Vitória não pode mais dar as costas para os atrativos da Orla Noroeste

Cais do Hidroavião é um dos patrimônios na região que merece ser recuperado, não só pelo seu valor histórico, mas pelo potencial de atrair visitantes.

Publicado em 23/09/2022 às 01h00
Vitória
Cais do hidroavião em Santo Antônio. Crédito: Vitor Jubini

Praia do Canto, Curva da Jurema, Enseada do Suá... Vitória é uma ilha cercada de atrativos e potencialidades, mas, desde que começou a avançar para a sua porção continental com a urbanização da orla de Camburi a partir do fim dos anos 60, passou a priorizar um de seus lados. A diferença de tratamento continua sendo ostensiva.

Há uma dívida com a população da Orla Noroeste da cidade, embora obras na região já tenham sido anunciadas. Pendências que dizem respeito não somente à infraestrutura urbana, com espaços de convivência e paisagísticos, mas também a empreendimentos de turismo e lazer que sejam capazes de promover um deslocamento de visitantes para a região. Belezas nunca faltaram.

Em junho, a Prefeitura de Vitória assinou a ordem de serviço para dar início à reurbanização da região, com a primeira fase das obras contemplando 1,16km da orla de São Pedro à Ilha das Caieiras. A recuperação do espaço público, com a construção de calçadas, ciclovias, deques, rampas, atracadouros, área de manutenção de barcos e Rua Viva, é um projeto que demorou a sair do papel: a Nova Orla Noroeste foi apresentada a moradores em 2015. O projeto completo começa no Parque Tancredão e também inclui as orlas de Maria Ortiz e Jabour, na parte continental de Vitória. Serão beneficiados 90 mil moradores em 25 bairros.

Mas também segue devagar a iniciativa de valorizar um importante patrimônio da região. No bairro Santo Antônio, um dos mais tradicionais da Capital, localiza-se o esqueleto do Cais do Hidroavião, espaço cedido em 2019 pela Superintendência do Patrimônio da União no Espírito Santo (SPU-ES) à Prefeitura de Vitória que acaba de ser devolvido após a constatação da inviabilidade de o imóvel ser explorado economicamente.

Após a cessão do espaço à prefeitura,  houve a abertura de um edital para promover a restauração do prédio histórico, que abrigou o primeiro aeroporto do Estado, erguido em 1939. O Cais do Hidroavião tem uma vista privilegiada da Baía de Vitória que, somada com a relevância histórica do local, poderia ser uma atração turística de sucesso.

Quem tem condições de viajar costuma ver empreendimentos assim dando certo em várias cidades do mundo, sobretudo com exploração privada. No Espírito Santo, tudo parece mais custoso. Alguma solução criativa para reconstruir o local deve existir, é hora de estimular as mentes empreendedoras. Inaceitável é que aquelas ruínas continuem sem nenhuma finalidade.

O Carnaval de Vitória, realizado ali bem perto, conseguiu atrair visitantes ao Sambão do Povo nos últimos 20 anos. Durante muito tempo, parecia uma missão impossível. Neste ano, a administração da cidade estimulou a realização do Vital, o que é uma importante forma de reduzir a ociosidade da estrutura e atrair o público para outros eventos. Movimentação, ocupação, circulação de pessoas... é isso que faz qualquer bairro pulsar, aumentando possibilidades econômicas e, inclusive, sendo uma importante ferramenta da segurança pública.

Vitória pode começar a reduzir essa dívida com seus habitantes, com a celeridade desse projeto de reurbanização tão importante para quem vive nesses bairros, mas para a própria integração da cidade. Imagine estabelecer como um circuito turístico e de lazer a "Volta da Ilha", com a possibilidade de contorná-la quase completamente em ciclovias, à beira da Baía de Vitória? É o que será possível com a nova orla.

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