A expectativa da vacinação contra a Covid-19 no Brasil amplificou uma controvérsia anterior à própria pandemia, incrementando as teorias conspiratórias disseminadas nos últimos anos em todo o mundo sobre a segurança das vacinas. Sem nenhum embasamento científico, os movimentos antivacina cresceram nesta década sobretudo ao associar a imunização contra o sarampo a casos de autismo.
A origem da desconfiança remonta ao ano de 1998, quando uma pesquisa preliminar na Grã-Bretanha aventou a possibilidade. O próprio estudo foi refutado por inconsistências, e desde então a comunidade científica se posiciona recorrentemente para desfazer essa associação.
Contudo, a internet se tornou um campo fértil para que essas teorias contagiassem mais pessoas nos últimos anos, com relatos sem provas, estudos científicos derrubados há décadas e falsas argumentações sobre efeitos colaterais. Em 2019, portanto antes da crise sanitária, o crescimento dos ataques à credibilidade das vacinas causou apreensão entre médicos e cientistas.
E a consequência é concreta: a queda de cobertura vacinal em muitos países tem cobrado um preço alto. A Organização Mundial de Saúde divulgou em novembro que as mortes por sarampo em todo o planeta atingiram, em 2019, o patamar mais elevado em 23 anos, com 207,5 mil óbitos.
A corrida das vacinas para frear o avanço do novo coronavírus se justifica pela urgência, com diferentes laboratórios, universidades e institutos científicos realizando testes com protocolos mais acelerados, envolvendo pesquisa meticulosa e tecnologia de ponta. Recuos e revisões são inerentes ao processo, para garantir não só a eficácia, mas também impedir que efeitos colaterais graves coloquem em risco a vida de quem se imuniza. Nenhuma vacina será distribuída ou colocada no mercado sem que a segurança seja comprovada.
Já há registro de nove casos de reação alérgica à vacina da Pfizer após mais de 100 mil pessoas terem recebido uma dose do imunizante. Especialistas afirmam, contudo, que os riscos são baixos, comparados mesmo a outros medicamentos populares. E o NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA) já planeja um estudo clínico para desvendar o motivo dessas reações adversas.
Quando houver uma vacina aprovada no Brasil, não haverá razão para temê-la, os critérios permanecem sendo rigorosos. Por isso, causa assombro que o número de pessoas que pretendem não se vacinar tenha crescido consideravelmente nos últimos meses. No dia 12 de dezembro, o Datafolha divulgou uma pesquisa na qual 22% dos entrevistados afirmaram que não planejam ser imunizados; em agosto, esse percentual era de 9%.
O Supremo Tribunal Federal (STF), por dez votos a um, autorizou a aplicação de medidas restritivas para quem se recusar a se vacinar contra a Covid-19. O entendimento, vale esclarecer, é de que a obrigatoriedade não significa o uso da força ou da coerção. Mas abre espaço para sanções previstas em lei. Não muito diferente do que já é feito hoje com outras vacinas.
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A vacinação preventiva é um marco civilizatório, que transformou a própria noção de bem-estar social. Hoje, as pessoas não só vivem mais, mas melhor, como resultado desse processo de imunização que avançou ao longo do século XX. Doenças com índices de mortalidade elevado como a varíola deixaram de circular pelo empenho de cientistas e governantes e o envolvimento da população. No Brasil, a erradicação da poliomielite em 1990 é um emblema do sucesso das vacinas. Negar a importância delas no êxito das políticas de saúde pública é negar o própria qualidade de vida da qual a humanidade desfruta hoje.
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