Vai chover muito. E só investimentos em prevenção vão reduzir os danos

A imprevisibilidade exige contingência do poder público diante do excesso e da falta de chuvas. E as cidades precisam estar cada vez mais preparadas para suportarem as intempéries

Publicado em 31/08/2022 às 02h00
Chuva
Pedras no morro Boa Vista, em Vila Velha. Crédito: Fernando Madeira

Tão certo quanto o sol voltar a brilhar depois de as chuvas provocarem  vítimas e transtornos nas cidades capixabas é  haver um editorial deste jornal a cobrar mais planejamento do poder público. É papel da imprensa essa cobrança, com a esperança de que a insistência entre na cabeça dos gestores públicos.

Com a proximidade do período historicamente mais chuvoso no Estado, entre outubro e março, vale fazer o contrário: mostrar antes o que as prefeituras da Grande Vitória têm feito ou não para se preparar para as tormentas.

Porque pode ser que chova muito, pode ser que chova pouco. Independentemente do que possa prever a nossa vã meteorologia (uma ciência imprescindível para a organização da sociedade, diga-se),  o trabalho preventivo deve ser contínuo, de formiguinha mesmo, perpassando mandatos, sobretudo diante da certeza de que, com as alterações climáticas, não há mais certezas. A imprevisibilidade exige contingência diante do excesso e da falta de chuvas. E as cidades precisam estar cada vez mais preparadas para suportarem as intempéries.

Na reportagem de A Gazeta,  o foco foram as áreas de risco. Na Grande Vitória, 33.930 pessoas  moram em regiões de risco iminente de deslizamentos, inundações, entre outras tragédias, em maior e menor grau. E as prefeituras enviaram as medidas que estão tomando:

Em Vitória, a prefeitura lançou o Programa Casa Feliz e Segura, com abertura de editais de contratações para a construção de encostas nas áreas de risco alto e muito alto e também reconstrução e melhorias de imóveis. Já em Vila Velha está sendo realizado o mapeamento de quem vive nesses locais mais perigosos. A prefeitura também afirma que está planejando  um sistema de alerta de chuvas intensas e risco de desastres para os moradores que vivem nessas regiões, mas sem dar prazos. Também firmou um acordo de cooperação técnica com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU/ES) para a atuação de voluntários arquitetos em áreas de risco.

Em Cariacica, a administração afirmou que realiza as obras de proteção nas encostas, com a instalação de geomantas, para evitar as ocorrências de deslizamentos, e também  a limpeza preventiva com coletores alpinistas. O município reforçou que realiza a limpeza de canais, ruas, avenidas, córregos e redes de drenagem para o escoamento da água das chuvas. Na mesma linha, a prefeitura da Serra informou que o município investe em capacitação e conscientização e planos de manutenção e limpeza de bueiros e canais. Na nota, afirmou ter um plano de gerenciamento de desastres, mas sem especificar as ações.

Guarapari não informou as áreas de risco e a população que vive nelas, mas disse que realiza a limpeza e construção de redes pluviais. Viana não respondeu à reportagem.

Ao final, muitas das ações soam genéricas, outras mais concretas. Os municípios são a esfera mais próxima da população e precisam ser atuantes, pensando em novas soluções que impactem a vida das pessoas mais vulneráveis. Mas não cabe somente às cidades, obras mais amplas de drenagem e outras intervenções de infraestrutura dependem também de recursos estaduais e federais, o que mostra que o enfrentamento da calamidade provocada pelas chuvas carece de uma atuação integrada e eficiente.

Em algum momento, vai chover muito. Não dá para saber quando, mas vai. Os padrões climáticos estão alterados, e especialistas avisam que eventos extremos de chuvas serão cada vez mais comuns. Não dá para controlar a natureza, mas é possível mitigar os efeitos dela nas áreas urbanas, com uma concepção menos predatória da vida nas cidades. O poder público, em todas as suas esferas, precisa entender essa urgência para que editoriais após a tempestade deixem de ser tão necessários.

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