Tiroteios em Vitória são intimidação que passou de todos os limites

Confrontos armados que remetem a um cenário de guerra assustaram moradores da região central de Vitória em uma madrugada de terror que durou seis horas, expondo a vulnerabilidade de quem vive nesses bairros

Publicado em 20/07/2022 às 02h00
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Armas exibidas por criminosos em morro de Vitória. Crédito: Reprodução/TV Gazeta

Toda ação gera uma reação. A madrugada de terror desta terça-feira (19), com confrontos armados registrados na região central de Vitória (Piedade, Alagoano, Moscoso e Cabral) cujos tiroteios foram ouvidos de bairros de Vila Velha e Cariacica, pode ter sido uma reação ao ataque a tiros que deixou um jovem de 18 anos morto em uma escadaria da Ilha do Príncipe no domingo (17). A relação entre os dois episódios está sendo investigada.

Guerras são assim, feitas de uma sucessão de ataques e contra-ataques, e o conflito urbano promovido pelo tráfico de drogas não inova nas estratégias. É uma batalha territorial. Em algum nível, acaba tendo suas previsibilidades.

É por essa razão que se cobra com tanta recorrência que as autoridades de segurança pública desenvolvam trabalhos de inteligência eficientes, que permitam antecipar os passos da criminalidade. Para farejar qualquer sinal de conflito e reprimi-los. Afinal, trata-se de uma guerra por poder que coloca em situação vulnerável moradores que nada têm a ver com essas ambições criminosas. É muita gente vivendo sob a égide do medo. É muita gente que tem o direito de viver em paz.

Os moradores da Piedade, por exemplo, ainda vivem com o trauma de 2018, quando os conflitos no morro provocaram um êxodo de famílias da região. A proximidade com a violência atingiu níveis insuportáveis, com ataques de facções rivais provocando a morte de inocentes. Em dezembro daquele ano, foi inaugurado um módulo de Destacamento de Polícia Militar no bairro, uma forma de o Estado se estabelecer na região de uma forma ostensiva.

Instituto Raízes, que desenvolve ações sociais na região, divulgou nota na qual relembrou a onda de violência de 2018 e fez algumas reivindicações: "Por que a Base da Polícia Militar não faz mais as rondas diurnas e noturnas na comunidade? Quais são os resultados do trabalho dessa base? Essas são as perguntas iniciais, de outras várias que temos", indagou a ONG. Perguntas que merecem respostas do poder público.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) informou que o policiamento na região será reforçado nos próximos dias, mas é preciso que a estratégia não seja apenas imediatista. A situação nesses bairros exige um planejamento integrado de restauração do Estado, com todas as ações de educação, lazer e serviços essenciais que cabem nesses casos. Por se tratar de uma área conflagrada, é primordial que a ordem seja restabelecida. Mas com visão de longo prazo. Não adianta estar nos bairros em momentos de confronto e depois abrir novamente os espaços para serem ocupados pela criminalidade.

É essa ausência que fez com que uma repórter e um cinegrafista da TV Gazeta fossem ameaçados, praticamente ao vivo, por um dos bandidos no Cabral. Grave para  a liberdade de imprensa, grave para quem vive na região, grave para a sociedade.

Até a finalização deste editorial, na noite desta terça, apenas um dos criminosos havia sido preso. Não houve mortes registradas nem feridos, o que não diminui a gravidade da intimidação dos bandidos. A repressão aos responsáveis pelo show de horrores é a reação que se espera das autoridades policiais.

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