Trânsito já mata mais que homicídios no ES: será que agora a ficha vai cair?

A pequena Lara, de apenas 9 anos, foi uma das vítimas mais recentes, em um acidente na Rodovia das Paneleiras, em Vitória. As estatísticas do primeiro semestre deste ano mostram, pela primeira vez, que as mortes no trânsito superaram os homicídios

Publicado em 16/07/2024 às 01h00
Lara Thayte Ribeiro de Oliveira, em Fortaleza, no final de semana antes da viagem ao Espírito Santo
Lara Thayte Ribeiro de Oliveira, em Fortaleza, no final de semana antes da viagem ao Espírito Santo. Crédito: Acervo Pessoal

A foto da pequena Lara, que abre este editorial, é uma lembrança dolorosa e recente da brutalidade do trânsito. A menina de 9 anos, que passava as férias escolares com o pai no Espírito Santo, não sobreviveu a um acidente no último dia 8, na Rodovia das Paneleiras, em Vitória. 

Não é somente no noticiário que as mortes no trânsito causam comoção, é difícil encontrar alguma pessoa que não tenha perdido ou conheça alguém que perdeu um ente querido em um acidente, em cada esquina.

No primeiro semestre deste ano, houve uma reviravolta inédita nas estatísticas: pela primeira vez, o número de mortes no trânsito (472) superou o de homicídios (432). Mérito das autoridades de segurança pública, é claro, que vêm cumprindo as metas de redução de assassinatos, ano após ano. Mas o crescimento de óbitos no trânsito, em relação ao mesmo período de 2023, também foi considerável, de 17,7%.

Paradoxalmente, por mais que as mortes causem consternação momentânea, a violência nas ruas, avenidas e rodovias ainda não gera a mesma indignação que os homicídios. Talvez porque, no trânsito, os responsáveis não sejam socialmente encarados como pessoas fora da lei. Mas os crimes de trânsito existem. E podem ser evitados com mudanças de comportamento ao volante, com o cumprimento das leis.

No trânsito, há um senso comum de que as mortes, por serem acidentais, são também inevitáveis. Uma noção enganosa, quando se vê que comportamentos negligentes e até mesmo criminosos dominam as ocorrências. Para especialistas, 90% dos acidentes poderiam ser evitados.

Para tanto, é preciso haver fiscalização mais eficiente, com abordagens qualificadas aproveitando o uso das câmeras, já tão disseminadas. A vigília é determinante para reduzir as condutas imprudentes. Outro ponto é que não pode haver impunidade, o poder do exemplo é fundamental. E, por mais ingênuo que pareça, é imprescindível capturar corações e mentes para uma mudança que venha de dentro para fora. O trânsito pode ser sim mais humano.

Falamos em brutalidade no trânsito, mas o trânsito é feito por pessoas. Toda violência é provocada por gente de carne e osso, com discernimento para tomar as melhores decisões, mas que ainda insiste em escolher os piores caminhos. Beber e dirigir, conduzir o veículo de forma negligente e imprudente, abusar da velocidade... todos estão cansados de saber os riscos dessas atitudes ao volante. Mas é a insistência na estupidez que segue tirando tantas vidas, diariamente. A ficha precisa cair.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Sesp homicídio trânsito

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.