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Educadores, eternos estudantes: evolução do ensino exige atualização permanente

Educadores, eternos estudantes: evolução do ensino exige atualização permanente

As novidades e transformações sociais são incessantes e educadores precisam estar em contínuo aperfeiçoamento para atender às exigências da profissão

Publicado em 9 de novembro de 2022 às 09:30

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A forma de ensinar e de aprender também se renova ao longo dos tempos e os docentes precisam estar aptos a saber empregá-las
A forma de ensinar e de aprender também se renova ao longo dos tempos e os docentes precisam estar aptos a saber empregá-las. (Shutterstock)

As transformações sociais, alavancadas em grande parte pelos avanços tecnológicos, exigem da grande maioria dos profissionais atualização constante. Com os professores isso não seria diferente, tanto para aqueles que atuam na educação básica, quanto no ensino superior. A forma de ensinar e de aprender também se renova ao longo dos tempos e os docentes precisam estar aptos a saber empregá-las.

Especialistas dizem que existem muitos avanços, com escolas que cada vez mais fazem uso de tecnologia e investem em novas práticas de ensino, mas também há muitos desafios, que passam sobretudo pela desvalorização do magistério.

“Há sempre uma cobrança na formação do professor de que o processo de aprendizado é um processo de pesquisa. Assim, é um dever do professor entender que a formação dele nunca para. É preciso se dedicar à pós-graduação, cursos, pesquisas, leituras, artigos e congressos, só assim ele vai compreender as novas habilidades que lhe são necessárias”, diz o diretor da Multivix Serra, Leandro Siqueira Lima, que tem formação em Pedagogia e é doutor em Letras.

Ele destaca que, assim como professores, que precisam estar em constante aprendizado, os alunos também devem ser vistos pelos docentes como protagonistas do próprio conhecimento. “Um ponto muito em discussão atualmente são as metodologias de ensino. Antes, os professores explicavam a matéria e os alunos tinham que entender. Hoje, os alunos têm de ser protagonistas do próprio aprendizado. A escola que se adapta às novas gerações escuta o aluno e faz com que o estudante seja o centro do processo”, lembra Siqueira.

Para ele, mais do que a instituição onde o professor ou futuro professor estuda, pesa a vontade desse profissional de se desenvolver e progredir. “A faculdade não faz o aluno. Ter bons professores faz diferença, mas se o aluno não tiver responsabilidade e consciência, não adianta”, destaca.

Professora da Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a doutora em Educação Cleonara Maria Schwartz avalia que, entre outros desafios na Educação, é necessário se pensar em formas de corrigir desigualdades entre as gerações docentes mais antigas e as mais recentes, oportunizando aqueles que saíram há mais tempo da universidade e possam não estar tão atualizados quanto às novas exigências da profissão.

Além disso, Cleonara lamenta que questões referentes ao aperfeiçoamento dos professores têm, entre os entraves, a baixa valorização do magistério.

Aspas de citação

O magistério tem sido pouco atrativo em termos de valorização de carreira, em termos salariais e de infraestrutura. Há uma diminuição do interesse do estudante do ensino médio em fazer licenciaturas. Isso não depende da instituição de ensino ou do profissional, pois políticas públicas de valorização do docente são necessárias. É preciso que se tenha melhoria salarial, boa infraestrutura nas escolas e possibilidade de formação continuada

Cleonara Maria Schwartz
Professora da pós-graduação em Educação da Ufes
Aspas de citação

A professora universitária ressalta que é preciso pensar a educação como um todo, como um projeto que leve em conta o ensino na educação básica, médio e superior. “Não se pode fragmentar”, argumenta.

“Existem desigualdades na rede pública e também na rede privada. É difícil falar que uma é melhor que a outra. Há, tanto em uma quanto na outra, instituições que se diferenciam na gestão. É claro que dinheiro para modernizar é fundamental, mas há excelentes processos formativos em instituições de pequeno porte”, analisa.

"Segundo tempo" na internet

O professor Paulo Vicente tem um estúdio onde grava aulas para internet, complementando o conteúdo trabalhado na escola
O professor Paulo Vicente tem um estúdio onde grava aulas para internet, complementando o conteúdo trabalhado na escola. (Arquivo Pessoal)

Quem há muito tempo entendeu que a adaptação dos docentes à tecnologia seria um imperativo foi o professor de Física do Instituto Federal da Bahia (Ifba) Paulo Vicente Moreira dos Santos. Licenciado em Física e mestre em Ensino de Física e História das Ciências, o profissional oferece aulas paralelas pela internet desde 2007, quando ingressou na instituição.

“Eu achava que o tempo em sala era insuficiente, então complementava com as aulas na internet, para tirar dúvidas. Além disso, eu sentia que nem sempre no horário da aula os alunos estavam a fim de estudar”, recorda.

Toda a preparação e gravação das aulas é feita fora do horário regular de trabalho do professor, que banca ele mesmo o pequeno estúdio que criou em sua casa. Com o passar dos anos, ele foi alterando o formato das aulas e desenvolveu videoaulas participativas, mesclando com testes interativos. Em 2010, criou também um canal no YouTube, onde tem mais de 500 vídeos e 193 mil seguidores.

“A necessidade constante de atualização vale para todas as carreiras, mas sentimos, enquanto professores, que essa exigência pode ser ainda maior para nós”, comenta.

Porém, Paulo Vicente levanta uma situação que acontece no dia a dia das escolas. “O que me incomoda bastante é que algumas instituições têm colocado a tecnologia em patamar de endeusamento, mas a tecnologia por si só não resolve o problema. Um professor empolgado com quadro e giz dá aula melhor do que muita gente com tecnologia na mão”, provoca.

Para ele, bons professores são aqueles que sabem, acima de tudo, contar histórias. “Tenho observado no YouTube professores que não usam nada além da câmera para gravar, pois são ótimos contadores de histórias. Os livros didáticos ensinam a repetir o que está nos manuais e é preciso ir além. Ler muito é fundamental. No caso da Física, é preciso ler biografias, livros escritos pelos cientistas... é lá que a gente vai encontrar as visões de mundo deles. Um livro escrito por Einstein não fala exatamente de física, mas sobre o que ele pensava do mundo, política, religião e as tretas científicas... As pessoas querem saber das tretas também”, brinca o professor, que sonha em estudar teatro para saber contar ainda melhor as histórias.

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