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Doces de banana aumentam renda e autoestima de mulheres em Cariacica

Grupo uniu forças para transformar a fruta em diferentes tipos de produtos que conquistaram o mercado até fora do Estado

Tempo de leitura: 7min
Vitória
Publicado em 19/10/2022 às 17h01

Para a filosofia e a literatura religiosa, o sete é um número divino, que significa aprendizado, harmonia, renovação. E foi buscando se reinventar que sete mulheres da área rural de Cariacica uniram forças para formar o Grupo 7M, especializado em transformar banana em doces cheios de sabor, garantindo uma nova fonte de renda e aumentando a autoestima das integrantes.

Vera Lúcia Monteiro Barcelos, a líder do Grupo 7M, lembra como tudo começou. Era o final dos anos 1990 quando mulheres que trabalhavam na roça, nas localidades de Cachoeirinha e Sabão, em Cariacica, perceberam que boa parte da produção de bananas era descartada ali mesmo.

Isso porque os produtores juntavam as bananas para serem recolhidas pelo caminhão e, depois, colocadas à venda, mas deixavam para trás as frutas mais maduras, que não serviam para serem transportadas. “Quem criava porcos e galinhas dava essas sobras para eles. Mas quem não tinha animais deixava lá mesmo jogado, para se decompor no tempo ou para os pássaros comerem”.

Motivadas pela ideia de fazer o processamento do alimento que era descartado, elas iniciaram um curso de formação profissional oferecido pela Prefeitura de Cariacica sobre derivados da banana. Vera conta que, logo após a conclusão do curso, as mulheres decidiram criar a Associação de Mulheres Rurais das Comunidades de Cachoeirinha e Sabão. Nessa época, elas produziam apenas mariolas e bananas chips.

Com o passar dos anos e o aprendizado adquirido, um grupo demonstrava o desejo de trabalhar com a produção de bananas-passas. "Como éramos em sete mulheres, surgiu em 2006 o Grupo 7M", diz a produtora.

A formação do grupo passou por transformações ao longo dos anos e hoje é composta por Vera Lúcia, Ana Marlene, Luzia da Costa Pereira, Maria das Graças, Evanilda Barcelos Vieira, Rosilene Monteiro e Lenicelia Silva.

Produtores de bananas de Cariacica

Grupo 7M: (da esq. p/ dir.) Luzia da Costa Pereira, Evanilda Barcelos Vieira, Ana Marlene Bremenkamp Monteiro, Lenicelia Silva Barbosa, Vera Lúcia Monteiro Barcelos, Maria das Graças de Jesus Monteiro, Rosilene Monteiro Barcelos
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Fábrica do Grupo 7M
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Grupo 7M
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Gilmar Rodrigues, a espoas Elizete, os filhos Alan e Rainne
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Gilmar Rodrigues, a espoas Elizete, os filhos Alan e Rainne
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Gilmar Rodrigues
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Gilmar Rodrigues
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Davi Rodrigues, presidente da Cooperativa da Agricultura Familiar de Cariacica - CAFC
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O Grupo 7M, que começou de forma improvisada numa escola da região, foi crescendo e, em 2013, construiu uma fábrica. Foi nessa mesma época que a produção se expandiu para bombons de banana, banana-chips e farinha de banana.

Hoje o Grupo 7M vende seus produtos em feiras e eventos ao longo do ano. Também fornece para lojas na Grande Vitória. Além disso, atende o mercado institucional via cooperativa. Em 2017, chegou a enviar seus produtos para os Estados Unidos e para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

O Grupo 7M é formado por sete mulheres que fabricam produtos derivados da banana. Elas são de Cachoeirinha, Cariacica. Na foto, (da esq. p/ dir.) Vera Lúcia Monteiro Barcelos, Maria das Graças de Jesus Monteiro, Luzia da Costa Pereira, Lenicelia Silva Barbosa, Rosilene Monteiro Barcelos, Ana Marlene Bremenkamp Monteiro, e Evanilda Barcelos Vieira
Grupo 7M fabrica derivados da banana, em Cachoeirinha, Cariacica . Crédito: Carlos Alberto Silva

DE MÃOS DADAS

Quem visita a fábrica percebe um espírito de amizade e união no ambiente. Lá, as mãos que fazem os movimentos delicados, de envolver a banana-passa no chocolate morno, são as mesmas que unem e fortalecem o grupo em momentos difíceis, como conta Vera. “Aqui tem mulher casada, mãe solteira, aposentada... Aqui há parceria, união e solidariedade em todos os momentos. Todo mundo segura na mão uma da outra quando precisa. Isso nos faz mais fortes”.

Ela acrescenta que, mais do que renda, a trabalho contribui para a autoestima das trabalhadoras. “Lógico que a vida melhorou, que o dinheiro é sempre bom e ajuda. Mas nosso ganho maior é o elogio. É saber que o nosso trabalho tem uma qualidade reconhecida pelas pessoas que consomem nossos produtos”, diz.

Grupo 7m
À frente do grupo, Vera Lúcia mostra os produtos feitos a partir da banana . Crédito: Carlos Alberto Silva

ENTRADA NA COOPERATIVA

Para o fortalecimento dos negócios, assim como fizeram outros produtores de bananas, o Grupo 7M passou a fazer parte da Cooperativa da Agricultura Familiar de Cariacica (CAFC). Para elas, essa parceria tem dado muito certo.

Dona Vera conta que a iniciativa principal dessa parceria é a distribuição e comercialização pela cooperativa da banana-passa produzida pelo Grupo 7M. "A cooperativa manda para nós as bananas. Em seguida, entregamos um produto, a banana-passa, que é distribuída nas escolas públicas estaduais de Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo”.

Além disso, a cooperativa auxilia na produção de projetos para buscar recursos para a associação. Como foi o caso do pedido de apoio feito ao Fundo Social de Apoio à Agricultura Familiar (Funsaf), voltado a democratizar o acesso a fontes financeiras para as associações, cooperativas e organizações de apoio à agricultura familiar do Espírito Santo.

Vera conta que esse tipo de ação é de muita importância para todo o grupo de mulheres. "Não tivemos a oportunidade de estudar muito, adquirir conhecimento que nos dê condições de escrever um projeto desse tipo. Por isso, a cooperativa é tão importante para nós", explica.

Plantação de banana
Plantação de bananas na localidade de Sabão, Cariacica. Crédito: Carlos Alberto Silva

SECA AMEAÇA PRODUÇÃO

Hoje a capacidade mensal de produção da fábrica é de 500 quilos de banana-passa. Em 2021, elas produziram uma média de 3.800 quilos, oriundas das bananas prata e nanica. "Somente para empresa Le Chocolatier, enviamos por mês entre 40 e 120 quilos", contabiliza Vera.

Mas ela diz que atualmente o grupo está trabalhando somente sob demanda. Isso porque a falta de chuvas está prejudicando a produção da fábrica. A estiagem prolongada não é uma preocupação só dela, mas de todos os produtores da região.

Nas localidades de Sabão e Cachoeirinha, de onde vem a maior parte da matéria-prima para toda produção da fábrica das mulheres, não chove em abundância desde janeiro. "Somente de um produtor nós recebíamos três caixas de bananas maduras toda semana. Hoje esse mesmo produtor manda somente uma caixa", compara.

Com 61 anos de idade, quase 50 deles vividos em Cachoeirinha, Vera é incisiva ao apontar a causa desse fenômeno: o desmatamento. “Desmataram tudo sem pensar, sem planejar", lamenta.

Em seguida, aponta para o alto de um morro próximo e diz: "Lá existia uma mata bonita, uma nascente. Foram lá e cortaram toda a mata. Hoje não tem mais a mata e nem a nascente", diz, com tristeza.

Para não ficar sem bananas e prejudicar a produção, o grupo passou a comprar frutas verdes também de outras localidades. Mesmo assim, a demanda diminuiu. A vantagem de comprar bananas verdes é ter uma perda menor, que chega no máximo a 10%. Já com a banana madura essa perda chega a 30%. Por outro lado, paga-se mais caro pela banana verde.

De acordo com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), a produção de bananas ocorre em 21 mil propriedades por todo o Espírito Santo. A maioria é formada pela agricultura familiar, que gera 30 mil empregos diretos e indiretos. Em 2021 foram vendidas 415 mil toneladas de bananas.

Agricultura familiar
Gelson Alvin e Gilmar Rodrigues fazem parte da Cooperativa da Agricultura Familiar de Cariacica (CAFC). Crédito: Ilustração de Carlos Alberto Silva

Ainda na localidade de Sabão, o agricultor familiar Gelson Alvim, 53 anos, também sente os efeitos amargos da estiagem prolongada na sua plantação de bananas.

Porém, logo no início da conversa, um som vindo das telhas de zinco que cobrem a casa de Gelson chama a atenção: são os pingos da tão esperada chuva.

A constatação logo faz brotar nele um sorriso e o sentimento de esperança pelo retorno das chuvas na localidade. "Aqui nessa região choveu apenas no início deste ano. De lá pra cá, praticamente, não choveu mais", lamenta.

O lamento é porque, sem a chuva, a produção de bananas reduziu drasticamente. “Antes minha produção era de 100 caixas por semana. Agora, são apenas 12”, compara.

Uma forma que ele encontra para manter o dinheiro entrando no bolso é a venda de outros tipos de frutas que cultiva no seu terreno. "Aqui eu tenho um pouco de laranja, abacate, coco e jabuticaba. Essas frutas eu vendo na feira de que participo aos finais de semana em um shopping".

Gilmar Rodrgiues
Agricultor Gilmar Rodrigues comemora o refresco da chuva e torce para que mais água caia do céu . Crédito: Carlos Alberto Siliva

Situação semelhante vive Gilmar Rodrigues de Barcelos, de 50 anos, que é um dos sócios-fundadores da CAFC. Em três dos quatro hectares de terra dele, estão plantados 6 mil pés de banana. Para dar conta do trabalho, ele tem a ajuda da esposa, Elizete Barbosa de Barcelos de Almeida, 47 anos, e do o filho Alan, de 16 anos. Mas, devido à estiagem, houve redução na produção. “Todo mês, eu conseguia entre 80 e 100 caixas de bananas. Hoje esse número caiu para 10 ou 12 caixas”, lamenta.

De acordo com Davi Dutra de Barcelos, um dos fundadores e atual presidente da CAFC, para amenizar os estragos causados pela falta de chuvas que prejudica a produção e, consequentemente, as vendas, a cooperativa está fazendo estudos de assistência técnica para a criação de barramento. O objetivo é reter a água das chuvas, quando voltarem, e fazer a perfuração de poços artesianos.

A Organização das Cooperativas Brasileiras do Estado do Espírito Santo (OCB/ES), da qual a CAFC faz parte, acrescenta que também está em busca de soluções para a melhoria na produtividade de seus cooperados, junto ao Sebrae/ES e a outras instituições.

Davi Barcelos explica que a CAFC é formada, em sua maioria, por trabalhadores da agricultura familiar, aqueles que têm entre dois e quatro hectares de terra e trabalham sozinhos ou com a ajuda de familiares.

Gilmar Rodrigues de Almeida, 50 anos. Ele é produtor de bananas na localidade de Sabão, Cariacica, e faz parte da Cooperativa da Agricultura Familiar de Cariacica (CAFC). Na foto, sua esposa Elisete Barbosa de Barcelos de Almeida, o filho Alan, de 16 anos, e a filha, Rainne, de 10 anos.  
Agricultor Gilmar Rodrigues comemora o refresco da chuva e torce para que mais água caia do céu. Crédito: Carlos Alberto Siliva

A cooperativa surgiu em 2017 com 20 associados. Na época, eles estavam sofrendo com a seca desde 2014. Com a volta das chuvas no final de 2016 e a boa produção em 2017, faltou demanda para a venda de toda a mercadoria. Eles, então, criaram a cooperativa para unir os produtores e buscar novos mercados dentro e fora do Espírito Santo.

A estratégia deu certo. Hoje a entidade tem clientes no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde a Prefeitura e governo do Estado são os maiores clientes. O grupo conta com 143 cooperados, sendo 85 somente em Cariacica. O restante está distribuído entre Alfredo Chaves, Alto Rio Novo, Baixo Guandu, Domingos Martins, Pancas, Santa Leopoldina, Santa Teresa, São Gabriel da Palha, Vargem Alta e Vila Valério.

De acordo com Davi Barcelos, no primeiro ano a cooperativa teve um faturamento de R$ 500 mil. Agora esse valor está em torno de R$ 5 milhões ao ano.

Gilmar Alvim
Gilmar Alvim é um dos produtores do Espírito Santo que tiram o sustento da plantação de bananas. Crédito: Carlos Alberto Silva

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