Cada vez mais os alimentos orgânicos ganham importância na agricultura do Espírito Santo. Mesmo sendo ainda um nicho pequeno -segundo levantamento do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), há cerca de 400 produtores rurais capixabas registrados no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos do Ministério da Agricultura -, a agricultura orgânica no Estado tem conquistado seu espaço.
As feiras orgânicas, que começaram de forma tímida e hoje estão espalhadas pelas ruas da Grande Vitória e até mesmo dentro dos shoppings, são um reflexo do crescimento do mercado dos alimentos cultivados sem defensivos agrícolas.
E foi durante a pandemia do coronavírus que esse segmento ampliou ainda mais no Espírito Santo. Com muitos produtores realizando a entrega em domicílio de produtos orgânicos, as vendas cresceram 30% nesse período e, para 2022, é esperado um novo aumento de, pelo menos, 10%, estima a coordenadora técnica de Agroecologia do Incaper, Andressa Alves.
“As preocupações dos consumidores com a saúde e as mudanças climáticas são os principais fatores para esse aumento nas vendas. Quando um consumidor compra um produto orgânico, não compra somente um produto mais saudável. Ele também ajuda a proteger o nosso ecossistema e o nosso planeta”, analisa Andressa.
E comprar um produto orgânico diretamente dos agricultores nas feiras orgânicas e agroecológicas, além de fazer com que o cliente conheça e converse com quem produz o alimento que chega a sua mesa, é também uma forma de dar preferência ao pequeno produtor, o que significa um crescimento na economia dessas famílias.
Entre os 400 produtores de orgânicos registrados no Espírito Santo está Antônio Paulo Pimentel Bonjestab, de 30 anos, do Sítio JP Orgânicos.
Ele conta que viu a oportunidade de voltar para a roça e investir em um produto diferenciado e proporcionar mais qualidade de vida para sua família. Atualmente, vende seus produtos diretamente na feira orgânica dentro de um shopping e também fornece tomate orgânico para outros produtores venderem.
“A produção orgânica compensa muito. O produto precisa de um investimento maior para o seu cultivo, mas também tem um valor agregado maior. Os tomates que cultivamos, por exemplo, são cuidados dentro de uma estufa. É preciso ter um equipamento de gotejamento de alta precisão, automatização e estar cuidando da produção todos os dias. Mas é muito gratificante. E quem compra orgânico uma vez sente a diferença do produto, que não tem cheiro de defensivo, não precisa desinfetar para tirar os resquícios”, conta.
Além de garantir o sustento de sua família com a produção orgânica, Bonjestab conta que estão em fase de implementar mais investimentos, como uma agroindústria. Por enquanto, a esposa dele faz pães de produção orgânica, que são comercializados nas feiras e, em breve, planeja investir no cultivo de pimentões coloridos.
PRODUÇÃO SEM VENENO BENEFICIA CONSUMIDORES E TRABALHADOR
Além de contribuir com os ganhos de quem vive do cultivo agrícola, a produção orgânica também significa melhoria das condições de saúde do trabalhador do campo. “O alimento orgânico é importante para toda a cadeia, já que o uso de produtos químicos não faz bem para saúde de quem aplica na produção, não dá segurança para quem consome o alimento e afeta o meio ambiente”, avalia o secretário de Política Agrícola e Meio Ambiente da Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Espírito Santo (Fetaes), José Izidoro Rodrigues.
Parar de utilizar agrotóxicos foi o fator principal que levou a família do produtor rural Joelson Orlando Wruck, do Sítio Cedro, a cultivar alimentos orgânicos. Segundo Wruck, a mãe recebeu um diagnóstico de contaminação por agrotóxicos e um ultimato do médico para deixar de usar os herbicidas, ou a saúde dela poderia piorar. “Foi aquele choque, né? E foi então que a gente decidiu abandonar os agrotóxicos. No começo, foi muito difícil, porque havia poucos produtores. Fomos os primeiros da nossa região a começar com o cultivo de orgânicos. Naquela época não tinha tanta tecnologia, nem tanta informação quanto hoje”, conta.
Isso também trouxe uma nova oportunidade para a família. “A partir desse momento, começamos a ter um produto diferenciado, um café especial, não apenas visando à retirada dos insumos químicos, mas também fazendo a colheita seletiva, na linha da produção de um café de alta qualidade”, diz.
Para garantir a qualidade dos alimentos e impedir uma grande exposição de agricultores e consumidores a produtos tóxicos, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado do Espírito Santo (Crea-ES) faz a verificação de propriedades rurais e profissionais que atuam na área.
“Há 40 anos, éramos importadores de alimentos, hoje exportamos para diversos países e ainda produzimos para consumo próprio. Então, nosso trabalho contribui com essa produtividade. Fazemos fiscalizações com o objetivo de defender a sociedade da exposição a produtos muito tóxicos e proteger também a saúde dos trabalhadores rurais. Buscamos colaborar para a diminuição ou até extinção das contaminações de pessoas que trabalham no campo. Além disso, verificamos o plantio de sementes selecionadas, por exemplo”, explica o presidente do Crea-ES, Jorge Silva.
Tira-dúvidas sobre agricultura orgânica
Qual a diferença entre agricultura orgânica e agroecológica?
Agroecologia é uma ciência que estuda princípios ecológicos para produção de alimentos saudáveis. A agricultura orgânica é uma forma de produção com base ecológica que foi muito difundida no Brasil. Por isso, o termo produto orgânico é utilizado para todo produto produzido seguindo as normas de produção da legislação brasileira. Não há uma diferença na prática e sim de nomenclatura, já que um produto é chamado de agroecológico quando está em fase de transição da agricultura convencional para uma agricultura de base ecológica. Ou seja, ele não recebeu o selo de orgânico porque ainda não está regularizado.
Como é feita a certificação de que um produto é orgânico?
É necessário estar cadastrado no Ministério da Agricultura ou ter uma certificadora contratada para fiscalização do cumprimento das normas da legislação brasileira para se chamar de produto orgânico. Em caso de dúvida, o consumidor pode verificar a presença do selo SisOrg “Produto Orgânico Brasil” ou solicitar ao feirante o certificado de produtor orgânico ou ainda a declaração de Cadastro de Produtor Vinculado ao Organismo de Controle Social (OCS). Esse selo ou essa documentação oferecem ao consumidor uma segurança de que aquele produto é acompanhado e fiscalizado.
Quais os principais produtos da agricultura orgânica/agroecológica no ES?
A maior parte da produção orgânica e agroecológica no Espírito Santo é de agricultores familiares e é caracterizada por diversificação de produtos, sendo que alguns produtores podem chegar a cultivar 100 produtos diferentes. Entre os destaques, há culturas como banana, gengibre, abóbora, mandioca, milho, feijão, tomate, morango, laranja, legumes e verduras, além de plantas alimentícias não convencionais (PANC), como ora-pro-nóbis, maxixe, serralha, beldroega, taioba, entre outras da biodiversidade capixaba, incluindo a aroeira (pimenta-rosa) e jussara (palmito), plantas medicinais e aromáticas.
Qual o destino da produção de orgânicos no ES?
Boa parte da produção é comercializada nas feiras orgânicas e agroecológicas da Grande Vitória e de alguns municípios do interior. Também é comercializado um volume para os mercados institucionais, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Uma parte também é exportada, como é o caso do gengibre orgânico.
Onde estão concentrados os produtores orgânicos?
O município de Santa Maria de Jetibá possui o maior número de agricultores orgânicos (cerca de 130), seguido de Santa Leopoldina (uma média de 50 produtores), Nova Venécia (cerca de 40 produtores) e Cariacica (39 produtores). A maioria é composta de agricultores familiares.
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