> >
Pecuária do futuro no ES é integrada a florestas e tem até boi com chip

Pecuária do futuro no ES é integrada a florestas e tem até boi com chip

Produtores mudam jeito de criar rebanho para atender a mercado que exige venda responsável dos cortes bovinos

Publicado em 5 de setembro de 2024 às 09:53

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Diminuição da emissão de gases do efeito estufa e recuperação de pastagens  são desafios para o setor pecuarista
Diminuição da emissão de gases do efeito estufa e recuperação de pastagens são desafios para o setor pecuarista. (Incaper/Divulgação)

Nas últimas décadas, com o aumento da conscientização acerca dos impactos ambientais da bovinocultura, os criadores de gado têm se adaptado para minimizar os efeitos dessa importante atividade. Desde o pasto em que os animais serão inseridos até o abate, existem formas de tornar o processo de criação mais ecológico.

“Toda vez que eu dou ao animal melhor condição de ambiente e nutrição, ele tem um desempenho maior e emite menos metano por quilo de produto (leite ou carne, por exemplo). Então, quando falamos dessas práticas sustentáveis, estamos falando de minimizar a emissão de carbono de maneira geral, seja CO2, seja metano, sejam outras formas”, destaca o coordenador de Produção Animal do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (incaper), Bernardo Lima.

Em alguns lugares do Brasil, já existem iniciativas que estimulam a compra responsável de gado de corte. Um exemplo foi o movimento chamado de Carne Legal, que aconteceu na Amazônia em 2009, quando grandes frigoríficos da região firmaram Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) comprometendo-se a não comprarem bois de áreas desmatadas.

Mais recentemente, em 2023, começou a ser implementada na região uma tecnologia que permite o rastreamento de bois por meio de brincos e chips, possibilitando que os frigoríficos conheçam a procedência do animal.

Pesquisadores do Espírito Santo trabalham em conjunto com produtores rurais para implementar no Estado práticas que tornam a pecuária menos agressiva ao ambiente.

Bioinsumos

Uma forma de diminuir os produtos químicos na agropecuária é a utilização de bioinsumos, microrganismos que promovem o crescimento de plantas e que atuam para melhorar a fixação e disponibilidade de nutrientes. Assim, também é possível recuperar a qualidade do solo em áreas de pastagem e garantir uma boa nutrição para os animais.

Pesquisador de Solos e Nutrição de Plantas no Incaper, André Guarçoni explica que essa prática pode diminuir o uso de fertilizantes processados industrialmente e até reduzir custos, ao utilizar recursos que não necessitam de importação.

Ele cita uma alternativa que está sendo desenvolvida no Espírito Santo com esse objetivo: “Aqui nós temos muitas rochas ornamentais e sobra uma quantidade grande de resíduos delas, que contêm nutrientes como cálcio, magnésio e potássio. Então, a ideia é usar um bioinsumo para solubilizar esse resíduo e aplicar isso como fertilizante”.

Sistemas de integração

Considerados uma tecnologia agrícola “poupa-terra”, os sistemas de integração combinam diferentes culturas para otimizar uma determinada área de cultivo, diminuindo a necessidade de abertura de novas terras para plantio ou criação de gado. Essa prática compreende quatro sistemas de produção diferentes: integração lavoura-pecuária (ILP), integração lavoura-floresta (ILF), integração pecuária-floresta (IPF) e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).

Luiz Fernando Favarato, engenheiro-agrônomo e pesquisador do Incaper
Luiz Fernando Favarato, engenheiro-agrônomo e pesquisador do Incaper, explica  que sistemas de integração combinam diferentes culturas para otimizar uma determinada área de cultivo . (Divulgação)

O pesquisador do Incaper Luiz Fernando Favarato detalha como funciona um desses sistemas, a integração lavoura-pecuária. “É muito comum cultivar milho e, junto dessa cultura, plantar também uma braquiária (capim). Aí, após a colheita do milho, que demora meses para acontecer, você já tem um pasto pronto para ser utilizado para a criação de gado”, pontua.

Luiz enfatiza que a implementação de sistemas de integração é uma prática sustentável, na medida em que recupera as pastagens, intensifica a produção de gado e contribui para a redução da emissão dos gases de efeito estufa (GEE), principalmente quando são inseridas espécies que sequestram carbono.

Terminação intensiva

Com foco na criação de bovinos destinados ao abate, a prática de terminação intensiva consiste na intensificação do manejo alimentar na fase final da produção do gado, por meio do confinamento, semiconfinamento e do emprego de grãos, farelos, aditivos e coprodutos. O zootecnista Humberto Luiz Wernersbach Filho destaca que a prática é mais sustentável, tanto para o meio ambiente quanto para o produtor.

“Com isso, há maior lotação animal, maior desempenho, maior sequestro de carbono da atmosfera pela pastagem e mais qualidade da carne produzida, pois esta será proveniente de um animal mais jovem (isso confere maciez) e com melhor acabamento de gordura”, observa.

Segundo Humberto, a prática ainda não é tão comum no Espírito Santo, mas se mostra promissora, com projetos em andamento que evidenciam a eficácia desse sistema. “Com acompanhamento técnico, planejamento e produtos de qualidade, é possível produzir de forma mais intensiva, promovendo maior rentabilidade e preservação ambiental”, comenta.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais