Uma lembrança aos políticos: o povo é pobre, gente

A carreira política é uma escolha que, em muitos casos, enche os olhos pelos motivos equivocados. O poder de tomar decisões capazes de transformar a vida da população é o que deveria mover cada vereador e deputado deste país

Publicado em 16/06/2023 às 01h00
Pobres
Crédito: Arquivo/Agência Brasil

O título deste editorial é uma lembrança a vereadores, deputados e todos os representantes eleitos pelo povo de que, enquanto eles tomam decisões que só beneficiam a eles próprios, um percentual alto da população brasileira ainda vive com muito pouco, esperando que eles cumpram seus compromissos com o interesse público. Há muito a ser feito além de seus próprios umbigos.

Mesmo que um estudo do Instituto Jones dos Santos Neves tenha recentemente mostrado que a pobreza recuou no país entre 2021 e 2022,  ainda são mais de 80 milhões de pessoas consideradas pobres ou extremamente pobres.

Os limites das linhas de pobreza e extrema pobreza são as rendas mensais de R$ 665 e R$ 208, respectivamente. É inconcebível que os políticos não se esforcem em memorizar essas cifras quando decidem meter as mãos nos cofres públicos para aumentar, deliberadamente, os próprios rendimentos. Sem sentimento de culpa.

A Câmara de Vitória confirmou o aumento de 97% no salário dos vereadores sem qualquer rubor. A partir de 2025, cada vereador vai embolsar R$ 17,6 mil por mês.  Já tinha promovido antes o aumento no número de vagas para a próxima legislatura, o que não deixa de ser uma decisão que beneficia os próprios vereadores. Já a Câmara de Vila Velha fez o caminho contrário, primeiro aumentou os próprios rendimentos, agora tenta aprovar a criação de novas vagas.

Levantamento deste jornal mostrou que, até o momento, câmaras municipais de 18 cidades capixabas já aprovaram aumento de salário ou de vagas de vereadores. Nem todos os casos com aumentos tão exorbitantes quanto os de Vitória e Vila Velha. Na Câmara de Leopoldina, por exemplo, o salário passou de R$ 5.971,01 para R$ 6.874,54. Um reajuste condizente com os aplicados na iniciativa privada, uma medida necessária diante do quadro inflacionário e da perda de valor do dinheiro. Não se deve penalizar os aumentos, mas sim os abusos.

No Legislativo estadual, ainda permanece o gosto amargo do tíquete-alimentação de R$ 1,8 mil aprovado para os deputados. A mera comparação desse valor com aqueles citados anteriormente, que são a barreira para a pobreza ou a extrema pobreza, é suficiente para questionar qualquer parlamentar que, já com um salário de R$ 31,2 mil garantido na conta bancária, tenha solicitado ou venha a solicitar o benefício.

A carreira política é uma escolha que, em muitos casos, enche os olhos pelos motivos equivocados. O poder de tomar decisões capazes de transformar a vida da população é o que deveria mover cada vereador e deputado deste país. Mas, ano após ano, quem ocupa esses cargos, independentemente de ideologia, acaba vencido pela sedução do poder que pode trazer benefícios próprios. 

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