Os pés de café de propriedades no Norte do Espírito Santo sabem “falar”. E nunca se comunicaram de forma tão clara quanto agora. Se têm sede ou se estão ficando fracos, eles avisam ao produtor, que, prontamente, atende aos chamados com água e nutrientes, sempre na medida exata das necessidades de cada planta.
Longe de ser dom ou magia, a comunicação acontece por meio da tecnologia de precisão. Trata-se de uma nova forma de relacionamento entre o homem do campo e sua produção, no horizonte da Agricultura 5.0.
“A tecnologia possibilita compreendermos, a partir da análise de dados, o conjunto de fatores do desenvolvimento da produção e das necessidades da planta. Essas informações nos ajudam na tomada de decisão, garantem eficiência no uso da água e dos recursos energéticos, aumento da produtividade e adoção de um método mais profissional e competitivo dentro do mercado”, explica o produtor Thiago Orletti, que também é presidente da Associação dos Irrigantes do Estado do Espírito Santo (Assipes).
Na propriedade que ele tem em Pinheiros em sociedade com os irmãos, Jonas e Stenio Orletti, são utilizados extrator de solução do solo, que faz a análise dos nutrientes; o tensiômetro, que aponta para a necessidade ou não da irrigação, e o medidor de PH.
Instaladas no campo, várias baterias permitem entender o conjunto de fatores da produção. Tudo controlado por planilhas, que são fundamentais na tomada de decisão. Como resultado, a produtividade teve aumento de 30% desde a implantação das tecnologias, a partir de 2018.
A família Orletti não é a única na trilha da automação. Essa onda tecnológica está em plena expansão no agronegócio capixaba e, por onde passa, deixa um rastro de prosperidade. O Espírito Santo vive a chamada Agricultura 4.0, caracterizada pelo uso de tecnologias desenvolvidas para otimizar a produção.
Mas algumas propriedades, no entanto, estão um passo à frente e já experimentam a revolução 5.0, destinada a grandes produções e que busca introduzir a robótica e a Inteligência Artificial (IA) nas atividades, explica o professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), campus Venda Nova do Imigrante, Lucas Louzada.
Essas inovações permitem maior agilidade, autonomia, conectividade e integração aos processos produtivos e de gestão. “Em termos de tecnologia de manejo e controles biotecnológicos, o agronegócio capixaba está bem. Quando se fala em hardwares e tomada de decisão por algoritmo, o Estado avança cada vez mais”, avalia.
Na fazenda Três Marias, em Linhares, os progressos tecnológicos têm permitido o maior controle do uso de água desde a instalação de 19 sensores em outubro de 2021. Os equipamentos monitoram a umidade do solo e a necessidade de acionar o sistema de irrigação para hidratação de culturas, como coco, café e milho.
“Os equipamentos medem a tensão das partículas de água retiradas do solo. Servem para fazer uma manejo correto, fornecendo às culturas apenas a quantidade de água necessária. Tem como função acionar a irrigação na quantidade e hora certas, evitando desperdícios de água e gastos desnecessários”, explica o gerente da propriedade, Sérgio Lugon.
Já o produtor de banana Sérgio Correia Maia, parceiro de uma fazenda em Linhares, aposta no uso de drones. Para ele, a tecnologia é fundamental no controle de custos e na gestão do negócio, com resultados excelentes, sobretudo, em relação à redução de impactos ao meio ambiente.
“A aplicação de fertilizantes e defensivos com drone é muito direcionada, autônoma e georreferenciada. O equipamento não faz manobras fora da área necessária. No Espírito Santo, estivemos entre os pioneiros no uso de drones. E posso dizer que realmente vale a pena. É uma tecnologia que se paga, dependendo da propriedade, em um ou dois anos”, explica.
Comparativamente, no período de um ano, seriam necessárias seis aplicações com o avião e 12 com trator, enquanto que, com o drone, são apenas três.“Isso representa economia com o produto e mão de obra, ganho de qualidade e eficiência no combate às pragas”, elenca Maia.
Sensores são usados na Fazenda Três Marias para monitorar a umidade do solo e garantir hidratação às lavouras de café, coco, banana e milho
Jaeder Fiorentini, produtor de café, cacau e pimenta em São Gabriel da Palha, resume: “Atualmente, tudo envolve tecnologia. Temos 25 parceiros da agricultura familiar, que se beneficiam das vantagens tecnológicas em adubação e irrigação, por exemplo. A tecnologia reduz a margem de erro. Numa produção, se você errar, paga o preço por um ano. Mas, com as ferramentas certas, consegue ajustar na mesma hora”, compara.
Mas para que os efeitos positivos da inovação possam chegar a todos no Estado, é preciso investir em conexão e capacitação, avaliam os especialistas. “A internet no campo é realidade. Quando não tem roteador, há o 4G. Mas a tecnologia de ponta não está presente da mesma forma para todos. Onde falta, é a assessoria técnica que faz a diferença”, observa Perseu Fernando Perdoná, gerente corporativo técnico da Cooperativa Agrária dos Produtores de São Gabriel (Cooabriel).
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária no Espírito Santo (Faes), Júlio Rocha, considera que a adoção de tecnologias no campo é um caminho sem volta.“Os preços vêm sofrendo majoração. Quem não adotar agricultura de precisão para evitar desperdício estará fora do mercado. A tecnologia agrega outras vantagens, como melhoria do espaçamento e do sistema de irrigação.”
Ele destaca ainda o desafio de qualificar a mão de obra com as competências necessárias para este novo momento do campo. “O índice de desemprego é muito grande, mas não falta trabalho, faltam pessoas qualificadas para atuar com as tecnologias. Por isso, é mais do que necessário oferecer capacitação para este público”, considera Rocha.
AS ETAPAS DA REVOLUÇÃO NO CAMPO
Agro 1.0
Sem recursos tecnológicos e com baixa produtividade, apenas para subsistência. Durou até meados do Século XX
Agro 2.0
Chegada de máquinas e evolução da ciência a partir de 1950. Início da produção em grande escala
Agro 3.0
Início da automação e do despertar para a sustentabilidade. Começa a coleta de dados para uso estratégico na melhoria da produtividade entre 1990 e 2010
Agro 4.0
A partir de 2010, há uma revolução digital e um boom de novas tecnologias e pesquisas para potencializar o agronegócio
Agro 5.0
Nessa evolução pós 4.0, aproveita-se toda a base inicial tecnológica da agricultura atual para tornar os processos mais eficientes
Fazenda Lagoa Nova, em Linhares, usa drones para pulverizar defensivo agrícola e para monitorar situação da plantação de banana
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