Com apenas um toque no celular, o produtor tem acesso aos dados da sua propriedade e, de onde estiver, pode acionar a irrigação no plantio. Já a partir de fotos, é possível saber o peso do gado ou descobrir em que local da lavoura uma praga se instalou. Essas são apenas algumas das inúmeras inovações tecnológicas que já estão sendo implementadas pela agropecuária capixaba.
A quatro quilômetros do centro de Pinheiros, no Norte do Estado, um produtor adotou uma tecnologia de irrigação que fez a produtividade da lavoura de conilon aumentar. Depois de três gerações trabalhando com o café robusta, a família do Thiago Orletti substituiu o modelo de pivô central (estrutura suspensa que irriga as plantas) pela tecnologia de precisão do gotejamento monitorado.
Nela, sensores de campo fazem leituras em tempo real da umidade do solo e enviam relatórios para um computador central informando os dados. Com base neles, Thiago consegue monitorar onde e quanto molhar.
“Com ele, os 500 mil pés de café que temos recebem água diretamente no solo. Dessa forma reduzimos o uso de água e de adubo em 25%. Além disso, temos economia na conta de energia”, conta o diretor comercial da Robusta Coffee.
![Tecnologia de precisão para irrigação das lavouras. Crédito: Dibulgação/Hydra Irrigações](https://midias.agazeta.com.br/2019/10/18/tecnologia-de-precisao-para-irrigacao-das-lavouras-80508-article.jpg)
O produtor lembra que, no início, a mudança causou estranheza. “Tinha medo sobre o manejo da irrigação automatizada. Esse é um sistema muito técnico e que requer a criação do hábito de coletar os dados diariamente. Mas fomos aprendendo diariamente e tendo acompanhamento para saber o que fazer para não errar. Hoje já estamos habituados a fazer toda a medição e os benefícios foram excelentes”, comemora.
Uma outra tecnologia que o Thiago quer levar para a propriedade é o sistema capixaba chamado Netbeat. Lançado no início deste ano, a ferramenta concentra todas as funcionalidades do gotejamento monitorado e ainda armazena dados e envia as informações coletadas a uma plataforma on-line.
“Mesmo se estiver fora do país, o dono da propriedade consegue acionar a irrigação da plantação pelo celular e ter acesso a todo o histórico do plantio. Essa transmissão de dados é feita via internet e o sistema pode ser usado para todos os tipos de cultura”, explica Abel Rodrigues da Fonseca, gerente comercial da Hydra Irrigações, representante do Netbeat.
![Plantio de café que usa tecnologias de irrigação de precisão. Crédito: Divulgação/Robusca Coffee](https://midias.agazeta.com.br/2019/10/18/plantio-de-cafe-que-usa-tecnologias-de-irrigacao-de-precisao-80509-article.jpeg)
NUTRIÇÃO DO SOLO
Com base na tecnologia de irrigação, Fernando Toretta, proprietário da Irrigafácil Sistemas Automatizados, em Linhares, no Norte capixaba, desenvolveu um sistema - a ser lançado no início do próximo ano - que vai permitir que o agricultor melhore a nutrição das plantas. Os produtores que já usam um sistema de irrigação automatizado poderão acoplar a ele um de fertilização.
“Quando a irrigação for ligada haverá aplicação de fertilizante de forma diluída. Com a planta sendo melhor nutrida é possível aumentar a produção entre 15% e 20% e reduzir o uso de insumos entre 15% e 25%, porque não vai haver desperdício de material”, comenta.
FOTOGRAFIA NO CAMPO
Plantios de café, cana-de-açúcar e abacaxi estão utilizando drones para localizar áreas atingidas por pragas e também para detectar quais partes do plantio precisam receber mais insumos. O engenheiro civil e sócio da Embrageo, Hiago Agostini, explica que, a partir das imagens captadas, é possível identificar qualquer coisa com a precisão de centímetros. “Com isso, podemos ver riscos em folhas de um plantio de café, por exemplo.”
![Hiago Agostini usando drone que monitora plantações. Crédito: Divulgação/Embrageo](https://midias.agazeta.com.br/2019/10/18/hiago-agostini-usando-drone-que-monitora-plantacoes-80510-article.jpg)
Já na pecuária, uma startup capixaba desenvolveu uma câmera 3D portátil que “pesa” o gado. Quando o animal passa em frente à câmera, ele é fotografado e “pesado”. O uso dessa “balança” evita que os animais se estressem e também permite um monitoramento quase que diário de como os animais estão se desenvolvendo.
“O peso do gado é o principal indicador da pecuária. Hoje ele é obtido uma ou duas vezes por ano, quando o animal vai ser vacinado normalmente. A tecnologia foi desenvolvida e testada aqui no Estado e mais de vinte países estão procurando por ela”, comenta Pedro Mannato, fundador e CEO da startup Olho do Dono.
![Pedro Mannato fundador da startup que "pesa" o gado a partir de fotos. Crédito: Divulgação/Olho do Dono](https://midias.agazeta.com.br/2019/10/18/pedro-mannato-fundador-da-startup-que-pesa-o-gado-a-partir-de-fotos-80507-article.jpg)
AGRICULTOR CAPIXABA INVENTA MÁQUINA PARA AJUDAR NA COLHEITA DE PIMENTA
Algumas inovações tecnológicas que têm surgido no campo não são criadas apenas por indústrias e startups. Muitas vezes, os próprios produtores acabam apostando em invenções para atender as necessidades diárias. Esse foi o caso de uma máquina desenvolvida em Anchieta, no Sul do Espírito Santo. Com ela, a extração dos grãos de pimenta se tornou dez vezes mais rápida e o custo de produção diminuiu cerca de 20%.
O responsável pela máquina debulhadora de aroeira é o Edson Luiz Vettoraci, 64 anos. Na propriedade, que fica na região de São Mateus, em Anchieta, ele tem 2 mil pés plantados desde 2017.
![Edson Luiz Vettoraci inventou uma máquina que reduz o trabalho na colheita de pimenta. Crédito: Secom Cachoeiro de Itapemirim](https://midias.agazeta.com.br/2019/10/18/edson-luiz-vettoraci-inventou-uma-maquina-que-reduz-o-trabalho-na-colheita-de-pimenta-80511-article.jpg)
No início do ano, quando foi colher as primeiras sementes, percebeu que teria dificuldades quando todos os pés estivessem produzindo. Para colher e separar as sementes de aroeira é preciso bater os galhos da fruta até que ela se solte, trabalho que precisaria ser feito manualmente.
“Eu fiz o plantio de aroeira e vi já na primeira colheita que a mão de obra tinha um custo muito alto. Procurei no mercado, mas não encontrei nenhuma máquina eficiente para me ajudar a extrair os frutos. Então resolvi criar uma”, conta.
Em julho, terminou o protótipo da máquina e começou a fase de testes. Viu que em apenas um dia a máquina conseguia fazer o serviço equivalente ao de 10 pessoas.
“Fiz o protótipo em madeira, aproveitando materiais que já tinha aqui na propriedade. Agora estou fazendo uma máquina em chapas de aço. Comecei o projeto dela há quase dois meses e daqui a pouco já estará pronta para ir a campo”, comenta.
O projeto fez tanto sucesso que o Edson já recebeu encomendas de produtores de aroeira de outros municípios. “Estou aperfeiçoando a máquina. A ideia é fazer outras e vender.”
PRODUTORES VOLTAM À SALA DE AULA
Com a tecnologia cada dia mais presente dentro e fora das porteiras de todo o Espírito Santo, os produtores estão correndo para não ficar pra trás no quesito inovação. De volta às salas de aula, eles buscam aprender mais sobre a tecnologia e como utilizá-la no campo.
Segundo a superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Estado (Senar-ES), Letícia Simões, os produtores estão apostando nas inovações para gerenciar melhor a propriedade e minimizar a ausência de mão de obra. “Hoje há uma procura crescente por cursos sobre novas tecnologias empregadas no campo e como utilizá-las. O produtor quer saber mais sobre elas”, conta.
De acordo com Letícia, entre os cursos mais procurados estão o de drones e o de uso de máquinas. “No caso dos drones, hoje já existe uma legislação específica para operação deles. No curso, eles aprendem a identificar os tipos de drone, aspectos do voo e como ele pode ou não ser usado”, diz.
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Mas a busca pelo conhecimento não se restringe às máquinas e aos equipamentos tecnológicos. O melhoramento genético e as técnicas de plantio também levam os produtores de volta à escola. Eles fazem dias de campo para aprender na prática as inovações nos tratos culturais - como poda e plantio - das espécies cultivadas.
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