Entrar em uma caverna pré-histórica, pisar na Lua, fugir de animais selvagens na África ou até passear por dentro do corpo humano. Tudo isso sem sair da escola ou da universidade. O metaverso começa a se tornar realidade, revelando-se mais uma ferramenta para o ensino em sala de aula. Rompendo barreiras do espaço e tempo, a tecnologia promete não apenas facilitar o aprendizado, oportunizando vivências até então inimagináveis, mas também deixá-lo mais lúdico e interativo.
Mas o que exatamente é o metaverso? Trata-se de uma realidade paralela e virtual, onde os alunos poderão interagir, e, nos casos mais sofisticados, é acessado por meio de óculos de realidade virtual. A palavra vem do prefixo grego “meta”, que significa “além”, unido à palavra “universo”.
Para a doutora em Educação, especialista em Tecnologias Digitais Aplicadas na Educação e diretora do Instituto Crescer, Luciana Allan, o metaverso certamente irá atrair a atenção de crianças e jovens, em geral já acostumados ao ambiente dos jogos digitais, fazendo despertar o interesse pelo aprendizado.
“Mas o mais importante é que coloca os alunos no centro do processo. Com o metaverso, eles terão contato com ambientes e conceitos abstratos mostrados de forma mais clara, e isso é motivador. Tanto na educação básica quanto no ensino médio e faculdade, os alunos estão acostumados a receber estímulos e, então, o metaverso terá muito a contribuir”, avalia.
Outra vantagem mencionada pela diretora do Instituto Crescer é reduzir os riscos de algumas práticas. Por exemplo, no ensino técnico, onde jovens e adultos podem ter de aprender a conduzir caminhões de grande porte ou operar máquinas, essas aulas podem ser realizadas em meio virtual.
Indagada se acredita que o metaverso poderá deixar os alunos “dependentes” de diversão no processo de aprendizagem, ela disse que não. “Não vejo problema nenhum, pois os professores não vão utilizar o recurso o tempo todo. Ele apenas será somado a outros. Haverá sempre a fala do professor, a leitura de um texto, a apresentação de um vídeo etc. Uma boa aula emprega recursos diversificados”, pondera.
Ainda de acordo com ela, o professor não deve se encantar com o metaverso. “Ele tem de ser muito crítico e avaliar o quanto faz sentido utilizar a ferramenta em sala de aula. Se o professor não é crítico, uma boa tecnologia se torna ruim”, alerta. Luciana ressalta também que, na hora de escolher aplicativos, as instituições devem analisar além dos aspectos visuais.
“É preciso prestar atenção se os conceitos estão corretos, se há coerência com a linha pedagógica, se o custo-benefício se justifica, como será a experiência do usuário, considerando alunos e professores”, ressalta.
Na Emescam, a expectativa é que aulas de anatomia sejam realizadas parcialmente no metaverso a partir de 2024. Em um ambiente “paralelo”, os alunos terão acesso a um laboratório virtual.
Diretora acadêmica da faculdade, Cláudia Câmara conta que, atualmente, a Emescam está analisando parcerias para a criação do Emescam Lab, laboratório que, entre outros assuntos relacionados à tecnologia, irá incorporar a realidade virtual ao processo de ensino e aprendizagem.
O primeiro projeto para utilização do metaverso é seu emprego nas aulas de anatomia, ministrada aos alunos de Medicina, Enfermagem e Fisioterapia a partir do primeiro período, mas outras formas de utilização podem ser pensadas mais adiante. A instituição já avalia, por exemplo, o uso do metaverso para simulação de atendimentos e treinamento dos alunos.
Eles poderão “passear” pelo corpo humano e até “entrar” em órgãos no metaverso. Segundo Cláudia, a qualidade na visualização de órgãos e tecidos será superior nessa nova tecnologia, ampliando a possibilidade de se explorar melhor o objeto estudado, com manuseio em 360 graus.
Porém, Cláudia adverte que, mesmo havendo um ganho muito grande, o metaverso não irá substituir os estudos no anatômico convencional.
Ela acrescenta que o metaverso irá permitir também a discussão de casos clínicos de forma síncrona com alunos e profissionais de diversas instituições, inclusive internacionais.
Na Faculdade de Direito de Vitória (FDV), o professor de Direito Digital e coordenador do EAD, Bruno Costa Teixeira, lembra que desde 2014 a instituição vem estudando e aplicando elementos constitutivos importantes do que vem sendo entendido atualmente como metaverso, como programas que simulam ambientes imersivos, com salas virtuais e avatares utilizados em atividades complementares.
De acordo com ele, a plataforma de ensino da faculdade, a FDV Digital, concentra esses recursos e vem sendo cada vez mais utilizada pelos alunos.
“Tecnologias baseadas em blockchain fazem mais sentido para nós, para a aprendizagem jurídica, do que as simulações em ambientes virtuais 3D em si”, explica o professor de Direito. A blockchain é um banco de dados avançado que permite o compartilhamento transparente de informações e onde não é possível realizar alterações sem a permissão da rede, o que permite transações de forma segura.
A coordenadora pedagógica da FDV, Camilla Vazzoler, destaca que os investimentos em tecnologia são realizados no sentido de incentivar a produção e aquisição de conhecimento de forma coletiva. “Todo recurso é sempre o meio para a produção do conhecimento e não o fim. Não se pode abandonar a ideia de que ensino e aprendizagem são processos. Então, a ideia é potencializar o processo, que não se encerra na tecnologia”, argumenta.
Na Multivix, o assessor acadêmico-corporativo Helber Barcellos da Costa conta que a adoção do metaverso está em fase de análise. “Estamos estudando as possibilidades”, adianta.
Fora isso, a faculdade segue investindo em tecnologia, com adaptação de novas metodologias de ensino e implementação do novo portal acadêmico, entre outras novidades para 2023.
Uma delas é a adoção da matéria Prática de Extensão Interdisciplinar e Inovação, que foi um projeto-piloto e, agora, passa a estar presente no currículo de todos os cursos.
Entre os projetos já realizados, alunos da Odontologia e das Engenharias Elétrica e da Computação desenvolveram, por meio da inteligência artificial, a identificação humana em odontologia forense. O projeto conquistou o segundo lugar na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2020. Outra ideia bacana veio dos alunos das Engenharias da Computação e elétrica e Administração, que desenvolveram programa para substituição de cartão por biometria no transporte público.
Mais uma novidade em termos de tecnologia na Multivix será no curso de Medicina do ano que vem, onde haverá a implantação de softwares de soluções educacionais que fazem uso de inteligência artificial no aprendizado do aluno. “O objetivo é identificar as necessidades dos alunos em sala de aula”, observa Helber Barcellos.
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