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Clássicos como '1984' e 'A Peste' são sucessos de venda na quarentena

Clássicos como "1984" e "A Peste" são sucessos de venda na quarentena

Obras já lançadas, que abordam distopias, voltam para os rankings de livros mais vendidos no Brasil durante o período de isolamento

Publicado em 19 de maio de 2020 às 14:43

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"A Peste", "Ensaio Sobre a Cegueira" e "Admirável Mundo Novo" estão entre os livros mais vendidos durante a quarentena. . (Montagem/Divulgação)

Estamos vivendo um momento crítico na saúde mundial, que pode nos fazer refletir sobre o fim do mundo, o futuro da humanidade e tudo o que nos cerca como sociedade. Curiosamente, na área literária, o mercado de obras tem registrado na quarentena um interesse particular do público, entre os livros de ficção, pelas chamadas distopias - obras que retratam futuros imaginários opressores e repletos de problemas.

As informações de vendas da Amazon e uma pesquisa do Publishnews demonstram uma presença em peso de livros dessa abordagem. Os dados do portal apuraram informações de 27 de abril a 3 de maio e basearam os resultados na soma simples das vendas de 18 livrarias. Já os registros da Amazon se referem a abril, maio e às atualizações de hora a hora feitas pelo site.

O autor George Orwell é um dos grandes destaques, com seu mundialmente conhecido “1984”, lançado em 1949. O livro evoca uma sociedade dominada pelo Estado, onde o Grande Irmão, a personificação do poder e da crueldade, fiscaliza a todos. O escritor ficou marcado por suas referências políticas nas obras. Em “A Revolução dos Bichos”, por exemplo, satiriza o regime stalinista na antiga União Soviética. Este último também está entre os mais vendidos no país na área de ficção.

A obra de Albert Camus, “A Peste”, de 1947, ganha notoriedade ainda maior, por retratar uma epidemia. Na narrativa, a cidade de Orã, na Argélia, teve sua população dizimada por um vírus passado pelos ratos. Os medos e a necessidade de solidariedade que enfrentamos hoje são mostrados nesse clássico. Ganhador do Prêmio Nobel da Literatura em 1957, o livro é também uma metáfora dos horrores da Segunda Guerra Mundial.

O escritor e dono da editora Cousa, Saulo Ribeiro explica que, normalmente, as vendas no mercado editorial tendem a estar relacionadas ao cenário social e político. Com relação aos livros procurados, o escritor declara que o público acaba buscando por obras clássicas do assunto em voga no contexto em que estão inseridas. “Quando a realidade se aproxima tanto de algo distópico, as pessoas buscam por isso”, reflete Ribeiro sobre a situação atual e o crescimento na procura de livros de distopia.

Sobre o objetivo das distopias, o tradutor, escritor e pós-graduando em Letras na Ufes, Wladimir Cazé entende que são obras que retratam uma história alternativa ou um futuro possível, ou provável, de um ponto de vista pessimista e cético, para explicar questões das sociedades onde elas são escritas.

Cazé ainda destaca que a força de um grande livro vai além de um momento ou lugar específico no qual foi produzido. “Tende a fazer com que o leitor vivencie nelas uma atualidade permanente”, explica.

Como exemplo de obra que, ao ser lida agora, traria a sensação de que se fala propriamente do Brasil de 2020, o escritor cita o romance distópico de José Saramago, "Ensaio Sobre a Cegueira". A narrativa de 1995 fala de uma doença epidêmica e de como as pessoas lutam pela autoconservação depois de serem abandonadas por seu governo central.

O livro português também é um dos títulos mais consumidos durante a pandemia. A Companhia das Letras, que edita o livro no Brasil,  postou sobre o novo significado que o livro assume durante a pandemia. "'Ensaio sobre a cegueira', do português José Saramago, ganhou um novo significado durante a pandemia de COVID-19. Publicado em 1995, o livro explora o comportamento dos habitantes de uma cidade que ficam cegos e quarentenados após serem acometidos pela 'treva branca', diz o texto publicado no Instagram da editora.

Já “Nós”, do autor Yevgeny Zamíatin, dá vida a um Estado totalitário onde todas as ações da população são mecanizadas e precisamente controlas. O livro de 1924 foi base inspiratória para uma sequência de distopias que marcaram época, entre elas “Admirável Mundo Novo” e “Fahrenheit 451”. A trama de Zamíatin e seus frutos estão entre os mais vendidos do período de isolamento social. A liga que os une é o autoritarismo incisivo dos sistemas políticos.

Para ficar por dentro de algumas das distopias que estão entre os livros mais vendidos nessa quarentena, confira a lista dos selecionados:

A PESTE

A Peste
Livro "A Peste". (Reprodução/ Capa "A Peste")

FAHRENHEIT 451

Fahrenheit 451
Livro "Fahrenheit 451". (Reprodução/ Capa "Fahrenheit 451")

NÓS

Nós
Livro "Nós". (Reprodução/ Capa "Nós")

1984

 1984
Livro "1984". (Reprodução/ Capa "1984")

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

Admirável Mundo Novo
Livro "Admirável Mundo Novo". (Reprodução/ Capa "Admirável Mundo Novo")

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

Ensaio Sobre a Cegueira
Livro "Ensaio Sobre a Cegueira". (Reprodução/ Capa "Ensaio Sobre a Cegueira")

O CONTO DA AIA

O conto da Aia
Livro "O Conto da Aia". (reprodução/ Capa "O conto da Aia")

BOX FRANZ KAFKA

Franz Kafka
Box Franz Kafka. Com o trio de livros: "A Metamorfose" (1915); "O processo" (1925) e "O Castelo" (1926). (Reprodução/ Capa Box Franz Kafka)

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS

A Revolução dos Bichos
Livro "A Revolução dos Bichos". (Reprodução/ Capa "A Revolução dos Bichos")

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