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Educação a distância ganha fôlego e atrai cada vez mais alunos

Educação a distância ganha fôlego e atrai cada vez mais alunos

De acordo com professores, modalidade virtual, a chamada EaD, contribui para democratizar o aprendizado

Publicado em 28 de setembro de 2023 às 05:30

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Modalidade de EaD  teve um acréscimo de 23,3%, já os ingressos em graduações presenciais caiu 16,5%.
Modalidade de EaD teve um acréscimo de 23,3%, já os ingressos em graduações presenciais caiu 16,5%. (Freepik)

Nos últimos três anos, o brasileiro se aproximou como nunca das ferramentas de comunicação remota, devido às restrições de circulação impostas pela pandemia de Covid-19. No ramo da educação digital, os números mostram que esse crescimento vem de antes mesmo da emergência sanitária. Em uma década, a modalidade de educação a distância (EaD) cresceu 474% no Brasil, enquanto a quantidade de novos alunos em cursos presenciais caiu 23,4% no mesmo período.

Para se ter uma dimensão dessa mudança, basta olhar um pouco para trás: em 2011, alunos que ingressaram no ensino superior correspondiam a 18,4% das novas matrículas. Dez anos depois, essa proporção saltou para 62,8%. Os dados fazem parte do Censo da Educação Superior 2021 e foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC) no fim de 2022.

A professora Aline Amorim, do Centro de Referência em Formação e em Educação a Distância (Cefor), do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), reforça que a EaD já vinha crescendo antes mesmo da pandemia, mas ressalta que a modalidade seguiu em expansão posteriormente.

Aline Amorim, do Centro de Referência em Formação e Educação a Distância do Ifes
Aline Amorim, do Centro de Referência em Formação e Educação a Distância do Ifes. (Acervo pessoal)
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No caso do Espírito Santo, especificamente, há um dado bem interessante de 2021, que mostra que aqui a educação a distância predomina nas regiões Norte, Sul e Noroeste; é a interiorização. A EaD consegue se expandir em outras regiões fora da Região Central

Aline Amorim
Centro de Referência em Formação e Educação a Distância do Ifes
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“No caso do Espírito Santo, especificamente, há um dado bem interessante de 2021, que mostra que aqui a educação a distância predomina nas regiões Norte, Sul e Noroeste; é a interiorização. A EaD consegue se expandir em outras regiões fora da Região Central”, analisa.

O levantamento nacional do MEC, além de mostrar o crescimento da educação a distância nos últimos anos, indicou que a modalidade deve continuar à frente dos ingressos no ensino presencial.

Entre 2020 e 2021, houve um aumento no número de ingressantes em cursos superiores, que se deu, fundamentalmente, pela oferta de EaD na rede privada. A modalidade teve um acréscimo de 23,3%; já a entrada em graduações presenciais caiu 16,5%.

Realidade capixaba

Olhando para o Espírito Santo, Aline destaca que a criação da Universidade Aberta Capixaba (UnAC), em 2021, com o objetivo de expandir a oferta de cursos e programas de educação superior e pós-graduação no Estado, contribuiu para a interiorização e disseminação da educação remota.

Para o professor Otávio Lube dos Santos, vinculado à Superintendência de Educação a Distância (Sead), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o crescimento da EaD nos últimos anos se dá pela possibilidade de oferecer novas formas de acesso ao conhecimento.

“A EaD traz consigo a possibilidade de acesso de lugares remotos, flexibilidade de tempo e espaço para o aprendizado, redução das barreiras sociais e financeiras, grande disponibilidade de cursos e o famoso life long learning (aprendizado ao longo da vida, em tradução livre)”, observa.

A consultora educacional Juliana dos Santos lembra que a EaD é mais barata e acessível, permitindo que a formação do aluno vá além de seu território. “Há facilidade de tempo e espaço, ou seja, você pode se matricular em uma instituição aqui do Espírito Santo e cursar uma graduação, por exemplo, em outros Estados”, afirma.

Em uma busca em portais de faculdades capixabas, é possível comprovar isso, e a reportagem foi atrás de alguns exemplos. Enquanto a mensalidade dos cursos de Engenharia Civil e Engenharia Elétrica semipresenciais custa R$ 499,00, a dos presenciais chega a R$ 1.008,00. No caso do bacharelado em Administração, o valor da modalidade EaD é de 273,90, ao passo que a presencial é de R$ 615,00. Há ainda opções ofertadas apenas na modalidade virtual, como Análise e Desenvolvimento de Sistemas (R$ 218,90) e Gestão Comercial, com o mesmo preço.

Juliana dos Santos, consultora educacional
Juliana dos Santos, consultora educacional, ressalta que a EaD pode ser utilizada do ensino técnico à pós-graduação. (Acervo pessoal)

Um novo olhar para a EaD

Em meio às vantagens da EaD, o professor Otávio Lube dos Santos, da Ufes, ressalta a necessidade de solucionar uma série de entraves, como diferenças sociais no Brasil e no mundo, para possibilitar uma educação a distância de qualidade.

“A eficácia da EaD depende de vários fatores, incluindo acesso confiável à internet, qualidade dos materiais de ensino on-line, suporte técnico adequado para alunos e professores e abordagens pedagógicas bem projetadas para a aprendizagem on-line”, avalia o professor da Ufes.

Na análise da professora Aline Amorim, do Centro de Referência em Formação e em Educação a Distância do Ifes, a educação a distância democratiza o acesso ao conhecimento. “Tem várias vantagens, tanto de acesso quanto de capilarização, que é você conseguir interiorizar a educação, o ensino, em lugares que não são atingidos nem por instituições públicas e, muitas vezes, nem pelas privadas. A gente tem grandes centros muito bem atendidos e o interior, onde muitas vezes não há acesso, principalmente entre adultos”, destaca.

A professora do Ifes considera que a modalidade remota contribui para a inclusão social. “Beneficia pessoas que muitas vezes não podem se locomover, gastar com deslocamento e alimentação. É propícia também para mulheres que enfrentam dificuldades para deixar os filhos sob os cuidados de alguém enquanto elas estudam. A EaD vai entrando nesse aspecto da inclusão de um modo muito amplo, tanto social quanto de acessibilidade digital”, enfatiza.

Segundo Aline, um público historicamente afetado por dificuldades no âmbito escolar pode ser especialmente beneficiado com a modalidade, que se adequa à realidade dos alunos. “Falo da inclusão das pessoas com deficiência, que facilita muito a acessibilidade digital e a ampliação desse número de vagas com uma equipe multidisciplinar. Eu consigo ter, por exemplo, um professor e ter nos polos os mediadores e mais turmas. Ou seja, essa interiorização acaba sendo uma democratização do ensino”, acrescenta.

Desconfiar da qualidade é um obstáculo

Até alguns anos atrás, parte do público via com desconfiança a qualidade do ensino remoto, em comparação ao ensino presencial. Essa visão, de acordo com o professor Otávio Lube dos Santos, já não faz mais sentido na realidade atual.

“Pensar que a educação a distância seria inferior à presencial é uma forma de pensar simplória que não corresponde à realidade. Tudo vai depender do comprometimento e afinidade do estudante para a modalidade. A EaD exige compromisso e disciplina maiores, uma vez que o principal responsável pela aprendizagem é o próprio aluno, que muitas vezes precisa ter iniciativa suficiente para vencer as ainda existentes barreiras tecnológicas”, afirma.

Na visão do professor, é necessário entender que, com o desenvolvimento tecnológico crescente, essas barreiras tendem cada vez mais a diminuir, com o surgimento dos metaversos interativos.

“A educação a distância traz consigo novas formas de interação, síncrona ou assíncrona, bem como metodologias adequadas ao aprendizado do aluno, considerando essas formas de interação”, sublinha.

O professor observa que não existe benefício em incentivar uma modalidade em restrição da outra. “Ambas existem e sempre existirão. Os aprendizes podem escolher a que melhor lhes convém, de acordo com o seu perfil. Obviamente, outros aspectos podem influenciar a decisão”, pontua.

“Um morador do interior do Amazonas que não quer sair de sua cidade natal para estudar pode ser beneficiado pela flexibilidade da modalidade EaD. Estudantes com restrições financeiras, que muitas vezes não podem arcar com os custos de uma educação presencial, também. O maior benefício que existe é justamente a maior democratização do ensino, que passa a ter um alcance muito maior com a modalidade EaD”, exemplifica o representante da Superintendência de Educação a Distância da Ufes.

Mas, afinal, todo mundo pode?

Na avaliação da consultora educacional Juliana dos Santos, a EaD pode ser utilizada do ensino técnico à pós-graduação. No entanto, o interessado em estudar no modelo remoto precisa estar atento sobre as áreas de conhecimento em que essa dinâmica é adotada.

“Há uma regulamentação para o funcionamento da EaD com limitações de carga horária para os cursos de saúde, por exemplo”, pondera. “Consideramos recomendada pela praticidade e disseminação em larga escala. Contudo, temos tido atenção à massificação, aos conteúdos ‘de prateleiras’ e à precarização de mão de obra do professor. Esse foi um ponto discutido com as notas dos cursos no último Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes).”

Para Otávio Lube dos Santos, campos que demandam mais experimentação tendem a necessitar mais de interações presenciais, como cursos das áreas de saúde.

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Alguns conselhos reguladores não recomendam EaD para os cursos de Direito e Medicina, pois apontam a necessidade de interações presenciais. Porém, não há uma recomendação específica entre graduação e especialização, uma vez que a modalidade EaD é bastante flexível, permitindo, inclusive, interações híbridas.

Otávio Lube dos Santos
Professor da Superintendência de Educação a Distância (Sead/Ufes)
Aspas de citação

Na mesma linha, a professora Aline Amorim, do Ifes, entende que se deve observar as especificidades de cada nível, de acordo com a legislação vigente e a autonomia do aluno para estudar nessa modalidade, tanto em nível de gerenciamento dos estudos quanto de habilidade com o uso de tecnologia para estudar por meio de ambiente virtual.

5 dicas para quem tem interesse na EaD

  1. Busque instituições regulamentadas pelo MEC.
  2. Procure informações oficiais para saber se a instituição cumpre a legislação de estágio e atividades de extensão.
  3. Veja a nota do curso nos exames nacionais.
  4. Cheque se terá acesso ao professor ou só aos tutores.
  5. Procure se os contatos com a secretaria acadêmica são facilitados para obter as certificações.

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