes, em janeiro de 2020, uma criança já havia ficado pendurada na descida da tirolesa e foi resgatada pelo Corpo de Bombeiros.
A tirolesa segue interditada desde a morte do engenheiro, o mínimo a ser feito, uma vez que a investigação segue emperrada. Sejam quais forem as circunstâncias que estão causando tamanha leniência, elas precisam ser apuradas e superadas, para que a família tenha uma resposta para uma perda tão inesperada.
Se a negligência com a segurança for confirmada, os responsáveis devem ser punidos e a empresa impedida de atuar. O problema é que o tempo passa e com ele se reduz a confiança de que as investigações sejam de fato acuradas. O tempo da justiça é implacável: quanto mais tarda, maior a chance de acabar sendo falha.
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