Um ano depois, nova quarentena no ES deve ser encarada com seriedade

Se no ano passado o medo provocado pelo desconhecimento sobre o vírus conseguiu deixar as ruas vazias em um primeiro momento, hoje a informação está disseminada e deve ser a base para uma postura mais responsável

Publicado em 18/03/2021 às 02h00
Pandemia
Há um ano, população do ES passava por primeira experiência de isolamento social. Crédito: iStock/Divulgação

quarentena que se inicia nesta quinta-feira (18) em todos os 78 municípios do Espírito Santo tem o efeito de um déjà-vu até quando se olha o calendário. No dia 17 de março do ano passado, o governo estadual começava a adotar as primeiras medidas restritivas para conter o avanço do novo coronavírus, o que provocou uma mudança na rotina privada e na vida social sem precedentes.

Ainda não havia mortes registradas pela Covid-19 no Estado, e o número de casos confirmados não passava de oito. A comparação com o dia 17 de março de 2021 impressiona quando se constata que, em apenas 24 horas, foram confirmados 2.146 casos da doença. Para distanciar ainda mais os dois cenários, acumulam-se desde então 351.116 diagnósticos confirmados e 6.819 mortes em território capixaba.

Naquele primeiro estágio, quem tinha condições de se fechar em casa se cercou não somente de mantimentos e álcool gel, provocando um breve desabastecimento, como de uma certa dose de paranoia. Àquela altura, compreensível.

O novo coronavírus e sua transmissibilidade ainda eram um mistério para a comunidade científica internacional. A recomendação do uso de máscaras ainda não estava consolidada. O que restava era o medo: até mesmo abrir a porta da residência para receber alguma entrega era considerado um comportamento de risco. Mas não demorou muito para o isolamento social desandar, sobretudo pela ausência de um pacto nacional de enfrentamento da doença.

Um ano depois, as novas variantes do vírus se espalham e contagiam a todos com novas dúvidas, não somente sobre o potencial mais alto de contágio quanto à gravidade. A ciência continua buscando respostas com rapidez, e é inegável que o terreno do conhecimento sobre a Covid-19 hoje é mais sólido.

Especialistas cada vez mais reforçam que o distanciamento social não só reduz a vulnerabilidade à infecção como pode inibir a probabilidade de casos mais graves, possivelmente pela menor inoculação viral.  Recentemente, foi noticiado estudo prévio da Fiocruz que apontou que um adulto infectado com a variante P.1 apresenta uma carga viral dez vezes maior que o quadro por outras variantes. Diante dessa informação, fica mais evidente a importância de se evitar aglomerações.

Um ano depois das primeiras medidas para reduzir a circulação de pessoas no Estado, está mais do que evidente que se o contato social for reduzido, o que é o objetivo das novas regras impostas no Espírito Santo até o dia 31 de março, é possível frear o número de casos e, assim, evitar o colapso do sistema de saúde no  atendimento aos pacientes mais debilitados. Vidas serão poupadas.

Não dá para tomar o mau exemplo das iniciativas anteriores que falharam como argumento contrário a uma quarentena que seja de fato eficiente, com o comprometimento da sociedade civil em prol dos interesses coletivos. Experiências como a do Reino Unido e de Portugal mostram que um isolamento bem feito consegue mudar o cenário local da pandemia.

E o Brasil já tem o exemplo de Araraquara, no interior de São Paulo, que conseguiu registrar queda de 50% de transmissão do vírus em 10 dias de lockdown. A cidade, contudo, ainda atravessa um pico de mortes e internações decorrente da alta incidência da variante brasileira nos casos detectados na população.

É verdade que o Espírito Santo não está em lockdown, a situação é outra. A quarentena por aqui impede o funcionamento de serviços não essenciais, mas não impõe proibições à circulação de pessoas. Mais uma vez a eficácia da medida dependerá dos comportamentos individuais e do rigor da fiscalização, a cargo do Estado e das prefeituras.

Se no ano passado o desconhecimento sobre o vírus conseguiu deixar as ruas vazias em um primeiro momento, hoje a informação está disseminada e deve ser a base para uma postura mais responsável. Todos estão cansados, mas é preciso entender que esse é o momento mais crítico da pandemia para os capixabas, quando mais de 90% dos leitos de UTI estão ocupados.

A quarentena não terá os resultados esperados apenas se não for cumprida. O filme que entra em cartaz nesta quinta-feira pode até ter um enredo parecido com aquele de um ano atrás, mas novos protagonistas, como as vacinas que chegam aos poucos, trazem uma dose de otimismo para encarar os 14 dias que estão pela frente. Um desfecho no qual se reduzam a contaminação, as mortes e a ocupação dos hospitais é possível.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Governo do ES Covid-19 Pandemia Isolamento social Quarentena no es

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.