“Já tinha tomado a decisão de vender a loja, sair desse ramo empreendedor, porque é muito difícil. O comércio já não está bom, você trabalha, trabalha, trabalha, e o ‘lucrinho’ que dá, eles vêm e levam tudo”. O desabafo feito ontem à TV Gazeta por um empresário, dono de uma pizzaria em Jucutuquara, em Vitória, assaltada duas vezes desde o último sábado, poderia ser repetido à exaustão por outros comerciantes que vivem o mesmo drama.
Mas está longe de ser um caso isolado, é a realidade de quem decide se enveredar pelo empreendedorismo: antes de tudo, já é preciso desbravar a selva burocrática e tributária, com escassez de incentivos, em um ambiente de negócios praticamente inóspito. Quando, enfim, o empresário consegue se estabelecer, tem de enfrentar as mazelas da segurança pública, tornando-se vítima potencial de criminosos que não encontram obstáculos para suas abordagens.
A fala do comerciante dá a dimensão da encruzilhada em que se encontram aqueles que tocam principalmente pequenos e médios negócios no país. Dependendo da localização, a exposição à violência acaba se tornando uma rotina, pela falta de políticas públicas eficientes de segurança. A recorrência do crime na pizzaria demonstra o abandono do cidadão e contribuinte, jogado à própria sorte, quando deveria estar amparado pelo Estado que não perde tempo nas cobranças. Qualquer contrapartida concreta é ainda um sonho distante.
A simplificação dos impostos é a próxima fronteira, com a reforma tributária batendo à porta. É um passo importante para começar a se moldar um ambiente mais atrativo ao investimento, algo que seja de fato um incentivo à prosperidade do empreendedor. É hora de superar os entraves.
O ranking do Banco Mundial que analisa as dificuldades para abrir uma empresa em 190 países, o relatório Doing Business 2018, coloca o Brasil na 176º posição. É vergonhoso. Nessa conta, a burocracia também tem um peso insustentável. Se o Brasil almeja voos mais altos, a cultura do carimbo precisa ficar no passado. Passos nesse sentido estão sendo dados, mas não pode faltar ousadia.
Este vídeo pode te interessar
O empresário de Jucutuquara, ao expor sua angústia na entrevista, deixa evidente que ainda falta muito para que se permita alguma paz de espírito ao empreendedor brasileiro. Reformas são imprescindíveis, não só por reduzirem os impasses econômicos, mas por serem capazes de começar a promover alguma justiça social e reduzir a violência. Só assim, a tranquilidade para empreender será possível.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.