O produtor rural Luiz Fernando Favarato, atualmente pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), é um dos capixabas que vêm apostando no sistema de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), uma estratégia de produção ainda desconhecida por muitos, que consiste em plantios consorciados, sucessão ou rotação de culturas da produção agrícola, pecuária e florestal dentro de uma mesma área. Sua propriedade fica em João Neiva.
No Brasil, 80% das propriedades rurais que utilizam o sistema seguem o modelo de lavoura integrada com a pecuária (ILP). As áreas sob o uso da agropecuária no país correspondem a 208.697.177 hectares, sendo que 17.431,533 hectares são de ILPF. No Espírito Santo, somam 1.186,482 e 179.544 hectares, respectivamente (dados de 2020 da Rede ILPF).
Favarato conta que seu primeiro contato com a ILPF foi na faculdade, em Viçosa, Minas Gerais, em 2012, quando trouxe a ideia para seu pai e o incentivou a adotá-la em sua propriedade rural, argumentando ser uma ótima alternativa de renovação de pastagem a um custo mais baixo. “E eu estava certo”, garante. “Nós utilizamos o modelo ILP, que integra na mesma área o componente agrícola e pecuário, consistindo na semeadura direta do milho em consórcio com a brachiaria, uma espécie destinada à forragem nos pastos. São duas sementes trabalhadas ao mesmo tempo. Depois de tudo preparado, é só esperar o milho chegar ao estágio de silagem (a conservação anaeróbica da planta inteira), que, posteriormente, vai servir de alimento para o gado, principalmente em épocas de seca”, explica.
Ele ressalta que, após a silagem, sobra o capim, com aproveitamento do resto da adubação do milho para dar seguimento ao processo. Após 60 dias, o pasto está formado para receber o gado.
Favarato informa que, com esse sistema, ao diluir o valor com a produção de milho, economiza-se bastante com a renovação do pasto. “Além disso, a preservação do meio ambiente, o plantio direto, o preparo mínimo, a diminuição da erosão e uma maior captação de água da chuva, aumentando o nível das nascentes no entorno são alguns dos benefícios.”
Segundo o coordenador técnico de Produção Animal do Incaper, Bernardo Lima Bento de Mello, a ILPF busca otimizar o uso da terra, elevando os patamares de produtividade, diversificando a produção e gerando produtos de qualidade. “Com isso, reduz a pressão sobre a abertura de novas áreas”, observa.
A ILPF, ressalta, pode ser utilizada em diferentes modalidades, combinando dois ou três componentes em um sistema produtivo: ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta - agrossilvipastoril); ILP (integração lavoura-pecuária - agropastoril); IPF (integração pecuária-floresta - silvipastoril) e ILF (integração lavoura-floresta - silviagrícola).
“O sistema proporciona múltiplos usos agropecuários das propriedades rurais, diversificando as atividades produtivas. Entre os benefícios estão o aumento da produção por área; adaptação a todos os tamanhos e perfis de propriedades; facilidade na produção de alimentos e bem-estar para os animais; melhoria da qualidade e conservação dos solos; além de mitigação das emissões de gases do efeito estufa, aumento de renda e da geração de empregos no campo”, garante.
Mas qual o maior potencial do Espírito Santo dentro do sistema? Para Mello, pela ótica da produção animal, são três oportunidades: recuperação de pastagens degradadas com uso da ILP: milho ou sorgo + pasto; produção de alimentos volumosos de corte para a seca em ILP: silagem de milho ou sorgo + pasto; e produção de madeira para usos múltiplos em áreas de pasto em IPF: integração Pecuária-Floresta.
Ele explica que, por meio do projeto estratégico “Fomento da Bovinocultura Sustentável”, o Incaper vem capacitando continuamente um grupo de técnicos multiplicadores e realizando em sua rotina de atendimentos ao público ações que fomentam a adoção da ILPF.
Esse trabalho existe desde 2017, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), nas áreas de pesquisa do Incaper, que em seus diversos experimentos já avaliava a integração na agricultura. E acabou sendo implementado de fato a partir de 2018 em uma fazenda do instituto em Cachoeiro de Itapemirim e outra em Linhares, Unidades Demonstrativas, com foco na divulgação dos modelos ILPF para os proprietários rurais capixabas.
“Em Cachoeiro de Itapemirim, são quatro hectares, sendo um de ILP (pasto + sorgo para silagem) e três hectares de IPF (pasto + eucalipto). Em Linhares, são 12 hectares em três protótipos de quatro hectares cada: pasto convencional, pasto + sorgo e pasto + milho. Essas áreas têm recebido visitas guiadas de agropecuaristas, estudantes e técnicos de ciências agrárias. São verdadeiras salas de aulas a céu aberto.”
Para participarem do processo, os proprietários rurais precisam primeiro capacitar-se e conhecer a estratégia aplicada a muitas unidades de produção. Devem também procurar orientação técnica. “A ILPF requer planejamento e conhecimento diverso sobre os componentes adotados e a interação entre eles, mas é um sistema positivo econômica e ambientalmente”, conclui.
O pesquisador da Embrapa Marcelo Dias Müller reforça que a parceria com o Incaper já existe há bastante tempo com o objetivo de oferecer capacitação técnica sobre a utilização da ILPF. “Sempre foram realizadas pesquisas e ações de transferência de tecnologia para demonstrar os benefícios do sistema. O objetivo é que os proprietários rurais entendam os modelos do sistema e sintam-se seguros ao implementá-los. Essa capacitação é realizada nas duas unidades demonstrativas no Estado.”
Müller salienta que a Rede ILPF também implementou um projeto chamado Caravana ILPF, da qual a Embrapa, sob a sua coordenação, participa. “A primeira etapa, inclusive, foi quando a Suzano apresentou o modelo da Fazenda Três Marias, em Linhares.”
O objetivo da Caravana, segundo ele, é difundir a ILPF e avançar em novas áreas de integração no Brasil, além de realizar diagnósticos nas diversas regiões produtoras do país.
“O sistema, no caso da parceria Incaper/Embrapa, é mais voltado para a agricultura familiar e pequenos e médios proprietários rurais, para áreas montanhosas. Já o da Suzano é voltado para propriedades rurais bem maiores, com áreas grandes de plantio.”
Felipe Martini Santos, gerente técnico da Rede ILPF, conta que, desde a criação da iniciativa, em 2012, vêm sendo realizados esforços para ampliar a adoção da tecnologia, além de estabelecer uma estratégia de monitoramento das áreas de ILPF. “O objetivo é criar uma plataforma de monitoramento, através de imagens de satélites, das áreas que implantaram a ILPF. Isso é importante para balizar as ações do setor, bem como fornecer informações para o governo que utiliza esses números para contabilizar suas metas do Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (ABC+).”
Modalidades:
Consórcio, sucessão e rotação:
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