O Censo Demográfico, o mais importante evento estatístico brasileiro, realizado nas viradas das décadas, encontrou primeiramente um obstáculo imponderável para ser realizado em 2020: uma pandemia que provocou uma reviravolta que, a esta altura, todos estão cansados de saber como foi. Um adiamento conjuntural e justificável, visto que até uma Olimpíada precisou ter a data alterada em função da emergência sanitária.
No ano seguinte, os Jogos Olímpicos de Tóquio acabaram sendo realizados, e mesmo com restrições o mundo pôde testemunhar o desempenho de seus maiores atletas. Já o recenseamento brasileiro precisou ser novamente postergado, não mais por uma situação extraordinária como a Covid-19, mas por um corte na verba prevista pelo governo federal. O perigo de um apagão estatístico justamente em um período tão sensível para o país ficou mais próximo.
Na previsão orçamentária para 2022, também houve percalços: foram destinados R$ 2 bilhões para a realização da pesquisa, mas o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) destacou a necessidade de R$ 292 milhões adicionais, o que foi autorizado pela Secretaria Especial do Tesouro e Orçamento em outubro. Assim, o Censo 2022 começou a ver a luz do dia.
O Censo é o levantamento mais completo realizado no Brasil e serve de base para outros estudos e índices calculados pelo IBGE. Quantos somos e quem somos? É a pesquisa, de porta em porta e com a meta de chegar a todos os lares brasileiros, que vai dar as respostas imprescindíveis para o direcionamento de recursos e a formulação de políticas públicas mais eficientes em todo o país.
Como, por exemplo, os repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FMP), fonte de recursos das prefeituras. Com esses dados, é possível começar a planejar uma reação mais organizada aos impactos da pandemia na educação, além de conhecer a dimensão real do analfabetismo e da evasão escolar. Na saúde pública, a atualização das informações vai permitir uma distribuição de recursos adequadas à realidade de Estados e municípios. São informações que têm impacto direto na vida do cidadão e não podem ficar defasadas.
Como se vê, o Censo promove um redescobrimento do Brasil a cada dez anos, registrando as mudanças demográficas e socioeconômicas nesse período. Uma fotografia bem nítida da realidade brasileira.
O processo de coleta das informações da população teve início nesta segunda-feira (1º) em todo o país. No Espírito Santo, são 3,6 mil recenseadores que vão visitar aproximadamente 1,4 milhão de domicílios em três meses. Em todo o Brasil, o objetivo é visitar 75 milhões de lares. A colaboração de cada pessoa com o Censo é a colaboração com o próprio país, é como o Brasil tem a possibilidade de conhecer o Brasil. É um exercício de cidadania de cada brasileiro, em benefício próprio e da coletividade.
Em edições anteriores, a complexidade geográfica e qualidade dos resultados no Brasil colocaram o Censo do IBGE em posição de destaque internacional. Em 2022, não pode haver retrocessos nesse padrão. O IBGE adianta que até o momento não há necessidade de recursos complementares para a conclusão do levantamento. O Censo é uma política de Estado exitosa, que precisa do comprometimento dos governos para continuar assim.
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