A confirmação de que a variante Delta já está em circulação no Espírito Santo ocorre em um momento de declínio da pandemia em território capixaba, o que pode causar confusão na percepção das pessoas. O Mapa de Risco da Covid-19 em vigência, que classifica os municípios quanto ao risco de transmissão da doença, coloca 74 cidades em risco baixo e apenas quatro em risco moderado, nenhuma no alto.
As medidas restritivas para bares, restaurantes e comércio nas localidades em risco baixo, ou 94,8% dos municípios atualmente, são quase inexistentes, apenas com a adoção de protocolos de proteção como uso de máscaras e distanciamento. Até eventos sociais estão liberados, com limitação de 600 pessoas.
Na semana de 9 de julho, o Estado registrou a menor taxa de transmissão desde março de 2020: 0,58, o que apontava para a redução do contágio pelo novo coronavírus. Outro dado que confirmava o maior controle da pandemia no fim de julho foi a redução do número de mortes com a média móvel dos óbitos provocados pela Covid-19 chegando então a 9,4, a menor desde outubro de 2020. Números que aparecem em consonância com o avanço da vacinação: no Estado, já são mais de 3 milhões de doses aplicadas.
Na coletiva semanal da Secretaria Estadual de Saúde realizada nesta segunda-feira (9) à tarde, portanto antes da confirmação pelo Ministério da Saúde dos sete casos da variante Delta no Espírito Santo, o secretário de Saúde, Nésio Fernandes, tratava com otimismo os avanços sucessivos das última semanas, mas com a ressalva: "Caso ocorra novo comportamento na pandemia, circulação de variante letal, podemos modificar e até retroagir em medidas adotadas".
À noite, retornou em novo pronunciamento nas redes sociais, já com a notícia da confirmação dos casos, para reforçar: "Não é hora de aglomerar. Isso pode comprometer conquistas importantes".
É um alerta que não deveria encontrar obstáculos para ser cumprido. Chegou-se a um ponto de conhecimento da doença e de suas formas de transmissão que, com os comportamentos adequados, é possível reduzir os riscos. Com o uso de máscaras de qualidade, que garantam a proteção em ambientes fechados, e a manutenção do distanciamento social, não há prejuízo para a atividade econômica. Tampouco para que se mantenham as aulas presenciais com os protocolos de distanciamento, enquanto não houver registro de surtos nas escolas.
É possível, assim, que se mantenha algum nível nas atividades sociais, quando não há a concentração de pessoas. E é aí que os problemas aparecem: para muita gente, o comportamento mais favorável da pandemia, a esta altura, é um sinal verde para uma vida normal, sem nenhum tipo de cuidado.
Os registros de bares lotados e aglomerações continuam, o que pode acelerar a transmissão comunitária da variante, voltando a lotar hospitais e a provocar mais mortes. O poder público deve, sim, endurecer a fiscalização neste novo contexto. O exemplo mora ao lado: no Rio de Janeiro, especificamente na capital do Estado, a variante Delta já era, na semana passada, responsável por 45% dos casos de Covid-19.
Já se sabe que vacinados podem espalhar a nova cepa tanto quanto quem não está imunizado, sendo que a vacinação é o que garante que a doença não evolua para casos graves. Portanto, quem já recebeu uma ou duas doses necessariamente tem de continuar a usar máscaras e a se cuidar. Não se trata de uma questão individual, pelo fato de a pessoa imunizada estar mais protegida, porque ela pode ser um vetor para não vacinados.
Um documento do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos revelou indícios de que a variante aumente o risco de casos graves entre não vacinados. Vacinar, portanto, é fundamental.
A Delta vai exigir mais atenção de cada um, novamente. O abandono dos comportamentos de risco é uma contribuição tremenda para evitar que ela deixe de ser uma ameaça e passe a prevalecer, obrigando o Estado a retroceder em suas decisões e ser obrigado a adotar medidas restritivas. Novamente.
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