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Soft skills: como as escolas preparam os alunos para o futuro

Soft skills: como as escolas preparam os alunos para o futuro

Criatividade, empatia e resiliência são algumas habilidades que vão ajudar os alunos com os desafios da vida adulta

Publicado em 8 de novembro de 2022 às 10:00

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Aulas de ioga e mindfulness trabalham o equilíbrio e a atenção plena
Aulas de ioga e mindfulness trabalham o equilíbrio e a atenção plena. (Escola Monteiro/Divulgação)

Bastante conhecido no mundo corporativo, o conceito de soft skills vem, nos últimos anos, ganhando espaço também nas escolas de ensino básico. Além de aprender as disciplinas previstas na grade curricular, o estudante é estimulado a desenvolver habilidades sociais que vão ajudá-lo a lidar, no futuro, com os desafios da vida adulta.

E quando falamos de soft skills estamos falando de competências subjetivas, como criatividade, pensamento crítico, flexibilidade, resiliência, senso de colaboração e comunicação assertiva. São habilidades que não se aprendem através dos livros didáticos, mas sim a partir das relações interpessoais.

“As escolas estão mais atentas sobre a importância da educação socioemocional e adotam estratégias para que os alunos desenvolvam essas habilidades ainda na infância”, afirma a neuropsicopedagoga Geovana Mascarenhas.

Na metodologia ativa, a escola proporciona diferentes espaços e oportunidades para o desenvolvimento do aluno
Na metodologia ativa, a escola proporciona diferentes espaços e oportunidades para o desenvolvimento do aluno. (Escola Monteiro/Divulgação)

Ainda segundo Geovana, o trabalho com as soft skills deve estar presente em todas as fases da educação, do ensino infantil ao médio. É o que prevê também a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

O documento, que determina as competências a serem aplicadas nas escolas de educação básica, aborda, em vários momentos, exemplos de soft skills que crianças e adolescentes precisam adquirir.

“Deve-se considerar a idade do aluno no trabalho dessas competências. As demandas de uma criança de 5 anos se diferem de um adolescente que está concluindo o ensino médio. Mas quanto mais cedo se trabalhar essas habilidades, melhores os resultados a longo prazo”, afirma Geovana.

Mudanças no mercado

A importância de potencializar as habilidades emocionais já na infância está relacionada com as mudanças sociais causadas pela tecnologia nos últimos anos. Com o uso crescente de inteligência artificial e robôs para otimizar processos de trabalho, muitas profissões deixarão de existir ao passo que outras serão criadas.

Menos dependente das habilidades técnicas — as hard skills —, o mercado se volta para o profissional que sabe trabalhar em equipe, é proativo, busca solucionar problemas e se adapta rapidamente às mudanças. Nesse cenário, a escola tem um papel fundamental.

“Mais do que nunca, os alunos precisam estar preparados para desafios que, muitas vezes, vão exigir mudanças radicais. Daí vem a importância, por exemplo, da flexibilidade e da resiliência”, pondera Geovana.

Habilidades desenvolvidas na prática

Na Escola Monteiro, em Vitória, as estratégias para o desenvolvimento de aptidões socioemocionais estão presentes em todo o projeto pedagógico. “As soft skills são trabalhadas na prática, pelas experiências. O que a escola faz é proporcionar espaços e oportunidades para que o estudante experimente e desenvolva essas habilidades”, afirma Eduardo Costa Gomes, diretor da instituição de ensino.

Em um projeto realizado em grupo, por exemplo, o aluno pode aprender sobre liderança e colaboração. “Os alunos também aprendem entre eles. O professor não é o único sujeito responsável pelo processo de ensino-aprendizagem”, explica.

Seguindo o conceito de metodologia ativa, a escola investe em diversas atividades que estimulam a autonomia, a criatividade, o trabalho em grupo e a resolução de problemas. Um exemplo é a Feira Integrada, evento anual onde os alunos expõem projetos pesquisados e desenvolvidos por eles sobre diversos temas.

Outro exemplo de espaço potencializador para as soft skills é a Assembleia Escolar, realizada com todas as turmas. “Os alunos se reúnem para falar sobre questões, boas ou ruins, que estejam acontecendo no cotidiano escolar. É um ótimo recurso para trabalhar a empatia, o respeito à fala e a escuta ativa”, ressalta Eduardo.

Para a Escola Monteiro, reservar momentos para o autoconhecimento também é importante para o crescimento emocional dos alunos. Aulas de ioga e mais recentemente de mindfulness - que trabalham o equilíbrio e a atenção plena - fazem parte do dia a dia das turmas.

Já através da disciplina Projeto de Vida, o estudante tem a oportunidade de fazer reflexões sobre suas potencialidades, aprender sobre profissões e recebe todo o suporte para identificar sua vocação profissional e elaborar um plano de carreira.

Todas essas ações são importantes para a aquisição das soft skills, mas Eduardo reforça o papel fundamental das famílias na formação de futuros cidadãos e profissionais capacitados para viver em sociedade de maneira mais saudável.

“A escola ajuda no desenvolvimento pessoal do aluno, mas sem a família esse processo não é completo. Afinal, estamos falando de algo muito maior, que não se limita à infância ou à escola. Essas habilidades são para a vida, não só para o mercado.”

Senso crítico e escuta ativa por meio de debates

Espaço de diálogo proporciona escuta ativa, colaboração, resolução de conflitos, entre outras habilidades
Espaço de diálogo proporciona escuta ativa, colaboração, resolução de conflitos, entre outras habilidades. (Salesiano/Divulgação)

Estimular o pensamento crítico, a comunicação assertiva e a escuta ativa são alguns dos objetivos da disciplina “Salê Talks”, que integra desde 2020 a grade de atividades regulares do Colégio Salesiano, em Vitória.

Segundo o professor Lucas Campos, coordenador da área de Ciências Humanas da unidade de Jardim Camburi, a cada aula é debatido um tema da atualidade. A partir da troca de ideias, os alunos propõem intervenções e soluções para as questões levantadas.

“As aulas são dinâmicas e muitos temas são sugeridos pelos próprios alunos. Já debatemos sobre saúde pública, maus-tratos contra animais, educação e negritude, por exemplo”, relata o coordenador.

Realizada semanalmente com as turmas dos ensinos fundamental e médio, o “Salê Talks” permite que o aluno coloque em prática algumas soft skills, como a oratória, a capacidade de resolver conflitos, a flexibilidade e a colaboração.

“Hoje, principalmente, é muito importante ter essas habilidades socioemocionais. É uma preparação para lidar com o mundo lá fora, seja na faculdade, seja no mercado de trabalho”, avalia.

Para o professor Patrique Santos, que administra a disciplina na unidade de Forte São João, o “Salê Talks” também ajuda o estudante a cultivar uma visão mais humanizada e crítica sobre os problemas da sociedade.

“É um espaço para expor as ideias e pensar, coletivamente, em soluções efetivas para uma sociedade mais justa. Essa geração tem muito acesso à informação, mas tem dificuldade de sair da superficialidade”, observa.

Ainda segundo Patrique, após o isolamento social causado pela pandemia, as soft skills se tornaram ainda mais importantes para lidar com os desafios do futuro. “O estudante precisa perceber que, em um ambiente profissional, ele vai precisar transmitir as ideias com clareza, se comunicar bem, ser flexível, ter capacidade de solucionar problemas e se relacionar com as pessoas”, aponta o professor.

Desconstruir práticas tradicionais

Acolhimento e afeto são fundamentais para propiciar um ambiente de aprendizado
Acolhimento e afeto são fundamentais para propiciar um ambiente de aprendizado. (Viver/Divulgação)

Foco em um espaço afetivo, com atividades de leitura, linguagens, raciocínio lógico e planejamento. Essa é a estratégia do Centro Educacional Viver para desenvolver as soft skills. Na avaliação da diretora pedagógica Cândida Pereira, por mais distinto o contexto de cada escola, há um consenso sobre a importância de desconstruir práticas pedagógicas tradicionais.

“As práticas tradicionais não promovem o estímulo máximo dos pequenos, tendo enfoque apenas em estruturas mentais, além de conferir ao aluno uma posição passiva do processo”, pondera.

Aliás, ela ressalta que é dever da escola ter um papel de acolhimento e afeto, inclusive com as famílias dos alunos. A diretora pedagógica reforça que, no centro educacional, as crianças são valorizadas como indivíduos, com suas necessidades de atenção, aprovação e carinho supridas. “Instruímos para o desenvolvimento do pensamento e adquirimos uma base sólida de conhecimento e habilidade”, finaliza.

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