De grão em grão, a cada colheita, os produtores de café foram superando obstáculos e rompendo fronteiras. Todo esse empenho dos homens do campo deu ao Espírito Santo o título de maior produtor de conilon e o segundo maior produtor de café do Brasil.
Além do reconhecimento alcançado pela quantidade, a qualidade do café do Estado tem conquistado admiradores em todo o mundo.
O conilon é a variedade mais cultivada, mas é o arábica que caiu no gosto do mercado internacional. Não por acaso, o desenvolvimento desses cafés especiais tem sido trabalhado no Estado há pelo menos 20 anos.
Segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), a alta qualidade chega a agregar até 30% a mais no preço final do café, que é vendido para empresas que beneficiam o produto.
Entre os principais mercados estão Japão, países da Escandinávia, Alemanha e Estados Unidos. “São lugares no mundo onde é possível comprar o café capixaba nas prateleiras do supermercado”, afirma o presidente do Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV), Márcio Cândido Ferreira.
Ele destaca que, atualmente, o mercado valoriza a sustentabilidade e exige rastreabilidade dos produtos. “O consumidor mundial quer saber a origem do café e o que é feito para o desenvolvimento da região”, acrescenta.
Segundo Ferreira, está em implantação uma nova tecnologia que vai permitir rastreabilidade ainda melhor para os cafés especiais do Espírito Santo.
A tecnologia, que deve avançar até 2023, consiste em fornecer um QR Code na embalagem do produto, o que permitirá acessar não apenas informações sobre o cultivo do café, mas também fazer uma visita virtual à propriedade onde são cultivados os grãos.
Além do sucesso do arábica, o conilon também tem se destacado. De acordo com o degustador de cafés e extensionista do Incaper Tassio da Silva de Souza, dos 30 melhores cafés do país em 2021, 12 saíram do Estado.
“O conilon é um café importante para a maioria das famílias do Espírito Santo. Tem chegado ao mercado como uma bebida de qualidade. Por conta da tecnologia desenvolvida para o cultivo dos grãos especiais do tipo arábica, o conilon deve chegar muito mais rápido ao topo. Podemos aguardar, para os próximos anos, um salto de melhoria nas lavouras de conilon”, avalia o pesquisador do Incaper.
O café é, há décadas, um dos principais produtos agrícolas do Espírito Santo. Segundo o Painel Agro, do Incaper, em 2020, a cafeicultura correspondeu a 386 mil toneladas de área colhida e R$ 5,7 bilhões de valor de produção.
“No Caparaó e nas montanhas capixabas, cerca de 90% da renda das famílias que vivem nessas regiões são provenientes do cultivo de cafés especiais. O café tem grande importância socioeconômica, pois emprega muita gente”, avalia o engenheiro agrônomo do Incaper Fabiano Tristão Alixandre.
A região destaca-se por conta dos microclimas dentro das propriedades, que são responsáveis pelo cultivo de cafés com perfis sensoriais diferenciados. Foram os investimentos e a tecnologia que tornaram o Espírito Santo conhecido como o local de origem de cafés exóticos e especiais, tanto no Brasil quanto no mundo, concorrendo com produtos já consagrados do continente africano ou da América Central.
Pesquisas realizadas em parceria com o Incaper, empresas e entidades ajudaram a definir formas corretas de cultivo, manejo das mudas e de armazenagem do produto.
“Dependendo do mercado, uma saca de café arábica especial pode chegar a
R$ 21 mil. Esse mercado tem crescido de 15% a 20% ao ano, mas é preciso evoluir sempre, buscando novas tecnologias, cultivos e agregando valores, como sustentabilidade. Outro fator tem sido a valorização da mulher. Muitas empresas compradoras já estão pedindo café com protagonismo feminino”, aponta Alixandre.
RECONHECIMENTO QUE SÓ O CAFEZINHO CAPIXABA TEM
O Espírito Santo é o primeiro Estado no país a adquirir o selo de Indicação Geográfica (IG) na categoria de Indicação de Procedência (IP) pela produção do café conilon, que abrange todo o território capixaba. A solicitação foi feita pela Federação dos Cafés do Espírito Santo (Fecafés) e concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).
Segundo o coordenador de cafeicultura do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Abraão Carlos Verdin, o reconhecimento é uma forma de proteção coletiva e de promover essa riqueza capixaba.
“É também um instrumento de preservação da biodiversidade, do conhecimento, dos recursos naturais e humanos. Contribui para a manutenção da qualidade do café, para a economia local e para os cafeicultores. A IG promove a herança histórico-cultural única do café conilon capixaba”, observa.
Além do conilon, o Espírito Santo também tem IG de outras duas localidades. Uma delas é o arábica produzido na região do Caparaó, na categoria Denominação de Origem (DO). Segundo o extensionista do Escritório Local de Desenvolvimento Rural (ELDR) do Incaper de Guaçuí, Maxwell Assis, o instituto trabalha para a melhoria da qualidade desse café há mais de 15 anos.
“Os cafés especiais produzidos no Caparaó têm qualidade diferenciada. São desenvolvidos pela agricultura familiar, com respeito ao meio ambiente e diversos requisitos técnicos. E o selo abraça todas essas questões. Essa conquista é muito relevante e tem um caráter de diferenciação”, destaca.
Outra IG de Denominação de Origem foi concedida aos municípios das montanhas do Espírito Santo, que contempla os cafés produzidos em Afonso Cláudio, Alfredo Chaves, Brejetuba, Castelo, Conceição do Castelo, Domingos Martins, Iconha, Itaguaçu, Itarana, Marechal Floriano, Rio Novo do Sul, Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa, Santa Leopoldina, Vargem Alta e Venda Nova do Imigrante.
Uma das conclusões é de que as temperaturas amenas das montanhas do Espírito Santo, que variam de 18 a 22ºC, mais as altitudes entre 500 a 1.400 metros, além da pluviosidade média anual entre 1.000 e 1.600 milímetros, são fatores que possibilitam melhores condições para que a planta sintetize substâncias importantes para maior expressão dos aromas e sabores dos cafés específicos da região.
PODER FEMININO NA LAVOURA
Seguindo a cartilha do protagonismo feminino, a Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul) criou o Póde Mulheres, café plantado e colhido por mulheres, que também são incluídas em ações sociais e de empoderamento.
“A aceitação tem sido maravilhosa. É um café mais suave, floral, processado do início ao fim por mulheres. Ele tem muita procura e é um dos nossos principais produtos. Além do empoderamento feminino, a cooperativa também realiza outras ações, ajudando projetos sociais e entidades, como o Lar Frei Pedro, onde fazemos doação mensal de pó de café e um prêmio anual em dinheiro referente à venda de sacas de café”, conta a encarregada de produção e vendas da Cafesul, Graziele Machado Carrari.
Atualmente, a cooperativa é tricampeã nacional do melhor café conilon do Brasil e bicampeã estadual. Outro destaque é o selo “fair trade”, reconhecido internacionalmente para empresas e organizações que realizam ações sociais e de sustentabilidade, buscando o desenvolvimento das regiões onde é cultivado o grão. Este é o quarto ano que a Cafesul recebe o reconhecimento de melhor café “fair trade”.z
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