Quem circula pela Grande Vitória percebe a presença de pessoas dias e noites nas ruas, pedindo ou não ajuda a quem passa. Pessoas invisibilizadas pela situação, cercada de estigmas, mas com histórias pessoais únicas, mesmo que o pano de fundo seja o abadono, o desemprego ou o vício em drogas e álcool.
Na noite desta quarta-feira (17), um homem aparentemente em situação de rua se envolveu em uma ocorrência policial que poderia ter causado uma tragédia, ao arremessar uma garrafa em um motorista que trafegava pela Avenida Carlos Lindenberg, em Vila Velha. O condutor ficou ferido e ainda assim conseguiu imobilizar o agressor. Um caso que trouxe à memória outro, na mesma cidade, em 2018, quando um morador de rua com transtornos mentais arremessou uma barra de ferro em um veículo, matando a motorista.
De forma alguma devemos generalizar, como se todas as pessoas em situação de rua cometessem esses crimes o tempo todo. É só mais um ângulo do problema, que é multifacetado. A rua encerra uma sucessão de perdas pessoais que é sim uma responsabilidade coletiva.
E, para os que pensam que é uma exclusividade do Espírito Santo ou do Brasil — os dados mais recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2022, mostram que são 281.472 brasileiros nessa situação —, o Jornal Nacional produziu uma série de reportagens na semana passada que mostrou que países como Estados Unidos, Reino Unido, Portugal e Argentina também enfrentam esse desafio.
E dá para tirar muitas lições, a maior delas é o lema "moradia em primeiro lugar", uma mudança de enfoque na aplicação das políticas assistenciais que tem conseguido o empoderamento para a retomada da cidadania dessas pessoas. Organizações do terceiro setor em parcerias com governos priorizam a busca por uma habitação, de acordo com as políticas públicas de cada lugar. Não ter um lugar para morar é uma condição inaceitável, é a antítese da civilidade, e é a partir dessa premissa que se dá o enfrentamento do problema.
Em ano de eleições municipais, é importante que os que pleiteiam a administração das cidades tenham propostas concretas de acolhimento para essa população, que incluam também programas de capacitação profissional e acompanhamento para a saúde física e mental. Uma pessoa que vive na rua e quer trabalhar precisa ter condições mínimas para isso.
Mas, sobretudo, o maior aprendizado proporcionado pela série é certamente a humanização dessas pessoas. Do imigrante equatoriano que vive nas ruas de Londres ao senhor que não deixa faltar a limpeza de sua casinha de papelões em uma avenida de São Paulo, fica evidente que a sociedade precisa direcionar um novo olhar para quem não tem um teto. São milhões de pessoas no mundo que vivem essa realidade.
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