Desde o ano passado, a comunidade científica une esforços, com processo, técnica e método, para buscar soluções que possam livrar a humanidade da pandemia de Covid. Foi assim com o desenvolvimento de vacinas em tempo recorde, com a orientação de protocolos sanitários e continua sendo com novas e numerosas pesquisas. No próximo domingo (13), o município de Viana, na Região Metropolitana da Grande Vitória, e milhares de voluntários darão sua parcela de contribuição à ciência, com testes de eficácia de meia dose da vacina AstraZeneca, em um estudo que pode mudar estratégias de imunização no mundo.
A iniciativa internacional Viana Vacinada tem o objetivo de avaliar a efetividade, a segurança e a resposta imune dos indivíduos com a aplicação de metade da dose atualmente utilizada da vacina da Oxford/Fiocruz. Caso fiquem comprovados os efeitos positivos, o avanço será colossal. Com cinco bilhões de pessoas que ainda não receberam nenhuma dose de vacinas no globo e em um cenário de escassez de insumos, a possibilidade de duplicar a cobertura vacinal com a mesma quantidade de ingrediente farmacêutico é animadora e terá o condão de salvar muitas vidas. Basta lembrar as recentes suspensões de produção de imunizantes no Brasil devido à carência de IFA.
Além de ter como base a cidade capixaba, a pesquisa é coordenada por equipe de pesquisadores do Hospital Universitário (Hucam), da Ufes, incluindo o PhD em Farmacologia José Geraldo Mill e o médico infectologista Lauro Ferreira Pinto, ao lado de cientistas da Fiocruz, responsável pela fabricação da AstraZeneca no Brasil. Leva ainda os selos do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde. Levando em conta ainda a hipótese de persistência da circulação do vírus e de que o mundo demande doses de reforço anuais, o estudo ganha ainda mais relevância.
O uso da dose ajustada da AstraZeneca já foi testada no Reino Unido, onde mostrou eficácia para produzir anticorpos em nível semelhante à dose completa. O estudo britânico, no entanto, foi conduzido em um grupo restrito. Em Viana, o objetivo é estender a análise para 30 mil pessoas, o que depende da adesão voluntária dos moradores. Até o momento, pouco mais da metade inscreveu-se para participar da pesquisa.
É difícil cravar, mas é possível inferir que a aderência dos moradores de Viana à pesquisa abaixo das expectativas iniciais pode estar relacionada, em parte, ao negacionismo científico que grassa no Brasil, em plena pandemia. Das vacinas às medidas preventivas, passando pela utilização de fármacos em utópicos tratamentos precoces, diversas frentes de batalha contra o coronavírus vem sendo insistentemente mitigadas por mentiras e desinformação. Além das já enormes incertezas diante da crise inédita, naturais até para cientistas, que têm aprendido a lidar com o desconhecido, os cidadãos têm sido soterrados também por campanhas de descrédito a aspectos que, para a ciência, já são pontos pacíficos.
A experiência em Viana adianta para o público voluntário, de 18 a 49 anos, vacinas que poderiam demorar meses a receber. Todos serão acompanhados de perto por um ano e, aqueles indivíduos que não ficarem protegidos com meia dose, terão o direito de receber a quantidade padrão de reforço, após 6 meses. Há, portanto, ganhos individuais. Mas os principais benefícios são coletivos, com redução do número de casos, internações e mortes e, o mais importante, bloquear a transmissão comunitária do vírus. Viana e seus voluntários representam um sopro de esperança e podem entrar para a história.
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