O medo de qualquer pessoa é, ou deveria ser, abrir a torneira e não encontrar água. Diante do cenário de fim de mundo que tomou conta do Brasil — e do Espírito Santo em menor escala, ainda assim assustadora —, com o tempo excessivamente seco sendo um ambiente propício aos incêndios, criminosos ou não, esse temor está ainda mais acentuado.
No Espírito Santo já é oficial: o governo estadual decretou estado de alerta pela escassez de água. Não chove consideravelmente há 90 dias, e deve continuar sem chover. O impacto na vazão dos rios, a fonte da águas que chegam às nossas casas, é constatado: o Rio Santa Maria, por exemplo, responsável por parte substancial do abastecimento na Grande Vitória, está com a vazão de 3,75 metros cúbicos por segundo (m³/s); no último ano, a média foi de 18,09 m³/s. A redução é de 79%. Outras bacias importantes, como as do Jucu, Itapemirim e Doce, também sentem os efeitos da seca em seus leitos, com níveis mínimos.
O estado de alerta. neste momento, vai impor redução de consumo aos grandes setores: indústria e agronegócio, como em 2015, quando se registrou uma crise hídrica. Para ter resultados, é necessário fôlego fiscalizatório e punitivo, para que de fato se consiga poupar água nesses setores que são os maiores consumidores.
Não há ainda indicação de racionamento para a população, a medida mais extrema. Mas não pode faltar conscientização: os alertas de que pode vir a faltar água não podem ser ignorados por ninguém. A redução do consumo pode e deve ser feita de forma voluntária, para evitar que se torne compulsória.
A crise, contudo, é estrutural. Os setores econômicos precisam adotar de forma sistêmica técnicas de reúso dos recursos hídricos. A captação de água da chuva, por exemplo, é uma forma inteligente de reaproveitamento, que precisa ser mais disseminada. E os governos e legisladores têm papel essencial nessa transformação, através de políticas públicas.
Quanto às fontes emergenciais de água, vale lembrar que após a crise hídrica de 2015 a construção de barragens de uso múltiplo se tornou uma política de Estado. Houve muitas entregas, mas ainda se lamenta que a construção da barragem do Rio Jucu entre Domingos Martins e Viana, anunciada em 2018, só tenha começado a sair do papel no mês passado. O prazo de entrega é 2026, se não houvesse tanto atraso, o reservatório já poderia estar garantindo atualmente algum nível de segurança hídrica.
É essa a sabedoria que será exigida dos gestores em tempos de mudanças climáticas: ninguém mais pode ser pego de surpresa. As medidas de emergência são para tentar evitar o pior, diante da escassez de água. Mas as boas soluções são estruturais, com uma mentalidade que precisa ser contingencial. A preocupação não pode deixar de existir quando os níveis dos rios voltarem a subir e a situação melhorar. Ou, mais diretamente, enquanto as torneiras continuarem funcionando.
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