Com apenas um toque no celular, o produtor tem acesso aos dados da sua propriedade e, de onde estiver, pode acionar a irrigação no plantio. Já a partir de fotos, é possível saber o peso do gado ou descobrir em que local da lavoura uma praga se instalou. Essas são apenas algumas das inúmeras inovações tecnológicas que já estão sendo implementadas pela agropecuária capixaba.
A quatro quilômetros do centro de Pinheiros, no Norte do Estado, um produtor adotou uma tecnologia de irrigação que fez a produtividade da lavoura de conilon aumentar. Depois de três gerações trabalhando com o café robusta, a família do Thiago Orletti substituiu o modelo de pivô central (estrutura suspensa que irriga as plantas) pela tecnologia de precisão do gotejamento monitorado.
Nela, sensores de campo fazem leituras em tempo real da umidade do solo e enviam relatórios para um computador central informando os dados. Com base neles, Thiago consegue monitorar onde e quanto molhar.
“Com ele, os 500 mil pés de café que temos recebem água diretamente no solo. Dessa forma reduzimos o uso de água e de adubo em 25%. Além disso, temos economia na conta de energia”, conta o diretor comercial da Robusta Coffee.
O produtor lembra que, no início, a mudança causou estranheza. “Tinha medo sobre o manejo da irrigação automatizada. Esse é um sistema muito técnico e que requer a criação do hábito de coletar os dados diariamente. Mas fomos aprendendo diariamente e tendo acompanhamento para saber o que fazer para não errar. Hoje já estamos habituados a fazer toda a medição e os benefícios foram excelentes”, comemora.
Uma outra tecnologia que o Thiago quer levar para a propriedade é o sistema capixaba chamado Netbeat. Lançado no início deste ano, a ferramenta concentra todas as funcionalidades do gotejamento monitorado e ainda armazena dados e envia as informações coletadas a uma plataforma on-line.
“Mesmo se estiver fora do país, o dono da propriedade consegue acionar a irrigação da plantação pelo celular e ter acesso a todo o histórico do plantio. Essa transmissão de dados é feita via internet e o sistema pode ser usado para todos os tipos de cultura”, explica Abel Rodrigues da Fonseca, gerente comercial da Hydra Irrigações, representante do Netbeat.
NUTRIÇÃO DO SOLO
Com base na tecnologia de irrigação, Fernando Toretta, proprietário da Irrigafácil Sistemas Automatizados, em Linhares, no Norte capixaba, desenvolveu um sistema - a ser lançado no início do próximo ano - que vai permitir que o agricultor melhore a nutrição das plantas. Os produtores que já usam um sistema de irrigação automatizado poderão acoplar a ele um de fertilização.
“Quando a irrigação for ligada haverá aplicação de fertilizante de forma diluída. Com a planta sendo melhor nutrida é possível aumentar a produção entre 15% e 20% e reduzir o uso de insumos entre 15% e 25%, porque não vai haver desperdício de material”, comenta.
FOTOGRAFIA NO CAMPO
Plantios de café, cana-de-açúcar e abacaxi estão utilizando drones para localizar áreas atingidas por pragas e também para detectar quais partes do plantio precisam receber mais insumos. O engenheiro civil e sócio da Embrageo, Hiago Agostini, explica que, a partir das imagens captadas, é possível identificar qualquer coisa com a precisão de centímetros. “Com isso, podemos ver riscos em folhas de um plantio de café, por exemplo.”
Já na pecuária, uma startup capixaba desenvolveu uma câmera 3D portátil que “pesa” o gado. Quando o animal passa em frente à câmera, ele é fotografado e “pesado”. O uso dessa “balança” evita que os animais se estressem e também permite um monitoramento quase que diário de como os animais estão se desenvolvendo.
“O peso do gado é o principal indicador da pecuária. Hoje ele é obtido uma ou duas vezes por ano, quando o animal vai ser vacinado normalmente. A tecnologia foi desenvolvida e testada aqui no Estado e mais de vinte países estão procurando por ela”, comenta Pedro Mannato, fundador e CEO da startup Olho do Dono.
AGRICULTOR CAPIXABA INVENTA MÁQUINA PARA AJUDAR NA COLHEITA DE PIMENTA
Algumas inovações tecnológicas que têm surgido no campo não são criadas apenas por indústrias e startups. Muitas vezes, os próprios produtores acabam apostando em invenções para atender as necessidades diárias. Esse foi o caso de uma máquina desenvolvida em Anchieta, no Sul do Espírito Santo. Com ela, a extração dos grãos de pimenta se tornou dez vezes mais rápida e o custo de produção diminuiu cerca de 20%.
O responsável pela máquina debulhadora de aroeira é o Edson Luiz Vettoraci, 64 anos. Na propriedade, que fica na região de São Mateus, em Anchieta, ele tem 2 mil pés plantados desde 2017.
No início do ano, quando foi colher as primeiras sementes, percebeu que teria dificuldades quando todos os pés estivessem produzindo. Para colher e separar as sementes de aroeira é preciso bater os galhos da fruta até que ela se solte, trabalho que precisaria ser feito manualmente.
“Eu fiz o plantio de aroeira e vi já na primeira colheita que a mão de obra tinha um custo muito alto. Procurei no mercado, mas não encontrei nenhuma máquina eficiente para me ajudar a extrair os frutos. Então resolvi criar uma”, conta.
Em julho, terminou o protótipo da máquina e começou a fase de testes. Viu que em apenas um dia a máquina conseguia fazer o serviço equivalente ao de 10 pessoas.
“Fiz o protótipo em madeira, aproveitando materiais que já tinha aqui na propriedade. Agora estou fazendo uma máquina em chapas de aço. Comecei o projeto dela há quase dois meses e daqui a pouco já estará pronta para ir a campo”, comenta.
O projeto fez tanto sucesso que o Edson já recebeu encomendas de produtores de aroeira de outros municípios. “Estou aperfeiçoando a máquina. A ideia é fazer outras e vender.”
PRODUTORES VOLTAM À SALA DE AULA
Com a tecnologia cada dia mais presente dentro e fora das porteiras de todo o Espírito Santo, os produtores estão correndo para não ficar pra trás no quesito inovação. De volta às salas de aula, eles buscam aprender mais sobre a tecnologia e como utilizá-la no campo.
Segundo a superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Estado (Senar-ES), Letícia Simões, os produtores estão apostando nas inovações para gerenciar melhor a propriedade e minimizar a ausência de mão de obra. “Hoje há uma procura crescente por cursos sobre novas tecnologias empregadas no campo e como utilizá-las. O produtor quer saber mais sobre elas”, conta.
De acordo com Letícia, entre os cursos mais procurados estão o de drones e o de uso de máquinas. “No caso dos drones, hoje já existe uma legislação específica para operação deles. No curso, eles aprendem a identificar os tipos de drone, aspectos do voo e como ele pode ou não ser usado”, diz.
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Mas a busca pelo conhecimento não se restringe às máquinas e aos equipamentos tecnológicos. O melhoramento genético e as técnicas de plantio também levam os produtores de volta à escola. Eles fazem dias de campo para aprender na prática as inovações nos tratos culturais - como poda e plantio - das espécies cultivadas.
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