A ciência desempenha papel fundamental no agronegócio ao fornecer conhecimentos, tecnologias e inovações que impulsionam o desenvolvimento sustentável, a produtividade e a eficiência do setor. Por meio de pesquisas, é possível melhorar diversos aspectos da produção, desde o manejo do solo e da água até o melhoramento genético de plantas e animais.
Somente o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) tem, atualmente, 103 projetos de pesquisa e transferência de tecnologia em desenvolvimento em todo o Espírito Santo para áreas como aquicultura, cafeicultura, culturas alimentares e condimentares, desenvolvimento socioeconômico, fruticultura e silvicultura, entre outras.
Já o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) dedica-se a 10 pesquisas em andamento sobre defesa sanitária e inspeção animal e vegetal, controle florestal, diagnóstico laboratorial e comunicação para o desenvolvimento rural.
Um dos trabalhos realizados pelo Idaf deu celeridade ao diagnóstico de raiva no Estado ao desenvolver uma técnica para identificar a doença. O médico-veterinário e fiscal do Idaf Luiz Fernando Pereira Vieira explica que a pesquisa permitiu reduzir, de 30 dias para até 24 horas, o prazo da entrega do diagnóstico.
“Sempre diagnosticamos a raiva com duas técnicas, uma é a imunofluorescência direta e a outra é a inoculação em camundongos. Então, fizemos um projeto e passamos a utilizar uma técnica in vitro, a RT-PCR, no lugar da inoculação em camundongos, e o resultado é obtido em até um dia”, detalha.
O fiscal acrescenta ainda que a técnica RT-PCR é a mesma utilizada para o diagnóstico da Covid-19 e, desde janeiro de 2023, cerca de 300 testes já foram realizados, inclusive um em humano.
O benefício desse diagnóstico com mais velocidade, de acordo com Luiz Fernando, não é apenas para o produtor de bovinos, equinos e suínos, que são os animais do campo mais acometidos, mas também para a saúde pública.
“A raiva é uma doença muito séria, com uma letalidade que chega a quase 100%. Quase todo mundo que se contamina morre. A chance de sobreviver está justamente no diagnóstico da doença, porque o tempo de incubação é extenso e a pessoa pode se vacinar antes de o vírus realmente infectá-la. Por isso que a orientação é, caso alguém sofra mordida de animal, como cão e gato, deve tomar vacina contra a raiva. No entanto, no campo, saber se o animal estava com raiva é fundamental para ações preventivas, para proteger as produções e, sobretudo, os seres humanos”, conclui.
As instituições de ensino, como a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), também têm projetos para o fortalecimento rural.
Desde 2021, o projeto de Fortalecimento da Agricultura Capixaba (FortAC), do Ifes, realiza de Norte a Sul no Espírito Santo 20 pesquisas voltadas para 10 culturas agrícolas.
Professor de Ciências Agrárias do Campus de Alegre e coordenador do FortAC, Sávio Birelli explica que todas as pesquisas aplicadas no campo se originaram após uma expedição realizada em todo o território capixaba, na qual os pesquisadores ouviram as demandas dos produtores rurais.
“São 20 subprojetos relacionados à atividade agrícola, muitos deles realizados diretamente nas propriedades de produtores rurais. As pesquisas abordam soluções relacionadas ao melhoramento genético, fitossanidade, manejo das culturas, nutrição mineral, propagação vegetal, agroindústria, mecanização, entre outras áreas das ciências agrárias”, elenca o professor.
As 10 culturas agrícolas pesquisadas são abacate, abacaxi, cacau, gengibre, mandioca, morango, pimenta-do-reino, pimenta-rosa, plátano maranhão e banana-prata.
Outras duas pesquisas também fazem parte do FortAC, apesar de não serem sobre produção de culturas. Tratam-se dos estudos sobre a fabricação de biojoias a partir de conchas do mar das praias de Piúma, no Litoral Sul do Espírito Santo, e também da análise da composição química do sal-gema das jazidas do município de Conceição da Barra, no Norte do Estado.
De acordo com Birelli, os estudos são conduzidos por 20 pesquisadores dos campi, que montam uma rede de parceria para o desenvolvimento das atividades, envolvendo outros atores, como associações agrícolas, câmaras municipais, Incaper e Serviço de Aprendizagem Rural (Senar).
Para o andamento das pesquisas, o FortAC tem o investimento inicial de R$ 4,5 milhões em pesquisas e ações de extensão tecnológica relacionadas às atividades primárias no Espírito Santo até 2025, quando o projeto será finalizado. Os recursos para essa iniciativa foram provenientes de uma emenda da bancada federal capixaba em 2022, proposta pelo então deputado federal Felipe Rigoni, hoje secretário de Meio Ambiente do Estado.
No caso da Ufes, Fábio Partelli é diretor de pesquisa na área de genética e melhoramento em várias frentes, incluindo as ciências agrárias.
O docente destaca que a universidade é reconhecida no mundo como a instituição que mais publica estudos sobre o café conilon, produto agrícola responsável por 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, de acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag).
“É um dever da universidade contribuir para o desenvolvimento do campo por meio de pesquisas que vão gerar conhecimento, informações de ciência básica e aplicada, no manejo de culturas, no direcionamento de uma adubação. Tudo isso faz com que a atividade seja mais lucrativa e mais sustentável. Se eu colocar mais adubo em uma produção, eu consigo colher mais, ter mais rentabilidade, por exemplo”, detalha Partelli.
O professor informa ainda que, desde 2017, os pesquisadores de café conilon da universidade se dedicam ao melhoramento genético de grãos, entre outras pesquisas, avaliação de vários tipos de sombreamentos nas lavouras de café, plantação da variedade em locais de altitude e plantio de sementes vindas de outros países, como da Angola.
“A ciência e a tecnologia ajudam na sustentabilidade e na preservação ambiental. Além disso, formamos mestres e doutores, que estudam entre dois e quatro anos na universidade, mas têm essa formação para a vida. Esse é um ganho social inestimável”, finaliza.
Com o objetivo de dar transparência às atividades desenvolvidas pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), foi lançado em maio de 2023 o Plano de Dados Abertos (PDA), um instrumento que operacionaliza a Política de Dados Abertos do Poder Executivo Estadual, auxiliando no planejamento das ações que visam à abertura e sustentação de dados nas organizações públicas.
Diretor-presidente do Incaper, Franco Fiorot explica que a ferramenta vai ser alimentada de forma periódica com dados de interesse público, como informações administrativas, número de servidores, comissões e práticas de transparência, entre outras.
O diretor-presidente detalha ainda que a ferramenta foi construída de forma colaborativa, envolvendo todas as unidades do Incaper à luz dos princípios da publicidade e da transparência da administração pública.
“A expectativa é que, daqui um tempo, quando avaliar a eficácia da ferramenta, a gente também consiga inserir, de fato, informações sobre os projetos de pesquisas que o Incaper realiza, os resultados parciais, a exemplo do projeto ‘Mulheres no Cacau’. Queremos registrar os resultados parciais dele no PDA”, exemplifica Fiorot.
Os vermes nematoides do gênero Meloidogyne (nematoide-das-galhas), quando presentes na área de cultivo, são considerados patógenos que mais causam danos ao café conilon. Por meio de uma pesquisa de 12 anos, realizada tanto em ambiente controlado quanto em propriedades rurais, pesquisadores do Incaper desenvolveram, de forma inédita, porta-enxertos capazes de fazer mudas de café conilon resistentes aos patógenos e eliminar os vermes.
O Incaper iniciou, em 2019, o projeto intitulado “Desenvolvimento da cadeia produtiva do alho e fortalecimento da agricultura familiar na Região Serrana do Espírito Santo pela introdução da tecnologia do alho-semente livre de vírus”, com o objetivo de fomentar a cadeia de valor do alho por meio da capacitação de agricultores, técnicos agrícolas, extensionistas rurais e consultores em sistemas avançados de produção de alho, da introdução de cultivares livres de vírus de alto rendimento e de um sistema de produção de alho-semente livre de vírus.
Desde 2021, pesquisadores do Ifes estudam sobre como realizar o melhoramento genético participativo do gengibre, caracterizando a diversidade genética e morfoagronômica com base em aspectos produtivos, qualitativos e de resistência à doença de genótipos de gengibre cultivados no Espírito Santo.
Com o objetivo de identificar a infestação por ácaros rajados em culturas do morangueiro, pesquisadores do Ifes estão desenvolvendo um sistema inteligente computacional. A pesquisa, que começou há um ano, já escutou as principais dores dos produtores rurais capixabas e já teve início a implementação parcial do back-end da solução.
Fontes: Andrea Ferreira da Costa - pesquisadora do Incaper, engenheira-agrônoma e doutora em Produção Vegetal; Inorbert de Melo Lima- pesquisador do Incaper, engenheiro-agrônomo e doutor em Fitopatologia; Sávio Berilli - professor de Ciências Agrárias do Ifes de Campus de Alegre.
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