O clima de terror e de guerra vivido por moradores da região do Bairro da Penha, em Vitória, é pavoroso. O estopim mais recente foi um confronto, na última segunda-feira, que levou à morte de um adolescente de 16 anos. Os policiais informaram que ele era conhecido nas redes sociais por ostentar armas em fotos e vídeos, inclusive fuzis, e por ter envolvimento com o tráfico de drogas.
Os atos que se sucederam ao conflito armado seguiram um roteiro visto em outros casos parecidos. Encapuzados armados, usando pedras, fecharam ruas, colocaram fogo em algumas entradas da região e expuseram toda a covardia ao atacar um motorista de ônibus com chutes e socos enquanto apedrejavam o veículo. Protestavam pela morte do adolescente horas antes. Covardes agem assim. Escondem-se atrás de trapos no rosto, usam adolescentes na linha de frente, obrigam moradores ao silêncio ou a embarcar na reação criminosa em falso tom de manifestação.
Policiais militares cumprem um papel difícil ao serem afrontados por indivíduos com fuzis e outras armas poderosas. Indivíduos que não têm nada a perder, ao contrário da polícia. Enfrentar policiais tem consequências. Precisa ter. Mas quando criminosos covardes agem como estão agindo em vários e vários casos sobre os quais já falamos aqui, eles enfrentam a sociedade como um todo. E precisam sofrer as consequências disso também. A lei precisa ser cumprida. É preciso que as respostas a esses grupos criminosos sejam dadas incessantemente pela Secretaria de Estado de Segurança Pública.
O terror instalado na região do conflito da noite de segunda-feira é conhecido e amparado nos números revelados por Vilmara Fernandes: é a área onde mais ocorrem confrontos com a polícia e que concentra quase a metade dos que ocorrem em Vitória. Não é pouco. Não é tranquilo. Não dá pra normalizar. Não dá para ignorar que, em meio a essas balas cruzadas há uma maioria trabalhadora, cumpridora de leis, horários, que vai pra escola, usa ônibus na madrugada, e que, infelizmente, é refém de toda essa imposição do medo.
Criminoso não é amigo de morador assim como bandido bom não é o morto. Bandido bom não existe.
Imagina não poder sair de casa pelo medo de ser surpreendido por um tiro ao abrir a porta. Imagina a angústia de pais que querem um futuro mais leve e próspero para os filhos, mas não encontram apoio para dar o primeiro passo. Imagina o pavor constante de ser confundido com um traficante e terminar da pior forma uma vida esforçada e ainda esperançosa de que um dia tudo iria melhorar. Essa sequência de frustrações diárias para quem vive em áreas conflagradas coloca também outros moradores da cidade em trincheiras de medo e sobressalto. O estrago é sempre ampliado.
Desde ontem tem morador evitando a avenida Leitão da Silva, desde ontem tem gente mudando de horário para se sentir um por cento mais seguro, desde ontem tem morador trancado em casa, desde ontem os jornais informam mais uma vez essa vergonha moral para a cidade provocada por covardões mal intencionados, e, desde ontem uma reflexão necessária se tornou insistente: até quando as pessoas, instituições e autoridades vão permitir que isso continue acontecendo e quando, verdadeiramente, vão pensar no amanhã capaz de deixar cenas e ações criminosas como essas presas no passado?
A sociedade precisa de paz. E a sociedade pode construir a paz.
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