Desejar que os pequenos sejam leitores é algo comum entre os pais e familiares, mas como fazer essa vontade se tornar realidade pode ser um desafio. A 5ª edição da pesquisa nacional Retratos da Leitura no Brasil, uma realização do Instituo Pró-Livro junto ao Itaú Cultural, revelou que 46% das crianças de 5 a 10 anos brasileiras gostam muito de ler, enquanto 42% declararam gostar um pouco. O estudo executado pelo IBOPE e publicado no dia 11 de setembro de 2020 teve uma mostra de 8076 pessoas e seu ano base foi 2019.
A doutora em educação, atuante na formação de professores na área e escritora Lilian Menenguci garante algumas dicas para deixar a criançada encantada pela literatura e também comenta sobre alguns equívocos na hora de propor a leitura como algo prazeroso.
Sobretudo, a criança pequena. Ela aprende por meio de processos de imitação. Então, se você é um leitor, se essa sua criança observa você lendo em algum momento, isso é importante para ela, pontua a professora, dando como primeira dica o exemplo dos adultos. Ela acrescenta que é um grande erro que o mediador da leitura exija que a criança leia sem se mostrar ele próprio um leitor.
A leveza e a diversão são dois fatores destacados pela escritora capixaba na hora de apresentar a obra para as crianças. Nesse momento, além da história, é preciso instigar a curiosidade da criança. Por isso, comece provocando seu interesse pelo livro a partir da capa, aproveite e apresente o autor e o ilustrador também, pontua. Para favorecer esses aspectos, Lilian também chama a atenção para a escolha de um horário e local especial para a experiência, mas não se preocupe: segundo a professora, qualquer local da casa pode se tornar palco para uma história.
Já a terceira dica fica por conta da contextualização da história escolhida com a rotina da criança. Para fazer essa ligação, a autora explica que o tutor deve ler a obra antes sozinho, assim poderá comparar as situações da história com as experiências da própria criança. A história, entre outras coisas, pode se constituir dispositivo para que a criança conte sobre suas próprias histórias, formule e compartilhe suas hipóteses sobre as pessoas, as coisas e o mundo , afirma.
E a criatividade na hora de estimular a criançada a ler não para por aí. A quarta dica é usar dela para tornar o livro ainda mais atrativo. Para os adultos que irão mediar a leitura, Menenguci indica contadores de história como fontes de inspiração: Tem o Rodrigo Campanelli, tem a Dana Oliver também, que eu gosto, comenta, explicando que existem vários outros interessantes. Com eles, a ideia é que se possa aprender a brincar com as palavras, usar do gestual e, sobretudo, soltar a imaginação.
Uma sugestão é que a criança seja estimulada a mudar o final da história e até propostas de artesanatos podem ser feitas. No entanto, sobre a criação de atividades a partir da leitura, tais como fichas de respostas ou os próprios bonecos dos personagens, a professora alerta que é preciso tomar cuidado: Pode ser um incentivo, a gente só não pode tornar isso uma consequência quase que obrigatória a partir da leitura. Porque se a gente já associa com uma atividade, a gente precisa tomar muito cuidado para não didatizar ou pedagogizar a leitura literária.
Uma última dica da autora para o estímulo da leitura é o ato de presentear as crianças com livros. Em nosso processo cultural é muito comum presentear as crianças com brinquedos. Já com livros, isso não acontece na mesma frequência, comenta Lilian. Com o natal batendo à porta e a pandemia se mantendo presente, essa pode ser uma boa oportunidade de estreitamento de laços entre os tutores e as crianças tendo um livro como ponte.
Para além da atenção à faixa etária das obras, a escritora é enfática ao tratar da seleção dos livros: Não escolha por escolher, que a gente pense porque está levando aquela obra para aquela criança. Sendo assim, ela explica que todos os aspectos são importantes, da tipografia utilizada à forma como as palavras são colocadas.
A escritora cita temas que envolvam animais; brincadeiras; sentimentos; e alguns muito próximos da vida das crianças como boas escolhas. Menenguci ainda desmistifica a integração de temas tidos como não pertencentes ao mundo infantil comumente na dieta de leitura das crianças, tais como o respeito às diferenças raciais e de gênero, por exemplo.
Não posso aliviar as crianças dessas conversas, porque elas existem. Elas pegam os adultos conversando sobre isso, elas veem isso nos programas que, de vez em quando, podem estar aí acompanhando, tanto na TV, quanto em plataformas diferentes, argumenta.
Quanto à presença massiva da internet na vida das crianças, cada vez mais cedo, a escritora diz não acreditar nela como um fator que dificulte o interesse delas pela literatura. Sempre vai depender muito de quem é o adulto nessa relação, porque não dá para negar que é uma ferramenta inerente a essa geração. O que a gente precisa fazer é organizar esses tempos de acesso a essa rede mundial de computadores, a forma como ela acessa, ressalta.
Para os que gostaram das dicas da autora e professora, ela também reuniu indicações literárias para os pequeninos, confira algumas delas:
*Sarah Bichara é estagiária da Rede Gazeta, sob orientação do editor Erik Oakes.
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