Vítimas de balas perdidas são a face da derrota no combate ao tráfico

Nesta quinta-feira (12), um menino foi ferido com um tiro no pé em Cariacica, o quarto caso noticiado desde sábado (7).  Vítimas quase sempre estão no caminho do conflito entre traficantes

Publicado em 13/08/2021 às 02h00
Tiros
Dupla de criminosos chegaram atirando nas pessoas que estavam em frente a um supermercado de Ponta da Fruta, em Vila Velha. Crédito: Reprodução | TV Gazeta

Desde sábado (7), ao menos quatro moradores da Grande Vitória foram alvo de balas perdidas, felizmente sem mortes. Não há tanta aleatoriedade nesse tipo de violência quanto sugere a expressão, pois a verdade é bem cruel: as balas perdidas são na grande maioria dos casos encontradas nos bairros mais pobres, sobretudo os que se encontram dominados por facções do tráfico.

No sábado, um homem ficou ferido na perna após o disparo de tiros que tinham como alvo outro que escapou ileso, em frente a um supermercado em Ponta da Fruta, Vila Velha. As imagens de uma câmera do estabelecimento mostram que os bandidos não se importaram em atirar na direção de um grupo de pessoas. Gente inocente, que poderia ter morrido ali, de forma tão banal. O roteiro é conhecido demais: disputas entre traficantes motivaram a ação.

Na terça-feira à noite, um técnico de manutenção de 28 anos, ao ouvir os tiros no bairro Andorinhas, em Vitória, chegou à janela de sua residência, no terceiro andar, e acabou baleado, em mais um episódio nos quais bandidos de bairros vizinhos, Mangue Seco e Santa Marta, circularam nas ruas atirando para o alto. Um espetáculo de terror para quem vive no fogo cruzado da guerra de gangues, de onde inevitavelmente inocentes acabam saindo feridos. Ninguém está a salvo nem dentro de casa.

Também na terça, um pastor levou um tiro no peito enquanto caminhava na rua para fazer compras, em Santa Rita, na região de Terra Vermelha, em Vila Velha. Acabou vítima do conflito entre traficantes do bairro e bandidos de Primeiro de Maio e Zumbi dos Palmares. Nesta quinta-feira (12), o cenário de pavor se transferiu para Cariacica, em Nova Rosa da Penha, quando tiros atingiram uma criança de 11 anos no quintal de casa. O menino levou um tiro no pé, e a Polícia Militar, ao atender a ocorrência, acabou sendo alvo de tiros disparados por quatro homens.

Os episódios registrados nesta semana estão longe de serem pontos fora da curva. Uma situação que chamou atenção neste ano ficou registrada nas imagens de um projétil caindo aos pés de um padre durante a celebração de uma missa na Igreja Matriz de São José, em Maruípe, Vitória, em fevereiro. Um tiro que não atingiu ninguém, parando no altar, mas que expôs como vidas ficam por um triz nas regiões mais perigosas das grandes cidades. Basta um passo em falso para que um tiro, disparado muitas vezes a esmo, como nos casos em que bandidos ostentam seus armamentos, mate um inocente.

O governo estadual anunciou nesta quarta-feira (11) medidas de reestruturação da segurança pública, como a volta do Batalhão de Missões Especiais (BME) e a instalação de companhias independentes da Polícia Militar em bairros mais violentos. Uma movimentação importante, mas que não pode deixar de envolver estratégia. Os confrontos com o tráfico nessas localidades sempre esbarram no risco de morte de moradores que não têm envolvimento com a criminalidade.

E desarmar os criminosos ainda é quase uma utopia: até julho, as apreensões de armas de fogo no ES cresceram quase 10% neste ano, resultado tanto da eficiência policial quanto do crescimento do arsenal ilegal. Interromper a rota dos armamentos que entram no Estado, bem como a crescente fabricação semi-industrial, é fundamental para diminuir o poder de fogo desses criminosos.

O fato incontestável é que os bandidos estão cada vez mais armados e fazem questão de exibir suas armas como troféus. O som do disparo de metralhadoras já virou trilha sonora para os moradores dos bairros mais violentos, uma situação inaceitável, que fere a dignidade e estraçalha a cidadania. E, na pior das hipóteses, mata.

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