Tráfico inflaciona extorsão de empresas: quem vai colocar um freio nesse abuso?

São empreendedores que estão tendo que arcar com um custo inconcebível: é como se tivessem que pagar impostos para criminosos, que precisam "aumentar a arrecadação" diante do aumento das próprias despesas

Publicado em 25/09/2024 às 01h00
Tráfico
Extorsão do tráfico a empresários. Crédito: Arte: Geraldo Neto

Se já era inaceitável antes, está ainda mais inconcebível agora. Traficantes de bairros de Vitória, em dificuldades financeiras por conta de confrontos por território e gastos com advogados, estão aumentando o valor do "pedágio" cobrado de comerciantes e empresários que atuam em bairros conflagrados. Antes, como noticiado pela colunista Vilmara Fernandes, o valor desembolsado ficava entre R$ 3 mil a R$ 5 mil. Agora, para uma empresa continuar funcionando são necessários R$ 15 mil.

Aumento de preço tão expressivo, sob a égide do Estado democrático de Direito, é considerado uma prática abusiva, mas esses empreendedores não podem recorrer ao Procon quando se trata de uma extorsão. Um crime. Levando em conta que, desde que a prática foi denunciada por este jornal,  em março passado, nada mudou (até piorou), fica cada vez mais evidente que essas pessoas não podem contar com ninguém. Estão à própria sorte, enquanto tiverem condições financeiras de continuarem pagando os traficantes.

Vale repetir o que já foi dito neste espaço: em um país no qual empreender é um ato de coragem diante da burocracia, da carga tributária e das instabilidades econômicas, é preciso também bravura para encarar bandidos que se colocam como obstáculo a quem quer gerar riquezas para o país com o próprio trabalho, além de propiciar serviços acessíveis a quem tanto precisa.

São empreendedores que estão tendo que arcar com um custo inconcebível: é como se tivessem que pagar impostos para criminosos, que precisam "aumentar a arrecadação" diante do aumento das próprias despesas. As facções criminosas precisam de mais dinheiro não somente para se armarem, mas também para manter suas lideranças escondidas no Rio de Janeiro.

Os relatórios da Operação Sicário II, da Polícia Civil, anexados a processos que tramitam na Justiça estadual, apontam que as extorsões no Espírito Santo começaram a ser praticadas em 2020. Quatro anos depois, elas estão disseminadas no mundo do crime.

O tráfico, portanto, passou a adotar uma conduta mafiosa que, no Rio de Janeiro, já vem sendo adotada há tempos pelas milícias. Um desafio a mais para as autoridades de segurança pública capixabas, que precisam se fazer presentes nesses bairros onde a lei do tráfico acaba falando mais alto. 

A cobrança dessas taxas é um obstáculo para a cidadania, e não são somente a prisão de traficantes que vai acabar com essa situação, visto que o poder no tráfico é rapidamente substituído. O que muda o cenário é a presença estatal com escolas estruturadas, saúde de qualidade, equipamentos de esporte e lazer e, sobretudo, oportunidades. 

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